terça-feira, 1 de março de 2022

Focinho de porco não é tomada

 No momento em que escrevo ainda decorrem conversações entre Ucrânia e Rússia. Contudo, o que digo, em meu entender, permanecerá válido.

Devo dizer que fui presidente do grupo parlamentar de amizade Portugal-Rússia e que aprecio muito este paíse o seu povo. Porém, há valores que são inegociáveis – entre eles, a autodeterminação e a democracia – e há coisas que, por firmes que sejam as justificações dadas(aproximação da NATO e alegada criação “administrativa”da Ucrânia), permanecem inaceitáveis; um focinho de porco pode ser parecido mas nunca será uma tomada…

Afirmo, portanto, que condeno veementemente a invasão russa, que vejo como um crime. Dito isto, sem embargo, apreciemos o outro lado da moeda: em primeiro lugar, noutro momento haverá que ver quem andou a estimular os bravos ucranianos com a adesão à NATO, para depois invocar a sua não integração como pretexto para não intervir.

Por outro lado, entendo que a política externa da União Europeia continua a ser obesa e flácida. Obesa porque se move com dificuldade: ante as ameaças de Putin à Suécia e à Finlândia, a única reacção de uma “senhora” respeitável era um repúdio mais veemente e mesmo uma mobilização militar fronteiriça imediata (quando há vontade, os caminhos jurídicos desenham-se) para mostrar a Putin que não faz farinha com uma Europa unida.Flácida porque pouco firme: Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, afirmou que as presentes sanções aos oligarcas russos que usam dinheiro sujo vão castigar a Rússia. Pois bem, se já se sabia, por que razão foi necessário esperar uma invasão para actuar? 

Por fim, algumas palavras sobre figuras tristes: o primeiro “limão” vai para a FIFA e a UEFA que, cada vez mais, se afirmam como comerciantes. A selecção russa pode jogar, mas sem hino e nome do país?! Mesmo que corrijam, a palhaçada está feita.

Por fim, vergonha nacional pela posição do PCP que, sendo um achado jurássico-estalinista no contexto europeu, beneficia de uma tolerância que não entendo, mesmo se olhado o 25 de Abril; se fosse pelos nossos camaradas tínhamos acabado como lacaios da União Soviética. Este é o mesmo partido que apoiou o golpe de Yanayev contra Gorbatchev, recebeu e lamentou a morte de Fidel Castro, defende as qualidades do regime norte-coreano e aplaude Maduro. A própria complacência com o comunismo só pode justificar-se com o facto de a URSS estar entre os vencedores da II Guerra Mundial. Seria bom que os nossos políticos dessem menos atenção aos desventurados que a não merecem e se concentrassem também nesta moralmente abjecta peça de museu.

Deixo, no entanto, um sublinhado final para os louváveis exemplos de solidariedade para com a Ucrânia por parte das democracias e dos povos ocidentais, de muitos astros da música e do desporto e mesmo de muitos cidadãos russos.

A Putin resta-lhe deixar de disfarçar e assumir-se como ditador puro e duro, dado que não creio que mesmo seu povo apoie esta criminosa conduta.

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