Depois dos
estimados Victor Gaspar e José Alberto Pereira Coelho (o imparável Zé Beto),
outro amigo me deixou cada vez mais só a olhar para a tristeza política actual;
morreu o meu amigo e mestre João Calvão da Silva.
Sem saber bem como prestar homenagem
a uma figura muito mais relevante do que eu, preferi dar-vos uma série de
“polaroides” da minha convivência com o Professor Doutor Calvão da Silva.
Foto 1: corria o ano de 1992 e Paulo
Pereira Coelho chama-me para me apresentar o candidato à liderança distrital do
partido, liderava eu a JSD. Retenho um diálogo muito cordial e, algo que viria
a ser constante, uma preocupação do Professor pela parte académica, perguntando
como iam os estudos (viria a ser seu aluno nas cadeiras de Direito Processual
Civil e Direito das Empresas).
Foto 2: já na faculdade, faço uma
colagem de fotografias. Lembro-me de estar à conversa com os colegas, quando
para meu espanto e gáudio daqueles o Prof. Calvão me agarra pelo braço, dizendo
“vamos fazer política”, algo a que se seguiram várias voltas pelos Gerais. Esta
prática viria, respeituosa e bem-humoradamente, a ser designada por Nuno
Freitas de “passeio peripatético à Calvão da Silva” (alusão ao método
pedagógico da escola filosófica grega).
O outro momento “escolar” teve a ver
com uma oral de Processo Civil. Tratava-se de uma melhoria de nota e a ela fui
“intimado” pelo zelo do Professor. No início da mesma e no seu decurso, mais uma
prova da integridade e do empenho académico de meu Mestre, pedindo que a oral
tivesse assistência, para afastar suspeitas de conluio laranja. Correu bem…
Foto 3: se me não atraiçoa a
memória, foi em 1993 que o meu léxico e a minha investigação seriam avaliados e
impulsionados pelo Professor, num jantar partidário, em Poiares. O primeiro
momento apareceu quando me contava a mim e ao Nuno Freitas que, noutra ocasião
recente, fizera um “discurso trans-partidário”. Tudo isto ficaria sem registo
não fora o facto de o Professor nos ter perguntado: “sabem o que quer dizer
trans?”… A partir daí, perdi a conta às vezes em que o maçávamos chamando-lhe
“trans-Professor” e perguntando pelos “trans-discursos”, algo que Calvão da
Silva “encaixava” com britânico (ou coimbrão) “fair-play”… No mesmo jantar, uma
frase do Professor sobre a relação dos media com a política, fez com que lhe
dissesse que me tinha dado uma ideia. Anos mais tarde, tal daria uma tese de
mestrado e um livro.
Foto 4: por esses anos recordo uma
miscelânea de momentos marcantes como o orgulho com que, na imposição de
insígnias, sublinhou a sua mãe que das origens comuns saíra um professor de
Coimbra, o encontro em Budapeste e o convite para ver o seu Benfica (aguardo
visita policial), e a pergunta, em 95, sobre de devia contratar o “Bicho”
(trata-se de Iran Costa e do seu sucesso do momento, tendo o meu conselho sido
o de aceitar, resultando num êxito nos comícios de Coimbra e da Figueira da
Foz).
Foto
5: contudo, o momento mais marcante terá sido a frase que me revelou antes de a
pronunciar numa Assembleia Distrital; “há ideiais do comunismo que permanecem
válidos”. Calvão da Silva era um social-democrata de mão cheia.
Este formato não visa caricaturar;
quer, isso sim, demonstrar que João Calvão da Silva me marcou como mestre, como
líder e como amigo. Esse será o parecer que sempre guardarei comigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário