quinta-feira, 16 de abril de 2009

Coisas que não consigo compreender


Por que é que anda tudo embevecido com este pássaro azul de seu nome Twitter (chilro, em português), que até é - reconheça-se - amoroso? Já não bastava o big brother em que vivemos, onde com a ajuda das novas tecnologias tudo se sabe sobre nós e sobre os passos que damos, e agora a vontade de expor a privacidade parte dos próprios.

O repto deste serviço é "What are you doing?" e os usuários, do indivíduo comum à celebridade, não se acanham nas respostas. Em 140 caracteres podem revelar ao mundo que estão a assoar o nariz enquanto o semáforo não cai para verde, no escritório a mandar o chefe a um determinado sítio, a lavar os dentes na casa de banho da vizinha do 3º Dt ou coisas de semelhante relevância.

E não vale a pena vir com o argumento do "até é útil na partilha de informação e na discussão de temas de interesse" porque não vejo que conteúdo possa ser debatido nuns míseros 140 caracteres.

O mais curioso é que grande parte dos twitter addicts são pessoas famosas, as mesmas que passam a vidinha a queixar-se de intromissões na sua vida privada e abusos dos paparazzi. No fundo, parece-me que não resistiram a mais um veículo condutor de dramas pessoais, paixões, emoções e sentimentos vários que sabem despertar e acicatar a curiosidade e interesse daqueles que os admiram.

Afinal de contas, todos nos queixamos da invasão que por vezes ocorre no nosso espacinho e todos suspiramos num tom saudosista pelo recato "do antigamente", mas não resistimos a dar uso a um instrumento que não tem outro propósito senão apregoar aos sete ventos aquilo que estamos a fazer a cada momento. Vá-se lá perceber...

Eu, como não compreendo, contento-me com o velhinho blogger, onde partilho com moderação aquilo que considero ser partilhável com outros (conhecidos ou nem tanto...) e onde discuto sem limites de caracteres aquilo que bem me aprouver.

4 comentários:

Daniel Sousa disse...

Se ainda não percebeste a beleza do twitter, mais cedo ou mais tarde vais perceber.
Mas deixo-te umas dicas:
- Num blog acabas por falar em monologo no twitter existe dialogo.
Mas nem é isso o mais importante, penso que a maneira como podemos ter acesso a informação em tempo real vindo de várias fontes e com vários angulo faz do twitter, um google news, "Humano" e a maior fonte de dados em tempo real,já organizada e filtrada pelo proprios utilizadores.

Dulce disse...

Sinceramente, dada a overdose de informação que marca os dias de hoje parece-me dispensável - no meu caso pessoal - que me bombardeiem minuto-a-minuto com informação cujas fontes desconheço ou não vão de encontro àquilo que realmente me interessa.

Hoje em dia leio o jornal da 2º feira à 5ª... e se já me vejo obrigada a dispensar informação - é humanamente impossível absorver tudo o que acontece pelo Mundo fora - mais facilmente dispenso conhecer o quotidiano dos meus semelhantes... razão pela qual continuo na minha casmurrice de rejeitar serviços como o twitter, que na minha opinião só vieram ajudar a estimular a faceta de voyer que existe em cada um de nós...

Gonçalo Capitão disse...

Dulce

Embora saiba que o cepticismo é humano, no caso desta nova plataforma está, de facto, em jogo algo que, há muito, precoupa os mais reputados politólogos: o empobrecimento da mensagem.

Ou seja sabemos muito mais, mas nada a fundo.

Comunicamos com mais gente, mas sem seguir uma metanarrativa, sem apelar à abstracção que diferenciou o homo sapiens.

Muitos ficam eufóricos, mas apenas até à novidade seguinte, provando o quão dsiruptiva é a realidade presente.

Não creio que o Twitter faça mal à vida cívica, mas ~dar-lhe mais saúde não irá, aposto

luis cirilo disse...

Cara Dulce:
Totalmente de acordo consigo.
Já basta o que basta e eu,definitivamente,não me apetece viver em função de telemóveis,computadores,redes sociais e afins.
Tal como você fico-me pelo blog.
Onde o diálogo existe e sem a necessidade de ser comprimido a x caracteres.