Vários casos me conduzem ao pessimismo que, reconheço, tem pautado muito
do olhar que sobre a pátria lanço, depois do meu regresso.
Desde logo, o de Miguel Alves,
ex-Presidente da Câmara Municipal de Caminha e agora ex(aleluia)-Secretário de
Estado Adjunto do Dr. Costa. Não sei o que mais aprecio na estrambólica novela:
se o pagamento do vigésimo quinto ano de renda de um arrendamento inexistente
por falta do que arrendar; se a apreciação curricular da empresa e do
empresário apostados em tornar os sonhos em filhós (porque em realidade não
seria de certeza), a qual, segundo o nosso visionário político, teria feito uma
obra virtual de alta qualidade (Guarda) e conseguiu convencê-lo da excelência
de outra que só daí a um ano seria idealizada e proposta (Alfandega da Fé); se,
por fim, a ligeireza com que se sangram 300 mil euros de portugueses que,
presentemente, cortam na alimentação por falta de dinheiro…
Entre a vocação profética de Ricardo
Moutinho (o fazedor e cobrador de sonhos) e o amor ao serviço público do Dr.
Alves (só saiu quase que arrancado), a falta de decoro é o maior traço
simbiótico que descortino.
Em segundo lugar, acho poética a
declaração de inocência da Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,
justificando a atribuição de fundos da Fundação para a Ciência e Tecnologia
(FCT) a uma associação administrada pelo marido; a mais de jurar não ter
influência sobre a FCT, Elvira Fortunato disse mesmo que o marido não podia ver
perigar a sua vida profissional (aparentemente, dependente de fundos públicos)
pela circunstância de a mulher ser ministra. Talvez… Contudo, esta podia ter
recusado aquele cargo, sabendo que era casada com alguém que, cedo ou tarde
pediria fundos a um organismo sob sua tutela. E, dando de barato que não influiu
directamente na decisão, gostava que cada um dos Leitores se pusesse na pele de
membro da FCT, sabendo que entrou um pedido de apoio do marido da “Chefe”.
Dirão os socialistas mais ferozes: eles não sabiam! Respondo eu: sim, sim, e eu
sou o Lula da Silva…
Ser Ministro deve, aliás, ser muito
bom… O Ministro da Saúde toma posse ainda como sócio de empresa de consultoria
da área da… (adivinhe lá)… isso mesmo, da Saúde! E se estava em dissolução,
como alega, a verdade é que estar moribundo é diferente de estar morto e era
soberbo que o titular da pasta o soubesse…
Sem caracteres disponíveis para
voltar a Ana Abrunhosa e ao “Ministro Supercola” (a Pedro Nuno ninguém o
despega do lugar), concluo com algo que me parece evidente: com excepção “em
fase de presunção de inocência” do primeiro caso (que parece ter barbas…), até
posso aceitar que os políticos em causa não se apropriaram de fundos, nem
atropelaram conscientemente qualquer norma fundamental. Mas deveria existir o
pudor de não influenciarem coisas para si próprios ou para a família; deveria a
ética republicana de que o PS se faz parecer dono dizer-lhes que para lá da
legalidade está a transparência e o rigor pedidos pela “res publica”; deveria o bom senso ensinar o significado de vergonha
na cara, em suma.