Os meandros da política internacional, além de cínicos, são, de facto, algo obscuros.
Se ficam por demonstrar algumas das reais motivações (ou da gritante impreparação, em alternativa) que levaram a que os EUA nos persuadissem de que a intervenção no Iraque era, de um ponto de vista democrático e humanitário, “trigo limpo, farinha Amparo”, é bem mais chocante a guerra suja e os métodos sangrentos que movem certas organizações, na esperança de que, aterrorizando os eleitorados ocidentais, possam inibir os seus governantes.
O paradigma civilizacional a que nos guindámos é de tal modo garantístico de um ponto de vista dos direitos humanos, que aqueles cuja doutrina bebe na ignorância dos peões e na miséria dos povos percebem que podem tirar o olho e o dente sem que paguem em igual medida, já que isso poria em causa a nossa alegada superioridade (a mesma em nome da qual procuramos exportar regimes políticos).
Assim, bem vistas as coisas, estamos num círculo vicioso: não reagimos “a doer” porque não é esse o nosso modo de ver o mundo (e ainda bem), e ao não o fazermos sujeitamo-nos a ter vidas inocentes dilaceradas, famílias destruídas e sociedades amedrontadas.
Solução?! Se tivesse a pedra filosofal para este caso, provavelmente, seria o próximo secretário-geral da ONU. Todavia, creio que uma das primeiras vias será fazer com que as populações de onde provêm estes assassinos lhes retirem qualquer apoio.
Como?! Retirar o auxílio a tiranos (Saddam era um dos meninos bonitos dos EUA), ainda que não sejam comunistas, será um bom começo. Devemos apoiar regimes que provem ser democráticos e respeitadores dos direitos humanos, pois os vizinhos do lado cedo perceberão o que fazer para serem beneficiados pela ajuda do hemisfério Norte.
Depois, há que assegurar que a ajuda não serve para comprar jactos presidenciais, armas ou sumptuosidades para as oligarquias reinantes. Mesmo no caso dos abastados regimes do Médio Oriente pode fazer-se algo: quando não observem os padrões humanitários mínimos, a relação deve ser meramente comercial, e sempre na óptica de diminuir a dependência energética.
Não há perdão para o que o passou em Londres (como em Madrid, Nova Iorque, Bali e por aí fora), mas só com o fim da hipocrisia é que poderemos com legitimidade acrescida punir sem dó nem piedade quem opte pelo terror. Até lá, devemos faze-lo, mas algumas consciências pesarão um pouco…
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