sexta-feira, 8 de junho de 2012

Na cama com…

Duas ocasiões voltaram a centrar a minha atenção no poder de fixação da agenda (agenda setting, para os técnicos) dos meios de comunicação de massas.

O primeiro e mais recente foi a partida da Selecção Nacional. Não é de hoje o poder do futebol e, por isso, não estranho (até aprecio) a cobertura detalhada do que se passa no mundo do “pontapé na bola”. Porém, o que vimos na quarta-feira foi de tirar o fôlego; era Hugo Almeida de saco às costas, Coentrão a dar autógrafos, não sei bem quem a comprar revistas e Ronaldo a tratar o Presidente da República por “você” e a selar a conversa com um eloquente “tá?”, entre muitos outros detalhes… Com franqueza, cheguei a recear que fossem com Postiga ao quarto-de-banho, que transmitissem a última noite de Bruno Alves ou que mostrassem Paulo Bento a lavar os dentes ou João Pereira a bater em alguém.

Quero com isto referir-me à cupidez com que câmaras e microfones seguiram os jogadores e às horas de directos em que, a dado passo, já nada havia a dizer senão quantos minutos de atraso tinha o voo e a carga que ia nos bancos do avião, obrigando os comentadores a justificarem o recibo, tecendo asserções sobre o vácuo noticioso que sugava as emissões.

Aliás, prova da busca incessante de notícias de que enfermam empresas que, mais do que informar, visam vender mercadoria (seja ela sobre a forma de “notícia” ou de algo que os anunciantes queiram colocar no mercado) – facto bem atestado pelo Eng. Belmiro de Azevedo, “dono” do Público, que, a propósito do “Caso Relvas”, comentou que o que queria “era que o jornal desse dinheiro” (cito de cor) – é uma notícia de segunda-feira, no mesmo jornal, que dizia que um dos juízes do processo contra Beivik (o autor do massacre de Utoya) tinha sido apanhado por um jornal a jogar uma “paciência” no computador. Não é que seja correcto faze-lo, mas fica por perceber a importância de o noticiar dado o risco de descredibilizar quem tem que sentenciar um monstro, favorecendo este. Contornos nebulosos de que, aliás e a meu ver, se revestiu o tempo de antena que, salvo erro, a televisão pública deu aos golpistas da Guiné Bissau para insultar Portugal e os seus estadistas… Que ética presidiu a semelhante falta de sentido de Estado?

O segundo episódio que me deixa pensativo é o já referido caso que, alegadamente, envolve Miguel Relvas e uma jornalista. Estando impedido de fazer juízos muito detalhados, concentro-me naquilo que me parece a interpretação enviesada que alguns jornalistas e meios de comunicação me parecem fazer dos limites a que a sua profissão e a sua missão, tal como as outras, estão sujeitas. Começa o espanto pelo facto de ser terem sucedido dias de notícias a massacrar o Ministro sem que, ao invés do que se pede aos políticos, se tenha posto a questão probatória. Parece que, grosso modo, bastou a acusação vir dos media para ser irrefutável.

Em segundo lugar, fica por perceber a pressão que o Ministro teria exercido. Vem a saber-se que os eventuais detalhes privados que Relvas, alegadamente (o próprio desmentiu-o categoricamente), teria ameaçado divulgar teriam a ver com o facto (também desmentido) de que a jornalista viveria com um membro da oposição. Mesmo que tal “ingenuidade” (pouco típica de um político muito experiente como aquele de que falamos) pudesse ter existido, continuo a não descortinar o elemento de pressão! O marido da oposição?! Imaginando que a própria não tivesse vergonhado consorte se tal assim fosse, seria achar que os seus leitores, em particular, e os portugueses, em geral, são demasiado idiotas para passar a entender que o Público se guia por agendas pessoais…

Já que não há auto-regulação eficaz, devia abrir-se o debate sobre a libertinagem de informação que ocupou o espaço da liberdade homónima.

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