segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Há lodo no Avante!

A ideia não é nova, mas para o Lodo é como se fosse! No passado fim-de-semana (4-6 de Setembro), os colaboradores Diogo Gaspar e João Morgado formaram uma delegação à 33ª Festa do Avante. Partilhe-se o testemunho!

Passado o Pragal já se identificam, na carruagem, os companheiros da luta. Destino: Foros da Amora, onde um autocarro faz o transporte (devidamente subsidiado) até à Quinta da Atalaia. A instalação no parque de campismo não escapa à burokracia. Mas o que importa? Estamos na festa onde todos são iguais. O dress kode uniformizado das camaradas é prova disso.

A noite cai e com ela A Carvalhesa! No Palco 25 de Abril, imagens de Trás-os-Montes ao Algarve pairam nos ecrãs. Punhos cerrados, bandeiras no ar e o povo a dançar... diz que é uma espécie de ritual. Pouco depois chegará a primeira edição da Grande Gala de Ópera, tido como o momento mais significativo desta Sexta-Feira (dia 4). E é uma sessão de luxo: confirme-o o reportório, à atenção dos especialistas da casa. Mas nem só as obras (não encenadas) justificam a assistência. Aqui não há plateia, nem camarotes e muito menos “galinheiro” – haverá sala mais democrática? Além disso, atestamos a boa complementaridade que parece existir entre a marijuana e as melhores árias – enfim, como nunca pôde sentir em São Carlos!

Finda a sessão e antes que o recinto feche, arranjamos tempo para uma ida à Área Internacional. Lá se encontram unidos os partidos comunistas de todo o mundo. É, por isso, uma boa oportunidade para conhecer a gastronomia da luta. A saber: FRETILIM – 1 euro vale uma espetada e o tradicional molho sassate –; Associação Portuguesa de Amizade e Cooperação Iúri Gagárin (Antiga Associação Portugal-URSS) – a Ração Kocmoc é um expoente do Internacionalismo Gastronómico: 3 cl de vodka russa acompanham a fatia de pão preto com uma rodela de pepino –; Associação Partido Comunista de Cuba – aconselham-se os mojitos, com trave a hortelã de um qualquer campo colectivizado.


E por falar em colectivização, já é Sábado (dia 5) e o leitor pode acompanhar o pequeno-almoço com a apresentação do livro A reforma agrária é necessária, de António Gervásio, com a chancela das Edições Avante. E já que aqui estamos, continuemos para o Pavilhão Central. Das três exposições patentes a mostra 35 anos da Revolução, Abril de novo para Portugal com futuro «valoriza a luta e a resistência ao fascismo – quando aliás muitos o querem branquear» (assim reza o programa). E continua «Quando muitos dos visitantes da Festa já nasceram depois de 1974, aqui ficará uma oportunidade […] para revisitar a nossa história» – pena que a maioria da audiência passe em muito a idade da revolução. Uma camarada mais velha emociona-se.

Diz-nos uma militante não identificada que já acompanha o Avante! desde os tempos da FIL. Alto da Ajuda, depois. E a seguir participou no peditório dos 150 mil contos que (em 1990) compraram a Atalaia, na altura ainda com um palacete e zona agrícola. Fala de uma ida à União Soviética (em 1978), de onde saiu triste com a corrupção, visível aos olhos de qualquer um - «Não foi para aquilo que tinha vindo o Aurora». Ainda assim não esconde as saudades da força do bloco comunista: tempos em que «a Área Internacional da Festa era o dobro e nunca faltava marisco». Burguesice, dizemos nós! Ficam algumas máximas: «os cubanos exportam saúde, os americanos exportam armas»; «a falta de crítica cá dentro é uma invenção da comunicação social», «o BE pode andar à vontade, desde que não roube as medidas aos outros e vá para os jornais anunciar»; «se quiser aderir à verdadeira causa humana e justa, já sabe…».

Domingo (dia 6). No Palco da Solidariedade realiza-se o debate Capitalismo, repressão e militarismo. Depois do comício com Jerónimo de Sousa e transmitidas por esta ordem Avante, Camarada, A Internacional, o Hino de Portugal e A Carvalhesa, segue-se o jantar nos pavilhões do Alentejo. As filas levam-nos a optar pelo Bar de Portalegre e, consequentemente, pela bifana em pão caseiro (pago com cartão multibanco). Sentamo-nos em mesa familiar – «ó filho, faz um favor ao pai, vai ali àquele camarada pedir a mostarda» – enquanto as cantigas da Brigada 14 de Janeiro (de Elvas), já enchem o ouvido: «Ao preço a que estão as casas quem aluga tem uma mina / Ai, ai, minha barraca clandestina!». Trocamos os alentejanos por uma Teresa Salgueiro em versão popular. Local: Pavilhão 1º de Maio. Para a despedida ficará David Fonseca, e uma passagem inevitável pelo Bar da Marinha Grande.

E a delegação voltará, camaradas (quinquenalmente).

Expropriada. Na placa pode lêr-se «Devolvam os meus ténis, ok?»
Komércio tradicional. Uma montra bem alinhada.

Brinde do COMECON. Ideal para depois da Ração Cokmoc.

3 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

Valha-nos Deus! Decreto a vossa partida para o Gulag!!!

Dulce disse...

Xiiii..! Se não teria sido muito mais profícuo terem ingressado num dos espectáculos da tour Modelo/Tony Carreira!!!

Estou a ver que os ares de África vos fizeram mal ;) E para quando as prometidas reportagens??

Diogo N. Gaspar disse...

Teria sido interessante a Tour Modelo/Tony Carreira, mais não fosse para analisar eventuais semelhanças com o Avante! Quanto às reportagens de África, acho que não sabemos bem por onde começar...