Um dos assuntos do dia (a não publicação de um artigo de Mário Crespo, no Jornal de Notícias), em si mesmo, não é novo… Estou seguro de que o Amigo Leitor já se lembrou de mais duas ou três situações desta sorte (como, por exemplo, a que lançou para a ribalta um discreto assessor presidencial), sendo altura de passar aos corolários de que me julgo capaz…
Em primeiro lugar - parece óbvio, mas vale a pena recordá-lo – tal turbulência mostra, cristalinamente, a força e a relevância dos media. Não são ingénuas as vozes que começaram a falar, de há anos a esta parte, num novo poder quase insindicável, que faz e desfaz vidas e carreiras (isto sem falar dos blogues, onde se desgraçam reputações, sem fundamento).
Depois, é preciso não esquecer que as próprias vedetas mediáticas estão bem cônscias da sua relevância e que estamos no país em que qualquer avançado (no futebol ou na vida pública) sabe que atirando-se para o chão ao menor “bafo” do adversário, haverá, com certeza, penálti.
No entanto, seria simplista subsumir o caso do artigo de Mário Crespo (disponível, designadamente, no sítio do Instituto Sá Carneiro) a estes comentários genéricos. A meu ver (visto que a minha Avó me proibiu de escrever “na minha óptica”…), a análise requer duas passadas: a primeira para sublinhar que o Director do JN invocou, como razão da não publicação, o facto de tratar-se de um artigo baseado em conversas escutadas num restaurante (que dariam azo a contraditório; seria um caso de “diz que disse”) e relatadas via correio electrónico (fonte rejeitada, pelos vistos).
Ora bem, cumpre dizer que muito me espantaria se o JN (o segundo diário mais lido em Portugal) se atemorizasse com a ira eventual do Primeiro-Ministro, embora já tenha visto de tudo... Por um lado, são várias as crónicas contundentes de Mário Crespo que já publicara naquele jornal (muitas visando José Sócrates) e, por outro lado, creio que haveria, caso assim fosse, um caso de temor reverencial patológico da parte do Director do JN, Pereira Leite.
Contudo, se, ao invés do que fica dito, algo se demonstrar, não apenas seria o regime democrático que estaria em causa, como existe uma instituição a quem incumbiria o dever de agir: o Presidente da República. Na minha opinião, por bem menos, o Presidente Sampaio ofereceu “um bilhete de ida” ao Dr. Santana Lopes.
O segundo aspecto do “caso” Mário Crespo que gostaria de olhar tem a ver com o facto de me parecer que mencionar “gente que ouviu o Primeiro-Ministro” como fonte é um eufemismo, sobretudo se considerarmos que, alegadamente, José Sócrates terá proferido os irados comentários em conversa com o director de programas da SIC, onde trabalha Mário Crespo. A grande questão é separar o desabafo da pressão, algo que só o interlocutor poderá fazer (isto deixando de lado aquilo que pode ter sido uma imprudência do Primeiro-Ministro, mormente tendo em conta os casos mais recentes, como o de Manuela Moura Guedes e outros).
Concluindo, uma certeza tenho eu: esta permanente torrente de suspeições e de confusões envolvendo media, partidos e Governo não deve ajudar nem à participação dos cidadãos, nem aos ratings da República e coisas do género. Torna-se cansativo e desanimador ver a vida a piorar e os políticos e jornalistas a servirem-nos intrigas como alimento!...
1 comentário:
"A meu ver", essa última certeza em jeito de conclusão resume tudo muito bem! Cumprimentos*
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