sábado, 9 de julho de 2005

"Diferenças culturais" II

Os meandros da política internacional, além de cínicos, são, de facto, algo obscuros.

Se ficam por demonstrar algumas das reais motivações (ou da gritante impreparação, em alternativa) que levaram a que os EUA nos persuadissem de que a intervenção no Iraque era, de um ponto de vista democrático e humanitário, “trigo limpo, farinha Amparo”, é bem mais chocante a guerra suja e os métodos sangrentos que movem certas organizações, na esperança de que, aterrorizando os eleitorados ocidentais, possam inibir os seus governantes.

O paradigma civilizacional a que nos guindámos é de tal modo garantístico de um ponto de vista dos direitos humanos, que aqueles cuja doutrina bebe na ignorância dos peões e na miséria dos povos percebem que podem tirar o olho e o dente sem que paguem em igual medida, já que isso poria em causa a nossa alegada superioridade (a mesma em nome da qual procuramos exportar regimes políticos).

Assim, bem vistas as coisas, estamos num círculo vicioso: não reagimos “a doer” porque não é esse o nosso modo de ver o mundo (e ainda bem), e ao não o fazermos sujeitamo-nos a ter vidas inocentes dilaceradas, famílias destruídas e sociedades amedrontadas.

Solução?! Se tivesse a pedra filosofal para este caso, provavelmente, seria o próximo secretário-geral da ONU. Todavia, creio que uma das primeiras vias será fazer com que as populações de onde provêm estes assassinos lhes retirem qualquer apoio.

Como?! Retirar o auxílio a tiranos (Saddam era um dos meninos bonitos dos EUA), ainda que não sejam comunistas, será um bom começo. Devemos apoiar regimes que provem ser democráticos e respeitadores dos direitos humanos, pois os vizinhos do lado cedo perceberão o que fazer para serem beneficiados pela ajuda do hemisfério Norte.

Depois, há que assegurar que a ajuda não serve para comprar jactos presidenciais, armas ou sumptuosidades para as oligarquias reinantes. Mesmo no caso dos abastados regimes do Médio Oriente pode fazer-se algo: quando não observem os padrões humanitários mínimos, a relação deve ser meramente comercial, e sempre na óptica de diminuir a dependência energética.

Não há perdão para o que o passou em Londres (como em Madrid, Nova Iorque, Bali e por aí fora), mas só com o fim da hipocrisia é que poderemos com legitimidade acrescida punir sem dó nem piedade quem opte pelo terror. Até lá, devemos faze-lo, mas algumas consciências pesarão um pouco…

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