quarta-feira, 15 de junho de 2022

A involução das espécies

 

            Depois de Charles ter teorizado as suas origens, outro Darwin, o Núñez, coloca as espécies no centro das nossas atenções, neste caso, como na generalidade do planeta (da guerra ao clima), no sentido da degradação ou da involução da espécie humana.

            Nada se leia aqui contra o moço que, pelo que vi e dizem, tem realmente jeito para o pontapé-na-bola.

            E, ainda antes da ordem do dia, “mea culpa”, com certeza. Sou dos que “consome” avidamente partidas de futebol, sendo que, até Fevereiro último (altura em que regressei ao País), como não existia a pouca vergonha lusa de distribuir os jogos por três empresas de televisão sem oferecer um pacote de desporto que as reúna (depois digam que somos mais desenvolvidos do que Brasil, Venezuela e África do Sul…), via quase tudo o que podia. Dito de outra maneira, com excepção destes meses desde que regressei, alimentei a cornucópia de dinheiro em que se converteu o futebol actual.

            Esse é o drama que vive, por exemplo, a Briosa: falta dinheiro e influência no Centro de Portugal. Essa também a razão pela qual, cada vez mais, será difícil uma vitória portuguesa na Liga dos Campeões; mesmo com o fracasso (temporário, adivinho) da criação da super liga europeia (num dos últimos assomos de romantismo tolerados aos adeptos), a tendência é multiplicar o número de jogos, aumentando as receitas e diminuindo a importância de um dia feliz dos adversários de menor dimensão (mais frequente na Taça dos Campeões, quando eram rondas eliminatórias), bem como restringir os ditos adversários a empresas da mesma dimensão (sim, empresas; não foi lapso).

            Dinheiro é tudo o que está em jogo para as fábricas de futebol e seus patrocinadores, conduzindo o desporto à exacerbação mediática e os dirigentes a declarações ridículas e poses histriónicas, entrando ainda pela casa adentro comentadores televisivos espumando e ostentando uma fúria quase símia que se torna tanto mais impressionante quando, conhecendo eu um ou dois, são profissionais com responsabilidades elevadas na “vida real” e passam a imagem de cidadãos cordatos.

            Tudo me soa a escalada e os mais recentes episódios de confrontos entre adeptos – seja ou não causa directa determinada partida de futebol – são o corolário lógico da orgia de dinheiro, obscuridade e desmando, continuando a manchar o desporto e a esperança de termos uma sociedade decente.

            Darwin – voltando ao princípio – é um jovem que segue um sonho e tem talento inequívoco, nada havendo a apontar-lhe. O que sim me despertou a atenção foi a coincidência dos nomes e o retrocesso que representa, num mundo repleto de carências e problemas de sustentabilidade, falarmos de 75 a 100 milhões de euros pelo contrato de uma só pessoa. O futebol já não é o desporto do povo; horas e dias das partidas, preços das assinaturas televisivas, dos bilhetes e das camisolas, e as decisões fulcrais são factores para CEOs, agentes e outra gente que não almoça ao nosso lado.

Sem comentários: