quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Muito mais do que a Soraia...

Excepcionalmente nos comentários a filmes, incluo um texto para reconhecer que, partindo com preconceito para a sala de cinema (pensei que, ao jeito de "O Crime do Padre Amaro", o filme era Soraia Chaves nua e pouco mais), acabei por ver um filme muito bem interpretado (a dita Soraia incluída) e realizado. Acresce que ainda vivia o trauma do paupérrimo "Corrupçã0"...
Desde logo, permite que as pessoas se resumam à gargalhada pelo lado burlesco de alguns episódios e/ou leiam o lado oculto da política do qual muitos falam, mas sobre o qual raramente se arranjam provas válidas, sobretudo sobre os protagonistas maiores da vida pública.

De resto, temos de tudo:
  • A deliciosa ilustração da carência de meios de que, regular e justamente, se queixa a Polícia Judiciária (quando os dois inspectores estão a reparar algo no motor do carro).
  • A mala com a gratificação ao autarca corrompido, em numerário. O mesmo autarca, aliás, que fora fotografado com a Call Girl contratada para o efeito (dos árbitros aos políticos, cada um tem os seus vícios...).
  • As regras de vida da dita meretriz, que incluem não levar identificação e não permitir paixão nas prestações de serviço.
  • A distinção feita pelo intermediário (Joaquim de Almeida) entre chantagem e suborno, indicando que prefere a última modalidade de "negociação" pelo facto de gerar cumplicidade.
  • O telefonema do nosso "Jaquim" - supõe-se que para a cúpula política - para que a insvestigação seja parada por alegadas irregularidades processuais.
  • E tantos detalhes magníficos como, designadamente, o facto de o realizador (António Pedro Vasconcelos) fazer uma aparição fugaz (a lembrar a engraçada "mania" de Alfred Hitchcock) e a tirada de Soraia, prostituta de luxo, explicando ao modesto e ainda inocente autarca (Nicolau Breyner) que (cito de cor) "respiro luxo e transpiro Perrier"...

Desde "Camarate" que não via, em Portugal, um filme de tese tão realista. Recomendo, pois verão que "ainda há lodo" na nossa política. Esperemos não ter que, um dia destes, concluir que "só há lodo" na nossa vida pública, agora que os senadores se aposentam e que as novas gerações podem aceitar beijar o anel...

5 comentários:

Dri disse...

Eu concordo plenamente. Foi ver o filme e torno a reafirmar que é dos melhores filmes portugueses que vi ate entao. é um filme com acção, enredo e acima de tudo muito actual.

Dulce disse...

Tal como tu, Gonçalo, também eu não tenho qualquer problema em assumir que gostei bastante deste filme. É inegável que o cinema português peca, muitas das vezes, pela falta de qualidade. Mas há excepções. E ouso dizer que Call Girl é, sem sombra de dúvida, uma excepção.
Pelo elenco de luxo; pelo retrato (não sei se fiel, mas desconfio que sim) do país; pela oscilação constante entre o humor negro, a ironia sublime e as verdades mais absolutas.
Há muito que não via um filme no cinema que ‘interagisse’ tanto com os espectadores. E é incontestável que isso não se deveu somente aos atributos de Soraia Chaves...

Bruno disse...

Estive para destacar este filme no meu blogue pessoal. Pode dizer-se que o resto do filme faz jus à sua principal atracção, Soraia Chaves: é um filme que "marcha" muito bem ;)

Bruno disse...

Estava a escrever o comentário anterior e a televisão para ali a funcionar para o boneco... até que, quando carrego no botão para publicar ouço alguém dizer a palavra "Capitão". Coincidências...

Gonçalo Capitão disse...

Um abraço, meu Coronel ;)