Passando vários anos fora do País, aproveitei para meditar nas questões que muitos de
nós (mormente os que, como eu, não têm actividade política) consideramos
promessas incumpridas da democracia, que chegou em 1974. Designadamente,
atormenta-me não conseguir respostas para algumas questões basilares como sejam
a do atraso recorrente em relação a países que nos seguiam na escala de
desenvolvimento e a do agravamento grosseiro das desigualdades sociais,
nivelando por baixo.
Tendo dado o meu modestíssimo
contributo para uma iniciativa que, espero, conhecerá a luz do dia num futuro
próximo, fico, ainda assim, com a sensação de que a explicação reside, em parte
não despicienda, em nós próprios enquanto nação. Dito isto, o, hoje em dia,
obrigatório aviso de salvaguarda: não me imagino a ser outra coisa que não
português e, mais do que provavelmente, terei de me incluir em todos os
“pecadilhos” referidos “infra”.
Usufruindo da possibilidade de a confrontar
com a vivência de outras “culturas” (nenhuma delas perfeita, mas todas
diferentes), fico com a sensação de que o nosso fado será sempre triste,
enquanto não nos envolvermos num processo de mudança de mentalidade ou, como se
diz agora, de “chip”. Desde logo,
creio que temos a tendência para invejar o sucesso alheio, perdendo preciosos
momentos de aprofundamento das nossas virtudes. Se o vizinho compra um carro
melhor ou muda para uma urbanização mais cara; se o colega é promovido ou ganha
umas coroas extra com uma regalia; se um companheiro (ou camarada, para os
praticantes da modalidade) alcança um lugar de destaque – se todas ou alguma
destas coisas tiver(em) lugar, dizia –, a tentação de muitos de nós será pensar
e até verbalizar uma ideia que atribua esse avanço a amiguismo,
“lambe-botismo”, “cunhas”, sorte ou até mesmo a suposições sobre actividades a
que, no contexto, atribuímos maior grau de perversidade (atoarda que, pese
embora os progressos na igualdade de género, continua a ser “cuspida” contra as
nossas concidadãs).
Ao mesmo passo, esta mesma “dor de
cotovelo” alimenta rancores que nos distraem, nos debilitam e nos tornam
descrentes.
E é neste último ponto que entronca
uma terceira linha de pensamento: parece-me que não acreditamos no mérito. Em
vez de crermos que, trabalhando como os que têm êxito, podemos chegar a outros
patamares, preferimos refugiar-nos na azia mencionada. E o pior é que, muitas
vezes, temos razão e o sucesso anda divorciado do mérito.
Neste particular e em quarto lugar,
não vale sequer a pena (outras das nossas pechas) passar as culpas para “os
tipos do governo” (embora várias vezes apeteça e outras tantas seja merecido),
pois eles saem do meio de nós. Enquanto não melhorarmos como todo, pouca será a
excelência das partes.
Por fim, uma última nota: em vez de
acreditarmos que podemos ser excelentes quando vemos exemplos de
excepcionalidade como o de Cristiano Ronaldo e outros, preferimos conservar o
nosso obscurantismo medieval e acreditar em homens providenciais. Assim, será
difícil…
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