terça-feira, 21 de setembro de 2010

"Hardcore - 1.º escalão"

Acaba por ser bom ser cidadão de um País que nos fornece tantas pilhérias… O problema é quando as coisas têm menos piada, por, apesar de ainda caírem no ridículo, versarem motivos sérios.

Começando pelo mais negro dos caricatos eventos do nosso Portugal, temos que tentar perceber uma ou outra lateralidade do “Processo Casa Pia”; deixemos de lado os anos que demorou o processo, quem devia ser acusado e não foi (a acreditar no que se vai ouvindo e lendo) e outras coisas já debatidas até à exaustão.

Assim, assisti interessado à defesa de Carlos Cruz em conferência de imprensa, logo após o conhecimento do acórdão que o condenou a pena de prisão. Sinceramente, não ouso beliscar a sua presumível inocência (coisa para durar anos, já que se não antevê para breve o trânsito em julgado da sentença) ou esquecer o seu passado de grande comunicador.

Todavia, por óbvia limitação própria não compreendo, designadamente, a parte da alocução em que Cruz alega que foi envolvido no Caso por ser conveniente ter uma figura pública envolvida para credibilizar o processo. Menos ainda compreendo a nossa cada vez mais empobrecida comunicação social, uma vez que não era preciso sequer recorrer à Wikipedia (lamentavelmente e à míngua de boa “bagagem” cultural, fonte de informação de muitos neófitos), para perguntar algo como: assumindo que isso é verdade (necessidade de uma figura pública), por que escolheram Carlos Cruz e não Júlio Isidro, João Baião, Malato, Fernando Mendes, José Alberto Carvalho ou qualquer outro jornalista mais em voga do que o retirado Cruz?

Um ingénuo espectador (como eu) responderia: por só haver indícios/prova contra o acusado… Mas parece que a culpa é dos moços…

Admitamos agora, por um instante, que Carlos Cruz foi a figura pública falsamente envolvida por outras razões que não a participação nos hediondos crimes pelos quais foi condenado. Convinha, então, que explicasse aos mortais em que teias negociais ou solidariedades ocultas se envolvera para que merecesse ser alvo de tão horrível conspiração…

Uso o exemplo de Carlos Cruz não por ser o mais mediático, mas sim dos mais faladores. Não por ter algum preconceito contra ele, mas sim para exemplificar coisas mal explicadas. Não por acreditar que os demais condenados são inocentes, mas por suspeitar de que não se apanharam todos os culpados.

Se os envolvidos tanto sabem sobre o quão curta ficou a acusação, por que razão só falam depois de saberem que foram condenados? Não seria de interesse público que acusassem quem sabem que também participou, logo no início? E se sabem ou suspeitam de que há mais gente envolvida, ainda que apenas insinuando (a suprema cobardia, diria eu), como podem alegar que nada tiveram a ver com o caso?

Enfim… Era para rir, se não fosse tão grave!... Como se usava no cinema e na canção dos GNR é um filme “Hardcore – 1.º escalão”.

2 comentários:

Luis Melo disse...

Caro Gonçalo, sobre este assunto escrevi:

Ao contrário de muita gente – principalmente da esmagadora maioria dos comentadores da comunicação dita social – não tenho qualquer problema em afirmar que Carlos Cruz (CC) é culpado. Perguntam-me se conheço o processo para o afirmar? Não, não conheço! Pura e simplesmente acredito na justiça, nos juízes, nos tribunais. Aliás, mais motivos tenho para acreditar que CC é culpado depois de todo o circo que ele montou nos últimos dias à volta do processo.

Inicialmente CC referiu que queria manter reserva para não prejudicar a investigação, e que confiava plenamente na Justiça. Disse que a verdade acabaria por vir à tona e ele seria ilibado. Ora, saída a sentença que dá como provados 2 crimes (O que não invalida que tenha cometido outros. Simplesmente não foram provados) vem CC aproveitar-se da sua influência nos média para descredibilizar os tribunais. Diga-se que neste caso a RTP, televisão pública (!!), tem tido uma atitude vergonhosa de favorecimento descarado.

Se CC estivesse de facto inocente conseguiria prová-lo. Ou, no mínimo, a acusação não conseguiria provar os crimes pelos quais CC foi acusado. Como Sá Fernandes não tem factos para provar a inocência do seu constituinte, ou factos para desmontar a acusação e as provas, vem agora ameaçar lançar 200 nomes na praça pública. A isto chama-se “Desespero”.

Repare-se que CC disse estarem entre os 200, vários políticos e ex-políticos, jogadores e ex-jogadores de futebol, apresentadores, etc. Salientou que há várias figuras públicas. Ou seja, CC quer meter medo, principalmente aos políticos (que sabe terem influência sobre a Justiça… atente-se ao caso Freeport e Face Oculta) para tentar, a reboque deles, conseguir que o caso seja “bem embrulhado e deitado ao fundo do mar”.

Com esta atitude CC vai apenas demonstrar o quanto é incoerente, mal intencionado e cobarde. Vai fazer exactamente aquilo de que se queixa. Ou seja, lançar para a confusão nomes que não têm ligação ao caso, e outros que se provou não terem nada que ver com o assunto. Vai lançar na lama figuras públicas inocentes que provavelmente verão o seu bom nome beliscado, e quiçá vidas e carreiras destruídas.

Gonçalo Capitão disse...

E escreveste muito bem, Luís! :)