quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Podre

 

Vários casos me conduzem ao pessimismo que, reconheço, tem pautado muito do olhar que sobre a pátria lanço, depois do meu regresso.

            Desde logo, o de Miguel Alves, ex-Presidente da Câmara Municipal de Caminha e agora ex(aleluia)-Secretário de Estado Adjunto do Dr. Costa. Não sei o que mais aprecio na estrambólica novela: se o pagamento do vigésimo quinto ano de renda de um arrendamento inexistente por falta do que arrendar; se a apreciação curricular da empresa e do empresário apostados em tornar os sonhos em filhós (porque em realidade não seria de certeza), a qual, segundo o nosso visionário político, teria feito uma obra virtual de alta qualidade (Guarda) e conseguiu convencê-lo da excelência de outra que só daí a um ano seria idealizada e proposta (Alfandega da Fé); se, por fim, a ligeireza com que se sangram 300 mil euros de portugueses que, presentemente, cortam na alimentação por falta de dinheiro…

            Entre a vocação profética de Ricardo Moutinho (o fazedor e cobrador de sonhos) e o amor ao serviço público do Dr. Alves (só saiu quase que arrancado), a falta de decoro é o maior traço simbiótico que descortino.

            Em segundo lugar, acho poética a declaração de inocência da Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, justificando a atribuição de fundos da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) a uma associação administrada pelo marido; a mais de jurar não ter influência sobre a FCT, Elvira Fortunato disse mesmo que o marido não podia ver perigar a sua vida profissional (aparentemente, dependente de fundos públicos) pela circunstância de a mulher ser ministra. Talvez… Contudo, esta podia ter recusado aquele cargo, sabendo que era casada com alguém que, cedo ou tarde pediria fundos a um organismo sob sua tutela. E, dando de barato que não influiu directamente na decisão, gostava que cada um dos Leitores se pusesse na pele de membro da FCT, sabendo que entrou um pedido de apoio do marido da “Chefe”. Dirão os socialistas mais ferozes: eles não sabiam! Respondo eu: sim, sim, e eu sou o Lula da Silva…

            Ser Ministro deve, aliás, ser muito bom… O Ministro da Saúde toma posse ainda como sócio de empresa de consultoria da área da… (adivinhe lá)… isso mesmo, da Saúde! E se estava em dissolução, como alega, a verdade é que estar moribundo é diferente de estar morto e era soberbo que o titular da pasta o soubesse…

            Sem caracteres disponíveis para voltar a Ana Abrunhosa e ao “Ministro Supercola” (a Pedro Nuno ninguém o despega do lugar), concluo com algo que me parece evidente: com excepção “em fase de presunção de inocência” do primeiro caso (que parece ter barbas…), até posso aceitar que os políticos em causa não se apropriaram de fundos, nem atropelaram conscientemente qualquer norma fundamental. Mas deveria existir o pudor de não influenciarem coisas para si próprios ou para a família; deveria a ética republicana de que o PS se faz parecer dono dizer-lhes que para lá da legalidade está a transparência e o rigor pedidos pela “res publica”; deveria o bom senso ensinar o significado de vergonha na cara, em suma.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Começa a fazer sentido

 

        Passando vários anos fora do País, aproveitei para meditar nas questões que muitos de nós (mormente os que, como eu, não têm actividade política) consideramos promessas incumpridas da democracia, que chegou em 1974. Designadamente, atormenta-me não conseguir respostas para algumas questões basilares como sejam a do atraso recorrente em relação a países que nos seguiam na escala de desenvolvimento e a do agravamento grosseiro das desigualdades sociais, nivelando por baixo.

            Tendo dado o meu modestíssimo contributo para uma iniciativa que, espero, conhecerá a luz do dia num futuro próximo, fico, ainda assim, com a sensação de que a explicação reside, em parte não despicienda, em nós próprios enquanto nação. Dito isto, o, hoje em dia, obrigatório aviso de salvaguarda: não me imagino a ser outra coisa que não português e, mais do que provavelmente, terei de me incluir em todos os “pecadilhos” referidos “infra”.

            Usufruindo da possibilidade de a confrontar com a vivência de outras “culturas” (nenhuma delas perfeita, mas todas diferentes), fico com a sensação de que o nosso fado será sempre triste, enquanto não nos envolvermos num processo de mudança de mentalidade ou, como se diz agora, de “chip”. Desde logo, creio que temos a tendência para invejar o sucesso alheio, perdendo preciosos momentos de aprofundamento das nossas virtudes. Se o vizinho compra um carro melhor ou muda para uma urbanização mais cara; se o colega é promovido ou ganha umas coroas extra com uma regalia; se um companheiro (ou camarada, para os praticantes da modalidade) alcança um lugar de destaque – se todas ou alguma destas coisas tiver(em) lugar, dizia –, a tentação de muitos de nós será pensar e até verbalizar uma ideia que atribua esse avanço a amiguismo, “lambe-botismo”, “cunhas”, sorte ou até mesmo a suposições sobre actividades a que, no contexto, atribuímos maior grau de perversidade (atoarda que, pese embora os progressos na igualdade de género, continua a ser “cuspida” contra as nossas concidadãs).

            Ao mesmo passo, esta mesma “dor de cotovelo” alimenta rancores que nos distraem, nos debilitam e nos tornam descrentes.

            E é neste último ponto que entronca uma terceira linha de pensamento: parece-me que não acreditamos no mérito. Em vez de crermos que, trabalhando como os que têm êxito, podemos chegar a outros patamares, preferimos refugiar-nos na azia mencionada. E o pior é que, muitas vezes, temos razão e o sucesso anda divorciado do mérito.

            Neste particular e em quarto lugar, não vale sequer a pena (outras das nossas pechas) passar as culpas para “os tipos do governo” (embora várias vezes apeteça e outras tantas seja merecido), pois eles saem do meio de nós. Enquanto não melhorarmos como todo, pouca será a excelência das partes.

            Por fim, uma última nota: em vez de acreditarmos que podemos ser excelentes quando vemos exemplos de excepcionalidade como o de Cristiano Ronaldo e outros, preferimos conservar o nosso obscurantismo medieval e acreditar em homens providenciais. Assim, será difícil…

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Entre pouca e sem vergonha

Salvo o devido respeito pelas pessoas envolvidas, o recente anúncio por parte do

Primeiro-Ministro de que tenciona privatizar a TAP envolveu um momento inicial de

contenção para evitar grosserias e enxovalhos.


Então o antipatriótico negócio de Passos Coelho que, imagine-se, ousara

privatizar a companhia de bandeira agora é bom?!


Foram precisos milhares de milhões de euros para que Costa e o Ministro-que-

não-quer-perder-o-lugar Santos percebessem que a gestão pública não só pratica preços

caríssimos (exemplos disso mesmo, a Madeira e a Venezuela) como acumula prejuízos

colossais?!


Que seria se fosse um governo de base PSD a gastar rios de dinheiro para chegar

à conclusão de que a decisão do executivo anterior estava correcta? Qualquer coisa

menor do que um mar de demissões não calaria a nossa esquerda, guardiã da moral que

é ou julga ser.


Traz isto também à memória a Caixa Geral de Depósitos, ainda na senda da saga

“socialismo lava mais branco” (salvo seja, referindo-me à habilidade de comunicação):

de que me serve a mim português um banco público com comissões iguais ou mais

caras do que os outros bancos?! A menos que… Se calhar já devia ter percebido que

cada vez menos contamos. É tudo macro e o micro que seja devidamente entretido,

confundido e esmagado pela circunstância, ainda para mais quando os seus gestores se

deixam mansamente desalojar e produzem lucros interessantes para os novos inquilinos.

Com franqueza, o que mais me espanta é a apatia da maioria da população,

provavelmente sufocada pelas contas que não consegue pagar e encandeada pelas

esmolas que o Terreiro do Paço vai lançando seja sob a forma de uns pós de reforma

que iludem os cortes vindouros, seja como ruido imperceptível sobre a factura

energética que só entenderemos quando doer a valer.


Temo que já não haja vergonha… Se a houvesse, logo desde o início, Passos

Coelho (que venceu) não teria sido destronado pelo PS com apoio do BE e do PCP; o

mesmo PS que foge do Chega como o diabo da cruz, sem referir que os nossos

camaradas apoiaram e continuam a apoiar os maiores facínoras à face da Terra.


É este o despudor que leva a aceitar a continuidade de uma Ministra (de cuja

honestidade legal e financeira não duvido) cujo marido concorreu a fundos tutelados ou

administrados pelo seu ministério. Legal? Com certeza. Ético? Eu não aceitaria, mas

depois deste rol, vejo que a minha moral é medieval. Siga a festa, pois,

inequivocamente, gostamos de ser levados por sorrisos e esmolas.

terça-feira, 26 de julho de 2022

Buraco de cor que não posso mencionar

Retomando a “conversa” de há um mês e dado o insano fanatismo a que chegou

o novo fascismo ético, nada melhor do que repetir o mesmo aviso ao “consumidor”:

“para evitar o fácil e já clássico insulto dos camaradas (…): sempre fui e serei contra

qualquer discriminação baseada na orientação sexual, cor da pele, religião ou qualquer

outra característica ou escolha usada para nos dividir artificialmente”. Aliás, a minha

vida pessoal atesta bem estes dizeres.


Dito isto, acompanho com visível angústia as novas ditaduras do “correcto” e do

“moderno” e tudo aquilo que deixou de poder dizer-se. Por exemplo, chegámos a um tal

grau de intolerância que, antes de titular as linhas de hoje com o verdadeiro buraco

negro civilizacional para o qual caminhamos cantando e rindo, ponderei bem sobre os

tons a dar ao dito fenómeno cósmico dado que alguém dirá um dia que Carl Sagan e

Arthur C. Clarke eram racistas. E para a época vindoura não sei bem se não será melhor

dizer que o equipamento da minha Briosa é “afrodescendente”… Obviamente que

brinco com coisas sérias e que satirizo o tema, pois creio ser bem diferente combater o

preconceito (algo que defendo ferozmente) de entrar em paranoias e rever a História.

E eis o ponto: tenho orgulho de que Portugal tenha usado e comercializado

escravos? Nunca. Mas era ou não algo imposto pela força dos impérios e tolerado por

muitos receptores, nessa época? Sim, era. E mais entendo que deve explicar-se nas

escolas e nas televisões para que jamais se torne aceitável.


Aquilo que não compro e não calo é aceitar que toda a nossa História se resume

à escravatura e que não trouxemos incontáveis benefícios ao Mundo com as nossas

navegações; e esse é precisamente o momento que vivemos, já que minorias ruidosas

apoiadas por alguns jornalistas ideologicamente tendenciosos e com cultura de pacotilha

acobardaram a grande maioria que tem uma visão equilibrada da nossa gloriosa

existência como pátria e como nação. Já quase só nos deixam exaltar o nosso

patriotismo quando ganha a Selecção e mesmo assim é melhor darmos graças a Deus

(ademais da preferência pessoal a menção é dedicada aos fascistas do ateísmo

obrigatório) por ter sido de Éder o golo da vitória no Europeu…


Que a palermice revisionista seja bandeira dos que, sob a capa da inclusão,

querem mandar em todos e dos jornalistas libertários da “universidade da Wikipédia”

até percebo e prometo dar-lhes guerra sem quartel. Que essas posições venham de um

deputado que tinha por intelectualmente saudável - que propõe a destruição do

magnífico Padrão dos Descobrimento - ou de uma empresa prestigiada como a HBO –

que chegou a propor a suspensão de uma obra-prima como “E tudo o vento levou” – já

me preocupa a valer.


Perseguirei todos os que apoucam os seus semelhantes por diferenças tão idiotas

como o tom de pele, pois não tem sentido, é maléfico, constitui um crime e é asqueroso.

Contudo jamais negarei a minha História, destruirei os seus símbolos ou apoiarei

ditadorzecos de opereta mascarados de anjos laicos.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Profetas e anarcas

 

                Começo a sentir que a era presente não acomoda moderados e pragmáticos, dado que alguns dos debates mais recentes nos espalmam entre extremos, qual fino hamburger entre intermináveis camadas de aros de cebola, alface, “pickles”, molhos e pão. Dito de outra forma, a substância do debate social cada vez menos tem espaço para o que realmente interessa: o consenso democraticamente estabelecido.

            Peguemos em dois casos de sinal oposto: as recentes tomadas de posição sobre o aborto nos EUA e no Brasil e aquilo que me começa a parecer proselitismo no que toca ao activismo LGBTQIA+.

            No primeiro caso, uma sensação de neofascismo passou diante do meu discernimento: o Supremo Tribunal dos EUA reverteu a liberdade das mulheres para abortar e uma magistrada brasileira, acompanhada pelo “Pastor” Bolsonaro, defendeu que uma menina de 11 anos que havia sido violada não deveria abortar (a bem da verdade, diga-se que a gravidez era avançada), não obstante ser essa uma situação prevista na lei penal. Recuando a posição antiga que defendi em declaração de voto no Parlamento, num mundo ideal não haveria aborto. O problema é que sempre houve e haverá e, enquanto se não criam suficientes condições sociais para que, fora das situações que a lei dos países civilizados já prevê, tal não suceda, prefiro que quem realmente queira abortar (e admito sem rebuço tentativas de dissuasão, antes da decisão definitiva) o possa fazer em segurança sanitária e com dignidade.

            Entendo, por isso, que as presentes tomadas de posição, estando nós em 2022, representam um retrocesso do ponto de vista da autodeterminação e, sobretudo, da possibilidade de tratar diferentemente situações que não são iguais. Cresce nas Américas e na Europa a legião de “hooligans” de gravata que presumem poder decidir por todos o que, por vezes, só pode ser avaliado em relação a cada um.

            Por outro lado, ao mesmo tempo que uns se ocupam a impor uma ordem, outros visam cumprir o sonho trotskista, marxista e maoista de destruir a ordem moral ocidental (falo em sentido ético geral e não necessariamente religioso), algo que, a meu ver, é uma das várias explicações para o sucesso dos trogloditas mencionados supra.

            Para evitar o fácil e já clássico insulto dos camaradas, comecemos por uma declaração de princípios: sempre fui e serei contra qualquer discriminação baseada na orientação sexual, cor da pele, religião ou qualquer outra característica ou escolha usada para nos dividir artificialmente. Contudo e ao mesmo passo, creio que, respeitada a diferença, tampouco pode a minoria querer adquirir fictício poder maioritário e começar a comandar os demais.

            A minha dúvida – que por razão de espaço, continuarei em próxima ocasião – é, neste particular, se não estaremos a passar do combate ao preconceito ao proselitismo, como se fosse chique, moderno, intelectual ou socialmente mais avançado ter, por exemplo quanto ao sexo, preferências alternativas. O clamor quanto ao novo surto de varíola pode servir-nos de ponto de partida.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

A involução das espécies

 

            Depois de Charles ter teorizado as suas origens, outro Darwin, o Núñez, coloca as espécies no centro das nossas atenções, neste caso, como na generalidade do planeta (da guerra ao clima), no sentido da degradação ou da involução da espécie humana.

            Nada se leia aqui contra o moço que, pelo que vi e dizem, tem realmente jeito para o pontapé-na-bola.

            E, ainda antes da ordem do dia, “mea culpa”, com certeza. Sou dos que “consome” avidamente partidas de futebol, sendo que, até Fevereiro último (altura em que regressei ao País), como não existia a pouca vergonha lusa de distribuir os jogos por três empresas de televisão sem oferecer um pacote de desporto que as reúna (depois digam que somos mais desenvolvidos do que Brasil, Venezuela e África do Sul…), via quase tudo o que podia. Dito de outra maneira, com excepção destes meses desde que regressei, alimentei a cornucópia de dinheiro em que se converteu o futebol actual.

            Esse é o drama que vive, por exemplo, a Briosa: falta dinheiro e influência no Centro de Portugal. Essa também a razão pela qual, cada vez mais, será difícil uma vitória portuguesa na Liga dos Campeões; mesmo com o fracasso (temporário, adivinho) da criação da super liga europeia (num dos últimos assomos de romantismo tolerados aos adeptos), a tendência é multiplicar o número de jogos, aumentando as receitas e diminuindo a importância de um dia feliz dos adversários de menor dimensão (mais frequente na Taça dos Campeões, quando eram rondas eliminatórias), bem como restringir os ditos adversários a empresas da mesma dimensão (sim, empresas; não foi lapso).

            Dinheiro é tudo o que está em jogo para as fábricas de futebol e seus patrocinadores, conduzindo o desporto à exacerbação mediática e os dirigentes a declarações ridículas e poses histriónicas, entrando ainda pela casa adentro comentadores televisivos espumando e ostentando uma fúria quase símia que se torna tanto mais impressionante quando, conhecendo eu um ou dois, são profissionais com responsabilidades elevadas na “vida real” e passam a imagem de cidadãos cordatos.

            Tudo me soa a escalada e os mais recentes episódios de confrontos entre adeptos – seja ou não causa directa determinada partida de futebol – são o corolário lógico da orgia de dinheiro, obscuridade e desmando, continuando a manchar o desporto e a esperança de termos uma sociedade decente.

            Darwin – voltando ao princípio – é um jovem que segue um sonho e tem talento inequívoco, nada havendo a apontar-lhe. O que sim me despertou a atenção foi a coincidência dos nomes e o retrocesso que representa, num mundo repleto de carências e problemas de sustentabilidade, falarmos de 75 a 100 milhões de euros pelo contrato de uma só pessoa. O futebol já não é o desporto do povo; horas e dias das partidas, preços das assinaturas televisivas, dos bilhetes e das camisolas, e as decisões fulcrais são factores para CEOs, agentes e outra gente que não almoça ao nosso lado.

quinta-feira, 24 de março de 2022

Escrita invisível com tinta laranja

                Chegado há pouco, confesso que estava curioso com o processo sucessório no PSD, depois do fragoroso fracasso do projecto de Rui Rio.

            Sobre o tema havia já lamentado o processo de trituração de talentos em que, há décadas, embarcou o partido, sendo muito difícil a mentes verdadeiramente livres contornarem as exigências de “chefes de blocos” que toleram com dificuldade individualidades sem prévia genuflexão.

            Claro que, como em tudo, há excepções quer do lado das personalidades bem-sucedidas quer do lado do “aparelho”, mas registo, no entanto, alguma rarefacção nas opções; onde antes havia fartura de opções de dimensão nacional e legiões de apoiantes conhecidos, hoje o leitor lutará arduamente para nomear meia-dúzia de rostos que ladeiem os protocandidatos.

            E neste ponto – a popularidade dos rostos perfilados – reside um aparente paradoxo: ao mesmo tempo que lamento a falta de personalidades conhecidas e reconhecidas na disputa (mormente se nos lembrarmos dos tempos do PSD até final da primeira década deste século), é de reconhecer que os que contornam minimamente a via-sacra e a vénia pedida pela máquina são, precisamente, os que logram ditar, com um mínimo de autonomia, o rumo a seguir.

            Aqui chegados, impõe-se uma ressalva: sem aparelho partidário não há - nem nunca teria havido – individualidades. O que discuto é a ideia (oxalá esteja errado) de que os órgãos de circunscrição foram expandindo competências, promovendo o distanciamento de muitos valores da sociedade portuguesa indisponíveis para trocar carreiras de êxito por cadernos de encargos que acrescem à necessária dedicação à participação cívica.

            Mas falemos então do processo em curso: até agora, leio que há um candidato a quem se promete um passeio olímpico e vários outros que podem assegurar um espaço para batalhas futuras. Sendo cedo, apreciaria, não obstante, conhecer ideias e sobretudo o plano de recuperação do PSD, com uma análise e interpretação do último naufrágio como ponto de partida, preferivelmente não limitadas à fulanização em Rio, por muito que neste possa residir parte da explicação.

            Seria de aplaudir o surgimento de projectos empolgantes, mobilizadores e eficazmente comunicados, e não frases sobre os dias que faltam para decidir ou sobre as condições para avançar. Do que os militantes do PSD, em particular, e os eleitores, em geral, necessitam é de saber quem e a razão pela qual avança, sob pena de se eternizar o PS como o maior partido nacional e de continuarmos a ver a manta a encolher à direita.

terça-feira, 1 de março de 2022

Focinho de porco não é tomada

 No momento em que escrevo ainda decorrem conversações entre Ucrânia e Rússia. Contudo, o que digo, em meu entender, permanecerá válido.

Devo dizer que fui presidente do grupo parlamentar de amizade Portugal-Rússia e que aprecio muito este paíse o seu povo. Porém, há valores que são inegociáveis – entre eles, a autodeterminação e a democracia – e há coisas que, por firmes que sejam as justificações dadas(aproximação da NATO e alegada criação “administrativa”da Ucrânia), permanecem inaceitáveis; um focinho de porco pode ser parecido mas nunca será uma tomada…

Afirmo, portanto, que condeno veementemente a invasão russa, que vejo como um crime. Dito isto, sem embargo, apreciemos o outro lado da moeda: em primeiro lugar, noutro momento haverá que ver quem andou a estimular os bravos ucranianos com a adesão à NATO, para depois invocar a sua não integração como pretexto para não intervir.

Por outro lado, entendo que a política externa da União Europeia continua a ser obesa e flácida. Obesa porque se move com dificuldade: ante as ameaças de Putin à Suécia e à Finlândia, a única reacção de uma “senhora” respeitável era um repúdio mais veemente e mesmo uma mobilização militar fronteiriça imediata (quando há vontade, os caminhos jurídicos desenham-se) para mostrar a Putin que não faz farinha com uma Europa unida.Flácida porque pouco firme: Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, afirmou que as presentes sanções aos oligarcas russos que usam dinheiro sujo vão castigar a Rússia. Pois bem, se já se sabia, por que razão foi necessário esperar uma invasão para actuar? 

Por fim, algumas palavras sobre figuras tristes: o primeiro “limão” vai para a FIFA e a UEFA que, cada vez mais, se afirmam como comerciantes. A selecção russa pode jogar, mas sem hino e nome do país?! Mesmo que corrijam, a palhaçada está feita.

Por fim, vergonha nacional pela posição do PCP que, sendo um achado jurássico-estalinista no contexto europeu, beneficia de uma tolerância que não entendo, mesmo se olhado o 25 de Abril; se fosse pelos nossos camaradas tínhamos acabado como lacaios da União Soviética. Este é o mesmo partido que apoiou o golpe de Yanayev contra Gorbatchev, recebeu e lamentou a morte de Fidel Castro, defende as qualidades do regime norte-coreano e aplaude Maduro. A própria complacência com o comunismo só pode justificar-se com o facto de a URSS estar entre os vencedores da II Guerra Mundial. Seria bom que os nossos políticos dessem menos atenção aos desventurados que a não merecem e se concentrassem também nesta moralmente abjecta peça de museu.

Deixo, no entanto, um sublinhado final para os louváveis exemplos de solidariedade para com a Ucrânia por parte das democracias e dos povos ocidentais, de muitos astros da música e do desporto e mesmo de muitos cidadãos russos.

A Putin resta-lhe deixar de disfarçar e assumir-se como ditador puro e duro, dado que não creio que mesmo seu povo apoie esta criminosa conduta.

quinta-feira, 29 de março de 2018

O último parecer


          Depois dos estimados Victor Gaspar e José Alberto Pereira Coelho (o imparável Zé Beto), outro amigo me deixou cada vez mais só a olhar para a tristeza política actual; morreu o meu amigo e mestre João Calvão da Silva.
            Sem saber bem como prestar homenagem a uma figura muito mais relevante do que eu, preferi dar-vos uma série de “polaroides” da minha convivência com o Professor Doutor Calvão da Silva.
            Foto 1: corria o ano de 1992 e Paulo Pereira Coelho chama-me para me apresentar o candidato à liderança distrital do partido, liderava eu a JSD. Retenho um diálogo muito cordial e, algo que viria a ser constante, uma preocupação do Professor pela parte académica, perguntando como iam os estudos (viria a ser seu aluno nas cadeiras de Direito Processual Civil e Direito das Empresas).
            Foto 2: já na faculdade, faço uma colagem de fotografias. Lembro-me de estar à conversa com os colegas, quando para meu espanto e gáudio daqueles o Prof. Calvão me agarra pelo braço, dizendo “vamos fazer política”, algo a que se seguiram várias voltas pelos Gerais. Esta prática viria, respeituosa e bem-humoradamente, a ser designada por Nuno Freitas de “passeio peripatético à Calvão da Silva” (alusão ao método pedagógico da escola filosófica grega).
            O outro momento “escolar” teve a ver com uma oral de Processo Civil. Tratava-se de uma melhoria de nota e a ela fui “intimado” pelo zelo do Professor. No início da mesma e no seu decurso, mais uma prova da integridade e do empenho académico de meu Mestre, pedindo que a oral tivesse assistência, para afastar suspeitas de conluio laranja. Correu bem…
            Foto 3: se me não atraiçoa a memória, foi em 1993 que o meu léxico e a minha investigação seriam avaliados e impulsionados pelo Professor, num jantar partidário, em Poiares. O primeiro momento apareceu quando me contava a mim e ao Nuno Freitas que, noutra ocasião recente, fizera um “discurso trans-partidário”. Tudo isto ficaria sem registo não fora o facto de o Professor nos ter perguntado: “sabem o que quer dizer trans?”… A partir daí, perdi a conta às vezes em que o maçávamos chamando-lhe “trans-Professor” e perguntando pelos “trans-discursos”, algo que Calvão da Silva “encaixava” com britânico (ou coimbrão) “fair-play”… No mesmo jantar, uma frase do Professor sobre a relação dos media com a política, fez com que lhe dissesse que me tinha dado uma ideia. Anos mais tarde, tal daria uma tese de mestrado e um livro.
            Foto 4: por esses anos recordo uma miscelânea de momentos marcantes como o orgulho com que, na imposição de insígnias, sublinhou a sua mãe que das origens comuns saíra um professor de Coimbra, o encontro em Budapeste e o convite para ver o seu Benfica (aguardo visita policial), e a pergunta, em 95, sobre de devia contratar o “Bicho” (trata-se de Iran Costa e do seu sucesso do momento, tendo o meu conselho sido o de aceitar, resultando num êxito nos comícios de Coimbra e da Figueira da Foz).
            Foto 5: contudo, o momento mais marcante terá sido a frase que me revelou antes de a pronunciar numa Assembleia Distrital; “há ideiais do comunismo que permanecem válidos”. Calvão da Silva era um social-democrata de mão cheia.
            Este formato não visa caricaturar; quer, isso sim, demonstrar que João Calvão da Silva me marcou como mestre, como líder e como amigo. Esse será o parecer que sempre guardarei comigo.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Cortejo dos condenados

Anda o nosso País a festejar o Carnaval (aqui no Brasil nem vos conto…) e tento perceber que imagem colhe alguém que o mira de fora.

Verdade seja dita, apesar de ser inquestionável e inegociável o meu patriotismo, fico com a sensação de que a história se vai repetindo, como se todo o ano estivéssemos condenados a manter-nos à tona de água, sem sair de um cortejo com mais toques de marcha de condenados do que de euforia carnavalesca.

Senão vejamos: a novela em torno da apresentação da declaração de rendimentos de António Domingues prolonga-se indefinidamente, chegando já ao correio electrónico e às mensagens telefónicas. Que não se iluda o leitor! Considero essencial o apuramento da verdade sobre o que disse o Ministro das Finanças e quem mais interessar ouvir, dada a importância da Caixa Geral de Depósitos e, mais do que isso, do valor ínsito da verdade. Porém, parece pouco para ser o assunto do dia de uma Nação velha de mais de oitocentos anos.

Em registo idêntico classifico a não divulgação da fuga de capitais para paraísos fiscais. É grave? Gravíssimo! Mas e o que temos para além disso? Offshores e Paulo Núncio são o novo capítulo dos manuais de História de Portugal, daqui a trinta anos? Oxalá que não…

Morbidamente divertido acaba por ser o facto de os partidos (vê-se bem no PSD) ainda não terem associado o nível rasteiro do quotidiano político à dificuldade de recrutar gente de nomeada para concorrer às autarquias (isto a mais de alguns dos actuais dirigentes locais e distritais terem ando divertidíssimos a decepar cabeças pensantes e, logo, pouco dadas a obediências acríticas).

Quem tenha uma carreira de sucesso e a liberdade de pensamento como pedra de toque do seu existir dificilmente quererá trocar a sua realização pessoal por salários que já pouco têm de principesco e sujeitar-se a gerir escândalos, sem a real sensação de que podemos dar saltos de qualidade.

Apesar de tudo, guardo boa dose de expectativa para o embate entre Manuel Machado e Jaime Ramos, sendo que este último me parece ser umas das excepções às dificuldades de recrutamento laranja que mencionei. Espero, todavia, que o debate fuja à banalidade e ao ajuste de contas. Li por estas páginas que o Presidente-recandidato resolveu problemas graves com o Convento de São Francisco, o que se torna num convite à oposição para recuperar o tema da Ponte Rainha Isabel… Creio que Coimbra precisa de ideias e não de contabilidade política.

Vendo ao longe, fica a ideia de que parecemos condenados a pagar a conta do leiteiro, da luz e da mercearia e a ver se os trocos do fim do mês chegam para ir à praia. Com franqueza, parece pouco para quem fez, como dizem, a primeira globalização…

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Donald não é pato

Com as evidentes e importantes distâncias, vejo os protestos madrugadores contra a posse de Donald Trump quase como vejo a resistência dos taxistas à Uber: a prazo, vale o mesmo que espetar o dedo numa fenda de uma barragem.

Diria mesmo que as proezas do Presidente norte-americano apenas foram espoletadas, já que, depois de telefonemas de Taiwan e para Moscovo, e de revogações de tudo e mais umas botas, conseguiu mesmo, segundo fontes lidas, fazer tremer uma certeza que tinha como bíblica, virando Maria Vieira contra Ana Bola.

Brincadeiras à parte, a verdade é que existe um ponto de vista analítico de que devemos partir: Trump ganhou as eleições, competindo a quem deseje demonstrar o contrário (estribado em interferências russas ou outras acusações). E nem vale a pena repetir as lamúrias sobre os (muitos) votos a mais que teve Hillary. O sistema eleitoral não pode ser um exemplo democrático quando ganham os favoritos dos artistas e jornalistas, e uma maquinação demoníaca quando vence o patinho feio (neste caso, o Donald).

Não quero, com o que já vai dito, que fique a ideia de que subestimo o que temos em mãos. Desamparar os mais desfavorecidos nos EUA pode gerar convulsão num país que necessitamos de ter estável e atento ao mundo. Por falar nele, “America first” significa que o nosso irmão maior vai deixar de nos defender nas bulhas que vêm por aí e que se antevêem cada vez mais perigosas. Por seu turno, impedir a circulação de muçulmanos em modo lato apenas lançará fermento de ódio em massas já inclinadas a acreditar em patranhas que incitam à violência contra o “outro”, só porque é outro. Um muro, qualquer que ele seja, divide e aumenta ressentimentos. E por aí fora…

Porém, voltamos à mesma: a constituição americana permite tudo isto? Parece que sim.

Este Donald, assim, é todo menos pato e, escorado por uma péssima escolha de opositor por parte do Partido Democrata, limitou-se a cavalgar os medos que assolam as sociedades contemporâneas, muitos dos quais causadas por predadores económicos como ele próprio, os quais, sem preocupação com uma redistribuição mais justa da riqueza, foram subjugando milhões aos vendedores de falsas esperanças.

Talvez resida neste momento o despertar de uma Europa balofa e frouxa que achou que a invasão da Ucrânia e o Brexit eram culpa exclusiva de, respectivamente, russos e ingleses (os britânicos mais ansiosos por sair da UE). Já era tempo de os franceses pararem de pensar que são a Luz, de os alemães entenderem que economias sãs hão-de resolver todos os problemas, de os portugueses se fiarem nos brandos costumes para passar entre os pingos da chuva, etc, etc… E, já agora, também vinha a calhar que os comissários, eurodeputados e milhares de burocratas que sustentamos a pão-de-ló acabassem com discursos redondos para justificar as sinecuras, passando a uma retórica substanciada, motivadora e que responda aos problemas reais; os mesmos para os quais buscaram respostas os eleitores de Trump…

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Há petróleo no Beato

Depois de um longo interregno, resolvi voltar a escrever umas linhas em prol da minha sanidade mental. Não é que tenha interrompido, suspendido ou até castrado o meu espirito crítico, mas espaços como o Facebook ou o twitter, não são propriamente espaços de reflexão mais profunda.

Hoje senti-me seduzido a escrever algumas linhas sobre o suposto memorando de entendimento relativo à passagem da gestão da Carris para a CML e para melhor enquadrar esta questão, recorri a algumas passagens que tenho lido por aí.

Em Novembro de 2014 Costa Presidente da Câmara de Lisboa dizia o seguinte:
"Entre as competências que a câmara se propõe assumir estão as de “planeamento e gestão das redes e frotas”, “fixação de tarifas e preços” e “definição de níveis de serviço e de objectivos de gestão operacional”. Quanto às indemnizações compensatórias, António Costa diz que “partilhará com o Estado os encargos anuais a pagar à Carris e ao Metro, de acordo com um critério de repartição financeiramente sustentável e adequado à partilha de riscos a estabelecer”. Esta visão contraria a visão do Governo, que pretende eliminar por completo estes subsídios, que são pagos pela prestação de serviço público. Aliás, na proposta do Orçamento do Estado para 2015 as indemnizações são reduzidas em 85 milhões de euros, restando apenas os apoios aos passes sociais +. "

e conluía:
"Como “pressupostos” para que a câmara fique com a gestão das operadoras de transportes, o seu presidente elenca a assunção pelo Estado da sua dívida histórica, “incluindo os encargos decorrentes do leasing do material circulante”, a definição de um acordo “sobre um plano de investimentos estruturais para o período da parceria” e de um outro “quanto a compensações sociais”, por exemplo “em matéria de passes sociais”.     

Volvidos 2 anos, agora Costa como Primeiro Ministro e Medina como Presidente da CML, somos surpreendidos com este memorando de entendimento. Mas, o mais estranho de toda esta história, é que ninguém conhece o conteúdo do tal documento e por isso ao melhor estilo da esquerda dita democrática, já se encarregaram de informar o que o Povo precisa de saber.

E esta semana, Costa Primeiro Ministro, presenteia-nos com as seguintes afirmações:
"Carris não é para produzir EBITDA. É para transportar pessoas"
"Desobrigamos os portugueses a financiarem os transportes dos lisboetas"

E Fernando Medina acrescenta:
"A partir do próximo ano, a gestão da Carris passa para a Câmara de Lisboa, mas a sua dívida permanece no Estado. A empresa será financiada com as verbas do estacionamento, multas de trânsito, IUC "e o que for necessário", como referiu Fernando Medina na cerimónia realizada esta segunda-feira."

Segundo estas mentes iluminadas, resolveram um problema com mais de 40 anos, o tema está esclarecido e não há mais explicações a dar.

O caricato disto tudo, é que Costa como Presidente da CML, exigia a Passos Coelho que o estado continuasse a pagar os leasings em vigor e demais custos financeiros, para além dos custos de um novo plano de investimentos e das compensações em matéria de passes sociais.

Agora na pele de Primeiro Ministro afirma, "Desobrigamos os portugueses a financiarem os transportes dos lisboetas"  e aqui reside a principal dúvida/mentira ou por outras palavras o principio de mais uma narrativa com um triste epílogo.

Antes com Passos Coelho ,os Portugueses tinham que continuar a financiar os transportes de Lisboa, agora já não vão contribuir mais para esse peditório e portanto emerge assim outra e não menos importante questão:

Segundo sabemos e é público, a CML continua deficitária ao ponto de ter cancelado algumas obras por falta de financiamento. Não foi por acaso, que pela primeira vez lançaram mão de novas taxas e impostos, sobre o turismo, resíduos, etc... e como é que de repente, tem folga em receitas como, multas de transito e IUC ? Todos sabemos que estas receitas são uma gota de água quando comparadas com o défice estrutural anual da Carris?

Depois de muito pensar, encontrei a explicação. Quando se trata de temas cobertos de uma enorme opacidade, o diabo está sempre nos pormenores e nas entrelinhas, senão vejamos:

Desde quando é que António Costa sabe o que é o EBITDA e esclareço: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Ora bem, esta palavra não apareceu por acaso, foi com certeza usada por alguém, que explicou a António Costa, que a Carris depois das restruturações de que tinha sido alvo, tinha um EBITDA positivo ou próximo disso e só assim se explica que a CML consiga assumir a gestão corrente da Carris, ficando alguém com todas as outras parcelas, juros, impostos, depreciações e amortizações.

Esclarecido isto posso concluir que, António Costa mentiu aos Portugueses quando afirmou que deixavam de financiar os transportes dos Lisboetas e Medina omitiu o mais importante, quando afirmou que recorre "ao que for necessário" para viabilizar a solução.

A não ser nenhum destas hipóteses e como muito bem satirizava Raul Solnado "Há petróleo no Beato.

P.S.
Há Petróleo no Beato é um drama, comédia e revista à portuguesa de 1986. Foi protagonizado por Raul Solnado
Numa conjuntura de instabilidade mundial provocada pelas primeiras crises petrolíferas do século passado, uma modesta família portuguesa é surpreendida pela descoberta de que tem no quintal a solução dos seus problemas financeiros e até mesmo os do País. 





quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O pato e o Donald


Comprovando a importância capital dos EUA no Mundo, a vitória de Donald Trump, com a extraordinária explosão dos meios de comunicação, já foi alvo de opiniões por parte de todos e mais um. Em lugar de procurar ser diferente, deixo-me ir neste rio (palavra heterodoxa para os sociais-democratas. Quem diria?!) de palpites…

E a primeira cogitação tem precisamente a ver com a rotunda falha de quem se aventurou nas previsões, salvo honrosas excepões; o neófito tem nome de pato, mas foi a maioria dos analistas quem fez figura de pato, se não mesmo de urso.

Depois e como as primeiras declarações e omissões (por exemplo, o desaparecimento da menção à interdição de entrada de muçulmanos) parecem prenunciar, uma coisa é a retórica do candidato, outra é o pronunciamento futuro do presidente. E, aqui chegados, não vale a pena os cronistas pseudo-intelectuais rasgarem as vestes em sinal de indignação ante uma putativa hipocrisia: é precisamente a profusão incontinente de crónicas e a sede vampiresca de directos que obriga a que qualquer candidato que queira aparecer (e, logo, existir) tenha que percorrer a estreita linha de fronteira entre a declaração tribunícia e a demagogia populista.

Acresce que, como tantos outros nos últimos anos, este resultado é apenas mais um aviso dos eleitorados, em tom moderado, para uma classe política falida, putrefacta e, não raras vezes, corrompida. Embora veja as maleitas como bem suaves no nosso Portugal, comecei por identificar a tendência quando, há anos, Salazar foi eleito como o maior entre os “Grandes Portugueses”. Já então estava em crer que ninguém queria efectivamente o regresso do Professor; do que se tratava (quase nenhum analista ou deputado chamado a perorar o percebeu, diga-se) era de aspergir bílis sobre um conjunto de políticos e forças partidárias que, perpetuando-se, se revelavam incapazes de nos tirar do tradicional “um dia voltaremos a ser grandes”.

Mas, por todos os lados, há alertas que ainda (que eu tenha lido ou escutado) nenhum líder compilou e explicou de forma integrada: Chávez, Correa, Morales, Kirchner, Marine Le Pen, a extrema-direita alemã, Farage, Orbán, e outros que são farinha do mesmo saco, independentemente da percentagem de trigo (parte em que assumo que simplifico em demasia e misturo componentes locais para chegar a um corolário urbi et orbi, passo a heresia).

Votaram, assim, os esquecidos pela classe política e os isolados das urbes, mas votaram também os que legitimamente têm medo do terrorismo (em vez de aceitarem que continuemos a assobiar para o lado, esperando que, tendo que acontecer, só aconteça aos outros), os que temem pela perda do seu trabalho (com o conto da inevitabilidade, os políticos com lugar seguro vão precarizando mais e mais o trabalho dos outros) e, no fundo, todos aqueles a quem a globalização e a erosão do estado-nação assustam (nem ousem recrimina-los, pois imagino que 90% da nossa Assembleia da República seja incapaz de começar sequer a explicar o fenómeno aos seus concidadãos…).

Mais haveria a dizer, mas termino com uma ideia, citando Jorge Jesus (pensador com perfil adequado para o gabinete de Trump, aliás): “foi limpinho, limpinho”!

domingo, 13 de novembro de 2016

E se deixássemos de ser parolos?!



No mural de um amigo em determinada rede social leio acirrada defesa do Sport Lisboa e Benfica. O cidadão em causa é um indivíduo com actividade cívica conhecida e reconhecida, e a instituição que defende é prestigiada. No entanto, dou comigo a pensar: por que diabo não defende esta alma o clube da terra?! Faltam méritos ao braço futebolístico de uma Associação velhinha de 129 anos?!


Não representa a Associação Académica de Coimbra/OAF, a mais de um grupo dedicado ao pontapé na bola, uma forma de estar na vida corporizada pela casa mãe?!


Não é historial da Briosa honroso de um ponto de vista desportivo, mas também no que já fez por princípios tão importantes como a liberdade?!


E para quem ande a guerrear com base em cores (li que um jogador de um alegado “grande” foi impedido de estacionar junto dos colegas por ter um carro com a cor de um rival), haverá maior elegância do que um negro integral?


A resposta é simples: quem é de Coimbra ou por lá passou deveria amar a Briosa e tudo o que ela representa e, mais do que isso, habituar os filhos a entenderem que não temos que ser todos vermelhos, azuis ou verdes.


A mais disso, bem sei o quanto é bom ganhar. Todavia, as vitórias numéricas não são tudo na vida. O brio de defender uma cidade e uma universidade repletas de história e beleza, a honra de estar em campo em nome de uma maneira de ver o desporto como uma prática alicerçada em valores e os atletas como algo mais do que cavalos de corrida, o orgulho de pertencer a um grupo exclusivo dada a excelência de comportamento que se exige a um academista; tudo isto, dizia, representa um acervo de argumentos com o qual poderíamos exaltar o fervor coimbrão e a saudade daqueles que o viveram, embora sejam de outras paragens.


Todavia, é importante não embarcarmos nós próprios na histeria colectiva que parece tripartir os demais portugueses. É, por isso, imperioso meditar sobre o que nos falta para remar contra a maré.


Desde logo, tradição. O Portugal da bola é assim mesmo, e os media não vão deixar que seja de outro modo. Como se venderiam três diários desportivos de outra forma? Como se suportariam tantos e tão quezilentos programas televisivos de suposto debate (na realidade mais parecem documentários sobre boçalidade)?


Depois há um trabalho que compete aos dirigentes. Dei várias ideias no meu tempo, mas outros valores se ergueram com maior urgência e entusiasmo por parte dos meus pares…


Em terceiro lugar, com um estádio com capacidade para cerca de 20% da população residente, será sempre um pouco difícil operar milagres, embora defenda acerrimamente a localização do mesmo. Tirando o localizado fenómeno vimaranense (pese embora escorado em argumentos muito diferentes daqueles que julgo estarem na essência da Associação Académica de Coimbra), a indigência é a nota marcante das assistências da esmagadora maioria dos estádios portugueses.


Por fim, com a concorrência de azuis, vermelhos, verdes, e de todas as estupendas ligas que passam na televisão, é necessário um futebol vistoso e que entretenha.

E se deixássemos de ser parolos?!



No mural de um amigo em determinada rede social leio acirrada defesa do Sport Lisboa e Benfica. O cidadão em causa é um indivíduo com actividade cívica conhecida e reconhecida, e a instituição que defende é prestigiada. No entanto, dou comigo a pensar: por que diabo não defende esta alma o clube da terra?! Faltam méritos ao braço futebolístico de uma Associação velhinha de 129 anos?!


Não representa a Associação Académica de Coimbra/OAF, a mais de um grupo dedicado ao pontapé na bola, uma forma de estar na vida corporizada pela casa mãe?!


Não é historial da Briosa honroso de um ponto de vista desportivo, mas também no que já fez por princípios tão importantes como a liberdade?!


E para quem ande a guerrear com base em cores (li que um jogador de um alegado “grande” foi impedido de estacionar junto dos colegas por ter um carro com a cor de um rival), haverá maior elegância do que um negro integral?


A resposta é simples: quem é de Coimbra ou por lá passou deveria amar a Briosa e tudo o que ela representa e, mais do que isso, habituar os filhos a entenderem que não temos que ser todos vermelhos, azuis ou verdes.


A mais disso, bem sei o quanto é bom ganhar. Todavia, as vitórias numéricas não são tudo na vida. O brio de defender uma cidade e uma universidade repletas de história e beleza, a honra de estar em campo em nome de uma maneira de ver o desporto como uma prática alicerçada em valores e os atletas como algo mais do que cavalos de corrida, o orgulho de pertencer a um grupo exclusivo dada a excelência de comportamento que se exige a um academista; tudo isto, dizia, representa um acervo de argumentos com o qual poderíamos exaltar o fervor coimbrão e a saudade daqueles que o viveram, embora sejam de outras paragens.


Todavia, é importante não embarcarmos nós próprios na histeria colectiva que parece tripartir os demais portugueses. É, por isso, imperioso meditar sobre o que nos falta para remar contra a maré.


Desde logo, tradição. O Portugal da bola é assim mesmo, e os media não vão deixar que seja de outro modo. Como se venderiam três diários desportivos de outra forma? Como se suportariam tantos e tão quezilentos programas televisivos de suposto debate (na realidade mais parecem documentários sobre boçalidade)?


Depois há um trabalho que compete aos dirigentes. Dei várias ideias no meu tempo, mas outros valores se ergueram com maior urgência e entusiasmo por parte dos meus pares…


Em terceiro lugar, com um estádio com capacidade para cerca de 20% da população residente, será sempre um pouco difícil operar milagres, embora defenda acerrimamente a localização do mesmo. Tirando o localizado fenómeno vimaranense (pese embora escorado em argumentos muito diferentes daqueles que julgo estarem na essência da Associação Académica de Coimbra), a indigência é a nota marcante das assistências da esmagadora maioria dos estádios portugueses.


Por fim, com a concorrência de azuis, vermelhos, verdes, e de todas as estupendas ligas que passam na televisão, é necessário um futebol vistoso e que entretenha.

E se deixássemos de ser parolos?!



No mural de um amigo em determinada rede social leio acirrada defesa do Sport Lisboa e Benfica. O cidadão em causa é um indivíduo com actividade cívica conhecida e reconhecida, e a instituição que defende é prestigiada. No entanto, dou comigo a pensar: por que diabo não defende esta alma o clube da terra?! Faltam méritos ao braço futebolístico de uma Associação velhinha de 129 anos?!


Não representa a Associação Académica de Coimbra/OAF, a mais de um grupo dedicado ao pontapé na bola, uma forma de estar na vida corporizada pela casa mãe?!


Não é historial da Briosa honroso de um ponto de vista desportivo, mas também no que já fez por princípios tão importantes como a liberdade?!


E para quem ande a guerrear com base em cores (li que um jogador de um alegado “grande” foi impedido de estacionar junto dos colegas por ter um carro com a cor de um rival), haverá maior elegância do que um negro integral?


A resposta é simples: quem é de Coimbra ou por lá passou deveria amar a Briosa e tudo o que ela representa e, mais do que isso, habituar os filhos a entenderem que não temos que ser todos vermelhos, azuis ou verdes.


A mais disso, bem sei o quanto é bom ganhar. Todavia, as vitórias numéricas não são tudo na vida. O brio de defender uma cidade e uma universidade repletas de história e beleza, a honra de estar em campo em nome de uma maneira de ver o desporto como uma prática alicerçada em valores e os atletas como algo mais do que cavalos de corrida, o orgulho de pertencer a um grupo exclusivo dada a excelência de comportamento que se exige a um academista; tudo isto, dizia, representa um acervo de argumentos com o qual poderíamos exaltar o fervor coimbrão e a saudade daqueles que o viveram, embora sejam de outras paragens.


Todavia, é importante não embarcarmos nós próprios na histeria colectiva que parece tripartir os demais portugueses. É, por isso, imperioso meditar sobre o que nos falta para remar contra a maré.


Desde logo, tradição. O Portugal da bola é assim mesmo, e os media não vão deixar que seja de outro modo. Como se venderiam três diários desportivos de outra forma? Como se suportariam tantos e tão quezilentos programas televisivos de suposto debate (na realidade mais parecem documentários sobre boçalidade)?


Depois há um trabalho que compete aos dirigentes. Dei várias ideias no meu tempo, mas outros valores se ergueram com maior urgência e entusiasmo por parte dos meus pares…


Em terceiro lugar, com um estádio com capacidade para cerca de 20% da população residente, será sempre um pouco difícil operar milagres, embora defenda acerrimamente a localização do mesmo. Tirando o localizado fenómeno vimaranense (pese embora escorado em argumentos muito diferentes daqueles que julgo estarem na essência da Associação Académica de Coimbra), a indigência é a nota marcante das assistências da esmagadora maioria dos estádios portugueses.


Por fim, com a concorrência de azuis, vermelhos, verdes, e de todas as estupendas ligas que passam na televisão, é necessário um futebol vistoso e que entretenha.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

"Um Imenso Portugal?" - I

O início do processo de cassação do mandato da Presidente Dilma Rousseff (impeachment, seguindo a moda) paralisou o Brasil e chamou a atenção dos demais países, como não poderia deixar de ser, atendida a dimensão deste gigante quase continental.

 Dando por sobejamente explicado nos media o processo em si, partilho algumas reflexões pessoais. A primeira delas tem a ver com o facto de entender que, ante a já mencionada dimensão do país, o início da queda de Dilma é o fim da ilusão populista na América Latina, pelo menos nos actores de dimensão significativa. Sei mesmo que muitos venezuelanos rejubilaram com o resultado da votação domingueira, precisamente por sublinhar com tintas mais fortes o letreiro de “A Prazo” que já pairava sobre Miraflores (palácio presidencial).

 Primeiro veio a derrota fragorosa dos herdeiros de Cristina, na Argentina. Depois, a conversão de Correa (Equador) ao pragmatismo. A contrario, o desenvolvimento notório da Colômbia. Agora, o mais do que provável “despedimento” de Dilma… Tudo sinais de que o sonho (a encenação – riscar o que não interessa, como nos impressos antigos) bolivariano de Chávez entrou numa derrocada irreversível. Contudo, mais do que o episódico rolar de cabeças, a leitura que faço é a de que, efectivamente, caiu a máscara dos populismos de esquerda que prometiam um mirífico igualitarismo alternativo à economia de mercado vigente nos países ocidentais, e que vieram a revelar-se propostas económicas desastrosas, projectos sociais incentivadores de indolência e corrupção, e até, em certos casos, alfobres de protoditaduras. A Venezuela será uma questão de tempo, e a Bolívia um teste ao contorcionismo político de Morales.

 Já na Europa, provando que até nos dislates perdemos a liderança, Bloco de Esquerda, Podemos e Syriza estão para lavar e durar, embora sem a mesma perspectiva de triunfo dos congéneres latino-americanos.

 O segundo corolário que extraio do ocaso da presidente brasileira poderá ser polémico, mas é algo sobre que especulo com convicção: sendo a primeira mulher a assumir a presidência Brasileira e partindo da premissa, como parto, de que a principal causa da queda verdadeiramente inerente a Dilma Rousseff foi a sua incompetência, tal comprova que a competência e uma série de outras qualificações nada têm a ver com questões de género e não são passíveis de controlar por um sistema de quotas.

 Note-se que a Presidente em vias de “despedimento” não foi eleita por qualquer sistema de quotas, nem tão pouco quero encetar um libelo contra as mulheres. Nada disso! Quero apenas contrariar a ideia de alguns histéricos da extrema-esquerda de que pertencer a minorias supostamente discriminadas é uma graduação social… O raciocínio equilibrado seria, pura e simplesmente, combater as discriminações (sou totalmente favorável) e reconhecer que nem todos os homens são incompetentes (algo que creio, para ser intelectualmente honesto, nunca esteve em causa), como nem todas as mulheres são competentes, como Dilma prova à saciedade. Daí a minha descrença em sistemas quantitativos de indigitação.

 (a continuar)

quarta-feira, 23 de março de 2016

Falinhas mansas

E lá chora a Europa com mais um nojento atentado, desta vez na Bélgica…

A mais do evidente repúdio e da óbvia revolta, creio que é tempo de acabar com as falinhas mansas.

É bonito e eticamente gratificante falar de direitos humanos e do quão elevada é a alegada superioridade axiológica da civilização ocidental, em geral, e da construção europeia, em particular, mas o facto é que essa “conversa” começa a saber a pouco às cada vez mais numerosas famílias das vítimas de atentados, aos refugiados e populações de “desembarque”, aos inocentes cidadãos que se vêem confrontados com um crescente número de medidas restritivas da sua liberdade (designadamente, de circulação), e a todos quantos, directa ou indirectamente, associam a vida em sociedade ao respeito recíproco (que lirismo o nosso, ao que parece…).

Desde logo, importa que os líderes religiosos que pregam na Europa e, na medida do possível, os que ensinam a fé muçulmana nos países cujas populações observam essa respeitável e ancestral confissão, comecem a passar da mera condenação ao acto de denunciar quem suja o nome de Alá com actos que nada têm a ver com o verdadeiro Islão. Não basta continuar a dizer que quem o faz é inimigo da fé; é necessário punir ou entregar quem inquina de forma tão vil e cobarde a paz mundial.

Depois, seria relevante entender até quando estaremos dispostos a ser uma civilização castrada, na Europa. O facto é que, em nome da suposta e mencionada superioridade do nosso modo de ver o ser humano e a vida, com as honrosas excepções do Reino Unido (quase sempre) e da França (algumas vezes), em homenagem a restrições orçamentais, por causa de medo de baixas próprias e colaterais (as mesmas que os atentados desconsideram e de que os terroristas se riem) – por tudo isto, dizia – não debelamos este anátema, não cortamos o mal pela raiz, não destruímos estes canalhas… E quando o digo, digo-o dentro e fora de portas. No primeiro caso, havendo ninhos de víboras claramente identificados nas metrópoles europeias, é urgente acabar com a auto-restrição imposta pela esquerda radical (que agora assobia para o ar, como se o estado abúlico em que vivemos não fosse fruto de anos de desconstrução da lei e ordem, sob a acusação idiota de reminiscências fascistas) e permitir às polícias que, observados os direitos fundamentais de presumíveis inocentes, não se detenham por anacrónicos limites horários, impedimentos de rastreamento tecnológico ou medo de usar a força proporcional e necessária para o combate deste flagelo (a verdade é que, mesmo que o infractor seja brutal, aparece sempre um trotskista armado em moralista a falar de violência policial, mesmo quando esta, que é condenável, não existe).

Se continuarmos nesta “anarquia mansa”, os Trump deste mundo começarão a ganhar nos EUA, na Polónia, na Hungria, na Rússia e por aí fora…


Não reagir com mão firme, ao invés do que possa parecer, é precisamente a forma de caminharmos para um Estado securitário, para uma Europa fortaleza e para o fim de uma Era.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Vão chamar pai a outro


A propaganda do Bloco de Esquerda que diz que “Jesus também tinha dois pais” (comemorando a aprovação da adopção por casais do mesmo sexo) é, antes de mais, uma questão de mau gosto e de deliberada ofensa aos que não concordam com aquela organização intelectualmente totalitária.


E começo por aqui mesmo: o BE arvora-se em campeão das liberdades democráticas, mas é, provavelmente, a mais intolerante, discriminatória e agressiva força parlamentar. Quem não concorda com a mixórdia de marxistas-leninistas arrependidos, trotskistas psicadélicos, maoístas bafientos e anarquistas-chiques é apelidado de reaccionário, inimigo da democracia e outras coisas mais que, com apoio de grande parte da classe jornalística (que mistura a revolta contra o patronato com a função de megafone da extrema-esquerda), servem para menorizar e intimidar quem, legitimamente, defende ideia adversa.


Aliás, muitas das actividades de agitação e propaganda da nossa extrema-esquerda finória são “cool”, criativas e inovadoras porque são daquele lado da fronteira; se alguém do centro-direita ou mesmo do PS andasse em “topless” defendendo o direito ao corpo ou postergasse o nome de Cristo, imediatamente era derretido pelos escribas que cobrem o quotidiano bloquista.


Mas nada a fazer… Com colossal culpa dos “arcos da governabilidade” europeus, a bandalheira política entrou na moda, chame-se ela Syriza, Podemos ou Bloco de Esquerda (confesso mesmo que me enganei rotundamente ao prognosticar a erosão do BE; coisas de “emigrante”…).


Recentrando o assunto no enxovalho a Cristo, diria que a primeira coisa a desmistificar é a alegada propriedade de ideias como a adopção e o casamento de pessoas do mesmo sexo ou a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Nenhuma força política é dona dessas causas! Há milhares de cidadãos que, perfilhando ou não as orientações em debate, sempre se bateram pelo fim do que entendem como discriminações, sendo um insulto este aparecimento de um latifundiário intelectual das causas “justas”.


Depois, entendo que a Igreja Católica não poderia pedir mais. Ao mesmo tempo que “Spotlight” ganha um Oscar, relembrando o encobrimento de abusos sobre menores, o Bloco desperta uma onda de indignação entre católicos e outras pessoas de bem.


Por fim, não venha Marisa Matias demarcar-se da ideia, como se de um erro se tratasse. Foi deliberado e com intenção de enxovalhar.


Ou me engano muito, ou António Costa pagará um alto custo por esta bandeira de conveniência. Ele e todos nós…


Impedido de me expressar como Arnaldo Matos (MRPP) o fez recentemente, lamento e registo a ofensa.