quarta-feira, 6 de junho de 2012

Liberdade e Liberalismo

Nunca os termos «liberalismo e desemprego» estiveram tão intimamente ligados um ao outro que nestes últimos tempos. 

Mas na realidade é uma historia que data de há muitos anos. O liberalismo impôs-se durante a década de 80 e acabou por ser hegemónico, pelo menos na sociedade ocidental, na década de 90. 

Desde então, as consequências da implantação do liberalismo são visíveis em todos os sectores da sociedade, ao nível económico e social. Não existe nenhuma esfera que tenha escapado a esta revolução que acabou com o mundo que conhecíamos à saída da guerra. 

O liberalismo actual ou neo liberalismo não é humano, não é democrático, ele transformou tudo numa mercadoria, num vasto mercado, criando uma sociedade onde tudo é negociável; ele participou de uma maneira extraordinária à destruição dos valores colectivos e dos elos sociais. 

E quando se pensa que o termo “liberal” é uma herança dos séculos XVIII e XIX, que qualificava as ideias de luta por “mais liberdades” ( de expressão, económica, política e hábitos) , face à aristocracia e à moral católica rígida, podemos dizer que houve uma real usurpação da conotação positiva do liberalismo , que tendo lutado para melhorar a sociedade e estender as liberdades e a democracia política, está hoje na origem de todos os excessos.

A mesma filosofia económica que mergulhou o mundo no caos em 1929, voltou ao comando e aplica agora a mesma teoria dos anos 80 e 90, com Thatcher e Reagan: luta contra a inflação, contra os défices públicos, contra as subvenções do Estado, contra os direitos alfandegários, isto é, livre-câmbio e finança prioritários sobre a produção. 

A construção da União Europeia propôs e impôs medidas económicas e outras, que retiraram aos Estados todo e qualquer poder significativo decisivo:- livre circulação dos capitais e investimentos nocivos, paraísos fiscais, deslocações de empresas, abertura das fronteiras e perda de soberania nacional, monetária entre outros ( Euro ).

Nos anos 80 , todas as barreiras de protecção que impediam o capitalismo de descarrilar foram, uma a uma, desmanteladas. Assim, quando a Europa adoptou o Tratado de Maastricht que tornava obrigatória a economia de mercado, a livre concorrência e a não intervenção do Estado, a França e o resto dos países desenvolvidos mergulharam num mundo novo, um universo estranho onde tudo seria mercadoria...

A solução liberal impôs-se : preeminência do capital sobre o trabalho, o indivíduo sobre o colectivo, valores ou vantagens sociais adquiridas e código do trabalho contestados, etc. A economia de mercado é a única admitida. 

Estamos agora portanto muito longe da luta por “mais liberdades”. 

A ideia de liberdade implica a possibilidade de “escolha” de uma ou outra solução para viver na sociedade. Hoje o indivíduo não escolhe a sua vida. Ele sujeita-se! 

Se decisões urgentes não são tomadas para mudar de sistema económico, ou pelo menos de medidas de regulação severas, permitindo ao Estado de recuperar a sua função original, vamos ouvir dentro em breve dobrar os sinos nas cidades e aldeias desse vasto mundo.

E ninguém perguntará porquê , porque todos sabem que eles dobrarão pela LIBERDADE. Sim, porque sem trabalho não há liberdade. 

 Freitas Pereira

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