sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Desenvolvimento paulatino

“Falámos do desenvolvimento paulatino. Eu disse que cada qual resolve por si a questão de fazer o bem ou o mal, sem esperar que a humanidade chegue à solução deste problema pela via do desenvolvimento paulatino. Além disso, este tipo de desenvolvimento é uma espada de dois gumes. Paralelamente ao desenvolvimento paulatino das ideias humanistas, observa-se também o crescimento gradual de ideias de outro género. Já não existe a servidão da gleba, em compensação cresce o capitalismo. E, no auge das ideias da libertação, a maioria continua a alimentar, a vestir e a defender a minoria (…) continuando ela própria faminta, despida e indefesa. Este sistema convive perfeitamente com quaisquer correntes e ideologias, porque a arte da escravidão também de cultiva paulatinamente. (…) Entre nós, ideias são ideias, mas se pudéssemos, mesmo hoje em dia (…), encarregar também os operários dos nossos processos fisiológicos mais desagradáveis, fá-lo-íamos, e de certeza que o justificaríamos dizendo que se as melhores pessoas, pensadores e grandes cientistas, gastassem o seu tempo precioso nesses processos o progresso correria um sério perigo”*.
O texto é um clássico, mas as ideias são quase pós-modernas, tal a actualidade das palavras.
Sou um adepto da economia de mercado - creio que temos aqui o melhor ponto de encontro de vontades - com a intervenção reguladora do Estado; creio que também é isso que faz de mim um social-democrata in the portuguese way.
Porém, pergunto-me várias vezes se não estamos a ir longe demais, tal o grau de consumo supérfluo e de endividamento draconiado. Já o tenho dito, mas repito: chegamos ao ponto em que ganha corpo o receio da criação de autênticos direitos de propriedade sobre sujeitos.
Além disso, emagrece para perto da anorexia a classe média, extremando-se as disparidades sociais.
Falta, a meu ver, uma atitude mais pedagógica por parte dos políticos mais conceituados.
Como canta Rui Reininho na música "Cais" (a mesma de onde nasceu a ideia para o nome deste blog): "se o mercado impera, e vais sempre longe demais/ muito cuidado, quando escorregas sempre cais" (cito de cor).

*Tchékhov, Anton, “A minha vida”, in “Contos de Tchékhov”, vol. V, pp. 222-3, Lisboa, Relógio D’Água Editores, Maio de 2006.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Provavelmente, a melhor equipa do mundo

Se há erros geniais, a SportTv foi autora de um, no passado fim-de-semana (entretanto, já rectificado).
De facto, não escondendo o seu provável e natural entusiasmo com a equipa do Barcelona, o responsável pela publicidade daquele canal desportivo conseguiu pôr o clube da cidade condal a jogar, no mesmo dia e à mesma hora, em Bremen, na Alemanha, e em Sófia, na Bulgária. Tal só estará ao alcance, pensa o "lodo", da melhor equipa do mundo!
Quem me dera que a minha Briosa se pudesse dar a estes luxos...

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Serviço de Estrangeiras sem Fronteiras

Há dias, inseri um pequeno texto sobre o domínio da prostituição.

Mais tarde, vi um noticiário em que se dizia que o Governo tem um texto legal em mente, que penaliza os clientes, se souberem que a(o) prostituta(o) foi vítima de tráfico de seres humanos.
Bem podem dizer que a penalização da prática é apenas um efeito colateral da regulação deste último tipo legal.
Contudo, a meu ver, duas questões se levantam (salvo-seja...): por um lado (salvo-seja II), fica por regulamentar a grande parte da actividade em causa. Podia até seguir-se o interessante caminho (salvo erro, em vigor na Suécia) de criminalizar o utente, mas, nesse caso, deveria penalizar-se qualquer solicitação daquele serviço.
Por outro lado (salvo-seja III), não é preciso ser um expert para imaginar que não seja de esperar que o cliente passe a encetar a abordagem com uma frase do género "desculpe, a menina foi traficada?" ou mesmo com uma solicitação do estilo "fazia a fineza de mostrar o seu passaporte e respectivo visto?"... E mesmo que a hipótese seja de admitir, não me parece normal que venham a obter-se respostas como "sim, vim num camião sob coacção e a minha família está correntemente ameaçada, mas passemos ao preço." ou "concerteza, estou cá, por três meses, em turismo; venha ao meu hotel para confirmar!"...
Francamente, parece mais um controlo de imigração em outsourcing. Já se me disserem que a medida é meramente dissuasora (ninguém deve apreciar depor num processo crime sobre este assunto, por muitas que sejam as hipóteses de arquivamento ou absolvição), ainda vá...
No entanto, até ter força de lei, fica o benefício da dúvida para o diploma.

Finalmente Alegre...


Um ano e um dia depois do anúncio da sua candidatura a Belém, Alegre formaliza o seu MIC com Cavaco e Jaime Gama ausentes no estrangeiro, o que faz com que o poeta seja (temporariamente, graças a deus!!!) a figura máxima do Estado Português em Território Nacional.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Falar em grande

"O Diabo passou ontem por aqui, este lugar ainda cheira a enxofre".
Hugo Chavez sobre George W. Bush, na Assembleia Geral da ONU.
Fonte: edição on-line do DN (hoje).

Show me the Money!

O nosso Ministro da Saúde tem uma tarefa árdua nas mãos: Salvar o Sistema Nacional de Saúde (SNS).

Pessoalmente considero que é um dos maiores conhecedores da realidade e dos problemas do SNS. É teimoso? É. Cometeu erros? Muitos. Mas quem é Ministro, ou melhor, quem toma decisões está destinado a errar aqui e ali. O importante é o balanço final… Apesar de faltar muito até ao final do presente mandato deste Governo, até ao momento a actuação do Ministro tem sido globalmente positiva (francamente mais positiva que no tempo do outro Eng… sim, o Gut… Gut… Guterres. Até custa dizer o nome e já estou com urticária!).

Dito isto, permitam que eu analise uma proposta que se encontra actualmente em discussão. Pretende o actual Ministro que determinados serviços assistenciais de saúde totalmente gratuitos para o utente passem a ser abrangidas pelas políticas de taxas moderadoras.

Na prática, o doente irá passar a pagar uma taxa moderadora em caso de internamento em enfermaria ou cirurgia em ambulatório.

Se por um lado as taxas devem servir para ajudar a colmatar o enorme défice financeiro que afecta a área da saúde, por outro lado tem tido um papel dissuasor da vinda de cidadãos ao Serviço de Urgência quando realmente não se trata de uma urgência médica… Será que ser internado ou ser submetido a uma intervenção cirúrgica é uma opção? Ou não será antes uma necessidade e, conquanto, um dever do SNS prestar este serviço ao doente? Será justo querer diminuir o valor na coluna das despesas à custa do doente que não tem outra opção senão entregar-se ao SNS?

Não tomo uma posição definitiva sobre esta matéria pois ainda não foram divulgadas os pormenores da proposta de lei, baseando-me apenas no que tem sido publicado pela comunicação social. Serve este post apenas como alerta… certamente que mais haverá a dizer sobre este tema. Até lá, opinem! Inté!

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Acabou-se o Papa doce

Quando a violência de muitos fundamentalistas se tornava sangrentamente monótona (tal era a falta de desculpas suculentas), eis que um discurso de Bento XVI é aproveitado para causa dos mais selvagens efeitos, que chegam já, alegadamente, ao assassinato de uma religiosa sexagenária, nesse santuário de moderação e tolerância que é a Somália.
Por cá, desde filmes como a “Última tentação de Cristo” (e outros mais ousados ainda) a caricaturas e anedotas, tudo pode dizer-se com a sanção máxima de ser rotulado de imbecil, desrespeitoso ou reles.

Em face disto – ou seja, desta cultura de tolerância e liberdade – bem podem chamar-me xenófobo os que entenderem como tal a minha ideia de que, de facto, a civilização ocidental está, neste aspecto, a anos-luz de muitos regimes e organizações islâmicas. Notem bem: não uso de uma sinédoque; não se trata de tomar a nuvem por Juno, mas tão só de usar termos comparativos médios.
E é por isso que, mesmo sem entrar nos significados mais recônditos do discurso papal na Universidade de Ratisbona (nem sequer me sinto habilitado, confesso), começo pela tese, em que acredito, de que, mesmo que o Papa tivesse proferido uma catilinária contra o Islão, na pior das hipóteses, isso legitimaria resposta em medida maior e recalcada, mas sempre no âmbito de protestos pacíficos.
Ora, provando que há regimes que terão como único momento digno de apontamento o dia em que forem derrubados, as reacções vão do Qatar ao Irão, onde o líder religioso supremo (falando mal e depressa, o chefe do impagável Ahmadinejad), ayatollah Ali Khamenei, aproveitou para misturar o citado discurso académico com as caricaturas de Maomé, publicadas na Dinamarca, assim incitando a mais ódio contra o Ocidente. A meu ver, tal instrumentalização só pode ter como fim em vista a justificação de regimes que, mesmo quando têm recursos naturais, preferem manter o povo de mão estendida e o menos “globalizado” possível.
Creio mesmo que a substância do discurso de Ratzinger não deveria suscitar grande apreensão: de facto, fé sem razão dá asneira (ligue a televisão…) e, efectivamente, há quadrantes do mundo muçulmano onde a fé tem sido manipulada para justificar a guerra, que tantos inocentes já ceifou, de Israel aos E.U.A., de Madrid a Londres, do Cairo a Bali, e por aí fora…
Acresce que, como escrevi anteriormente, o Islão (parte sonora dele, pelo menos) escolheu envolver-se num jihadismo redutor, que o arredou da cabeça do pelotão do progresso científico, onde foi líder, em séculos (muito) passados.
Poderia Bento XVI ter usado outra citação, que não a de Manuel II, imperador bizantino? Talvez, sobretudo se nos lembrarmos de que o Papa “não nasceu ontem” e de que está familiarizado com a sociedade mediatizada. Porém, se há coisa que temos de bom no Ocidente é o direito ao disparate, com as inerentes consequências em justa proporção, sendo que nem chego a achar que as palavras do Sumo Pontífice tenham sido disparatadas.
Quiçá pudesse ter chegado ao mesmo ponto sem acicatar gente, que bem se sabe que aproveita qualquer justificação para inflamar o ódio, como disse, com a utilização instrumental dos media, a dois níveis: por um lado, sem esforço, apoiando-se na impreparação de muitos jornalistas, já que não só o saber decai de densidade, na universidade de hoje, como os patrões da comunicação social, algumas vezes, preferem contratar barato, em vez de premiar e fidelizar o jornalismo de escola.
Por outro lado, com a noção de que a difusão da mensagem política/social/religiosa é, actualmente, global e instantânea, pelo que, não há volta a dar-lhe: há que medir bem o que se diz, mormente quando se está debaixo dos holofotes. Se até eu, confesso, na modéstia de alguns discursos que fui proferindo, ao longo de anos, percebi que era diferente o modo de expressão (não necessariamente a essência, sublinho) consoante houvesse ou não eco mediático do que havia para afirmar, que dizer de um experientíssimo Bento XVI ?…
Em suma e apesar disso, goste-se ou não de Bento XVI e dos seus discursos, está para vir quem me convença da adequação da fúria islâmica (onde ela se manifesta, já que há um Islão pacífico, que cumpre louvar, e de que é exemplo a comunidade portuguesa). No meio de tudo isto, um dado positivo: ao apelar à moderação das reacções muçulmanas, talvez a Comissão Europeia permita ter esperança de que a União tenha deixado de se envergonhar cada vez que se fala na herança judaico-cristã do projecto europeu. Tal assunção não significa que se enjeitem outras culturas, mas tão somente prestar homenagem a um legado decisivo para o que somos hoje. Wishful thinking?! Talvez…

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Uma candidatura conveniente

Fui daqueles que, em 2000, desejei a eleição de Al Gore como Presidente dos E.U.A. (tendo, inclusive, feito downloads do seu programa eleitoral e dos seus discursos, ainda hoje actuais).
Dada a relevância daquela grande democracia, creio que o mundo seria, nos dias que correm, um lugar melhor para se viver.
Visto o filme/documentário "Uma verdade inconveniente" e os seus constantes apelos à mobilização cívica (na boa tradição anglo-saxónica), escuso-me de analisar a sua relevância, algo que foi e será muito mais bem feito por especialistas da área científica e, por que não, do sector cinematográfico.
O que queria contar-vos é que, em certas passagens biográficas, fica-nos a sensação que não estará de parte (antes pelo contrário) uma recandidatura à Casa Branca.
Seria um momento feliz para o sistema de relações internacionais, digo eu...

O nosso fatum

É assinado hoje o protocolo entre Bruce Bastin e o Ministério da Cultura e a CML que vai trazer para Portugal oito mil registos fonográficos de fado por um milhão e cem mil euros. Apesar de na colecção se encontrarem algumas raridades, a maior parte é constituída por discos vulgares. Mas como em Portugal as coisas se fazem à pressa, assim que o sr. Bastin disse que tinha a colecção o MC comprometeu-se a comprá-la, só depois foram enviadas equipas técnicas...

Sirva de consolo que efectivamente existem algumas peças preciosas que vão tornar a Portugal e que esta compra pode ter um efeito muito positivo no projecto de Candidatura do Fado à Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade (UNESCO).

O espólio vai ficar no Museu da Música, mas vai ser estudado e catalogado pelo Museu do Fado.

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Juntaram-se os três à esquina

Realiza-se, hoje, em Brasília, um encontro entre os Presidentes do Brasil e da África do Sul, e o Primeiro-Ministro da Índia.
À partida, parece algo banal mencionar a cimeira, que visa dar força e relevância económica a uma aliança que formaram, há três anos.
Contudo, pondo os óculos de leitura política, vários são os factos que, topicamente, podemos apontar:
  • Trata-se de três potências emergentes do mundo actual, com relevância só suplantada - para além dos crónicos E.U.A., U.E. e Japão - pela China e pela Rússia, a meu ver.
  • São países que reivindicam um lugar permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (para horror da Argentina e do Paquistão, por exemplo). Não digo que sejam os candidatos ideais, mas, de facto, fica por perceber, hoje em dia, a hegemonia das potências vencedoras da II Guerra Mundial naquele clube de elite.
  • Eis mais um eixo que se forma para contornar a antiga (já lá vão uns séculos) e decrépita supremacia ocidental (EUA & UE, entenda-se), à semelhança do regabofe que se vai instalando no resto da América Latina.
  • Quem achar que isto não é relevante, veja melhor: basta mencionar que se trata de nações riquíssimas em recursos naturais e que, por exemplo, a Índia tem a maior classe média do mundo, está no pelotão da frente de sectores como a electrónica e a informática, domina a língua inglesa e é uma democracia.
  • A África de Sul é líder, no continente africano, só se antevendo novidades adicionais, a breve trecho e por aquelas paragens, da Líbia.
  • O Brasil tem papel preponderante em iniciativas de integração na América do Sul, como o Mercosul, a que preside nesta altura.
  • É uma pena que não se lhe atribua, de uma vez por todas, a liderança de facto da CPLP, o que aumentaria geometricamente a importância da organização e, consequentemente, a nossa força junto da UE, de quem dependemos excessivamente, em meu entender.

Em suma, creio que há muitas dependências a combater em Portugal; a que nos liga quase exclusivamente à União Europeia é mais uma.

Não me entendam mal: a União Europeia foi a salvação de Portugal, que sem ela seria uma outra Albânia. Porém, fomos do oito do pós 25 de Abril ao oitenta "euro-histérico" de muita da actual (falta de) classe política.

Estou em crer que ainda seriamos mais escutados na União, se diversificássemos os nossos pólos geopolíticos.

Não ver boi disto

Cá para mim, o "Engenheiro do penta" não tem unhas para semelhante guitarra...

Fica o aviso do "lodo" à nação benfiquista.

Já ouviram falar da Pateira?


A Pateira de Fermentelos (concelho de Águeda) é simplesmente a maior lagoa natural da Península Ibérica. Carinhosamente conhecida como a «Lagoa Adormecida», a Pateira tem uma vasta riqueza de fauna e flora. Até agora parece tudo bem, mas esta pérola da natureza há muito que vem perdendo o seu brilho.

Como se não bastassem as sucessivas descargas que durante anos poluíram a Pateira (se é que não continuam a poluir), deparamo-nos agora com a praga dos jacintos que vai matando tudo o que de bom existe na lagoa. Provavelmente desconhecida para grande parte da população portuguesa, a Pateira é contudo conhecida por todos os que passaram pelos sucessivos governos deste país. De facto o actual PM José Sócrates não é excepção, mas de certo já caiu no esquecimento a visita que fez a Fermentelos enquanto Ministro do Ambiente.

Não o censuro, pois com tantos «choques tecnológicos» e «simplex» a memória não dá para tudo. Só espero que a memória do actual Presidente da Câmara de Águeda não esteja tão ocupada, pois parte da sua vitória nas últimas eleições deveu-se à grande promessa eleitoral de encontrar uma solução para a Lagoa Adormecida.

Infelizmente uma Junta de Freguesia como a de Fermentelos sente-se impotente para resolver o problema por si só, pois num país em crise o dinheiro não nasce das árvores e sem apoios não se vai a lado nenhum.

Como fermentelense, e porque a esperança é a última a morrer, quero continuar a acreditar que a Pateira não vai adormecer de vez.

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Mais um chumbo!




Apesar das paixões, dos empenhos e dos discursos, continuamos atrasadíssimos no que toca à educação. Segundo o relatório Education at a Glance 2006, da OCDE, somos o povo que menos tempo passa na escola. Não, não é por aprendermos mais depressa. É que, e. g., da população entre os 25 e os 34 anos só 40% acabaram o ensino secundário!



Temos de acabar com as mudanças anuais de programas, com as alterações sistemáticas dos exames e provas globais e, terminantemente, com o facilitismo que se instalou também nas nossas escolas.


Um país que não pensa é um país que não cresce!

terça-feira, 12 de setembro de 2006

O efeito da crise sobre os saldos

Alertado por um amigo, li o anexo à mensagem de correio electrónico, que visava sublinhar o quão fundo (salvo-seja) já chegou a crise, no nosso País. A notícia é do meu estimadíssimo (a final de contas, já lá vão quase 12 anos de artigos...) Diário "As Beiras", na sua edição de 7 de Setembro:

"Figueira da Foz - Crise obriga prostitutas a fazerem “saldos”
'Quando a crise chega ao prostíbulo, é porque o país está mesmo mal', fala a voz da experiência. As coisas não podiam estar pior, havendo quem já corte nas refeições e faça 'saldos'.Os anúncios publicados nos jornais diários da região são cada vez mais 'picantes' e apelativos. Porém, e não obstante a concorrência estar a diminuir - há cerca de 20 prostitutas na cidade com anúncio nos periódicos -, a clientela é cada vez menos. As representantes da profissão mais antiga do mundo na cidade apontam o dedo à crise económica.'Até ao início deste ano, bastava–me ter o anúncio num jornal. A dada altura, não sabia se havia de atender o telemóvel ou os clientes, tantas eram as solicitações. Agora, tenho anúncios em dois jornais e o telefone toca cada vez menos', conta 'Lara', vamos chamar–lhe assim, prostituta brasileira. E sintetiza: 'Quando a crise chega ao prostíbulo, é porque o país está mesmo mal'."
Rendimento social de inserção?
Subsídio de desemprego?
Programa "Convívio na hora"?
A brincar que o digamos, duas coisas são certas: por um lado, isto está mesmo mau. Por outro lado, para as profissionais em causa só não solução porque continuamos a fingir que a prostituição não existe, tal qual como ainda se faz em relação a muitas vertentes da toxicodependência.

Minaram o Obikwelu

Todos nos recordamos do candidato a candidato Presidente do PSD, Dr. José Alberto Pereira Coelho.
Relativamente à sua demissão de Presidente do Conselho de Administração do Hospital Psiquiátrico do Sobral Cid, em Coimbra, aconselho o artigo de opinião do socialista “europeu” Fausto Correia.

Apanha-bolas resolveu

Em Portugal lembro-me de pelo menos de um caso polémico em que o protagonista era um apanha-bolas e não um qualquer dirigente, comentador, jogador ou árbitro. Se a memória não me falha era um tal de “Bambo” que jogava na União de Leiria e que atirou um apanha-bolas madeirense ao chão visto que este estava a demorar em retribuir-lhe a bola de jogo. Não me recordo do desfecho, mas dizia-se que o tal “Bambo” iria ser suspenso!
Agora no nosso País irmão, relativamente a apanha-bolas, o “forrodobó” é muito mais interessante!
No Grupo 3 da Taça da Federação Paulista de Futebol, num jogo entre o Santacruzense e o Atlético de Sorocaba, após um remate às malhas laterais de um jogador do Santacruzense, o apanha-bolas “matador”, aproveitando o facto de a árbitra (olha o Petit fazer o que fez este fim de semana a uma árbitra, arriscava-se a ser acusado de assédio!), uma senhora com o nome de Sílvia Regina de Oliveira, estar de costas, empurrou a bola para dentro da baliza!
Pasme-se que o árbitro auxiliar, vulgo bandeirinha, validou o golo, induzindo a Sra. Dona Regina em erro!!!
A direcção do Sorocaba, à boa moda do Gil Vicente cá do burgo, promete ir até às últimas instâncias.
A Federação de Futebol do Estado de S. Paulo, diz que legalmente, nada pode fazer porque o golo está registado no relatório oficial entregue pela árbitra no final da partida.
De referir que o jogo acabou empatado a um golo e o Sorocaba perdeu a liderança do campeonato

Olha quem fala também

De Santana Lopes (seguimos, mais uma vez, o DN), ainda sobre pactos, lê-se que "o antigo primeiro-ministro diz que o elogio 'não é só por uma questão de coerência', mas sobretudo porque já esteve no passado empenhado num pacto do mesmo género. 'A 10 de Agosto de 2004 fiz a apresentação de um pacto na Justiça(...)' ".
Voltou...

Triste Manuel...

Que o Ricardo Leite, aqui no "lodo", se interrogue sobre a eventualidade de um bloco central é justo, e é para isso mesmo que serve este blog.
Já que Manuel Alegre, que defraudou milhares de seguidores ao provar que a aventura presidencial foi um dos seus muitos exercícios de narcisismo (veja-se a irrelevância política do seu MIC - Movimento Intervenção e Cidadania), venha vociferar contra essa hipótese, sabe a pouco, sobretudo se nos lembrarmos de que a última vez que ouvimos falar do Deputado foi a propósito de uma reforma recebida (algo de acessório, portanto).
Do Poeta de Águeda diz o DN, na sua edição de hoje, que "desagradado com a insistência de Cavaco Silva em pôr o Governo e o PSD a "fazerem a meias" a reforma da Segurança Social, Alegre dispara: 'Dá a impressão que o Presidente da República está interessado em influenciar a governação através da reconstituição do bloco central por ele inspirado e dirigido'.
Se isto não é a necessidade de fazer uma prova de vida, então mais valia remeter-se ao grau de actividade do MIC: zero!

sábado, 9 de setembro de 2006

«Bloco Central» na Justiça


"O acordo entre o PS e PSD para a Justiça, ontem assinado no Parlamento, prevê que os grupos parlamentares daqueles partidos votem favoravelmente, na generalidade, as iniciativas legislativas relativas à revisão dos Códigos Penal e do Processo Penal."
in O Primeiro de Janeiro
Será o primeiro passo no sentido do BLOCO CENTRAL em 2009?

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Os amigos e as ocasiões






O Ministro dos Negócios Estrangeiros vai, hoje, ao Parlamento, explicar os voos da CIA e da Força Aérea Israelita, que passaram pela base das Lajes.

Vejamos alguns pontos que se me oferecem comentar sobre este assunto:

O que mais me preocupa é saber até que ponto estão a fazer gato-sapato da nossa soberania; isto é, gostaria de apurar se os governos responsáveis pelos aviões que por ali passaram tinham ou não de nos passar cartucho ou se, tendo passado, é uma informação que deve ser mantida confidencial (algo que me parece razoável).


Os media actuais, achando-se mais legitimados do que o poder político, não têm a lealdade de explicar à opinião pública que a política externa e a política de defesa são áreas nas quais o segredo pode, desde que proporcional e excepcional, justificar-se.


Depois, há que optar: ou temos aliados, ou não. A verdade é que, num conflito contra movimentos terroristas que assassinam inocentes, sem qualquer respeito por qualquer princípio de humanidade, e Estados de Direito e democracias como os E.U.A. e Israel, a minha escolha é por estes últimos.


Não me parece que seja atropelo sequer comparável ao dos criminosos da Al Qaeda e do Hezbollah transportar clandestinamente prisioneiros para centros de detenção, onde, mercê da natureza quase incontrolável do fenómeno terrorista, estarão sujeitos a procedimentos menos ortodoxos, mas, ainda assim, muitíssimo mais humanos do que os que os interrogados usaram contra homens, mulheres e crianças inocentes. Como é óbvio, menos ainda me horroriza que se transporte material bélico, seja ele ofenseivo, defensivo, não ofensivo ou qualquer outra palermice que lhe queiram chamar. É para um exército democraticamente supervisionado (veja-se que Israel abriu um inquérito sobre a actuação das suas forças armadas, algo que só deve existir no Hezbollah quando o criminoso não consegue suicidar-se ou matar em número suficiente...) e não para semear o horror entre civis, como as armas que a Síria e o Irão fornecem ao chamado Partido de Deus.


Claro está que um processo como o de Guantanamo só é sustentável enquanto for excepcional, temporário e não envolva tortura ou qualquer outro apoucamento sádico do ser humano. Ainda assim, se estiver em causa salvar "n" vidas inocentes, concedo que há que admitir alguma latitude no "diálogo". Mesmo aqui, repare-se que os E.U.A. ordenaram, de imediato, inquéritos aos infames casos da prisão de Abu Grhaib, no Iraque.


Por mim, face à barbárie de certos canalhas, do Médio Oriente à Chechénia, não hesito em tomar partido.


Como não nascemos ontem, recomenda-se atenção para o previsível e apalhaçado comportamento de alguns deputados, como os do Bloco de Esquerda...

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Low Profile

Paul Cézanne (Colecção Rau)
Apesar de vivermos na era mediática ainda há quem escolha ser low profile.

É o caso de Gustav Rau, o jovem de Estugarda que além de médico foi filantropo e colecionador de obras de arte. Quando em 1970 Rau herda a fortuna do pai decide dar-lhe um destino pouco habitual: constrói um hospital em Bukavu, no Congo, onde fica a exercer medicina e passa a deslocar-se à Europa ou a New York duas vezes por ano para comprar obras de arte. Sempre discreto, poucas histórias há a contar sobre ele. Mesmo assim, em pouco mais de 30 anos adquiriu cerca de 800 peças entre pintura, escultura e mobiliário.

Quando morreu, em 2002, não deixou nenhuma fundação para perpetuar o seu nome, mas ofereceu toda a colecção à UNICEF alemã com algumas condições:
  • Devia ser feita uma selecção das peças para serem mostradas em todo o mundo
  • Ao fim de 25 anos a UNICEF alemã poderá vender a colecção, no seu todo ou em partes, para financiar o seu trabalho de assistência humanitária.

É esta selecção, cerca de 100 peças de pintura, que está à nossa disposição nas Janelas Verdes até 17 deste mês. E a colecção não desilude. Nâo tanto pelos grandes artistas: Fra Angélico, El Greco, Canaletto, Monet, Manet, Renoir, Cézanne, Degas como pela amabilidade que perpassa pela colecção. Amabilidade que espelha certamente o coração do homem que a reuniu.

The show must go on

Faria hoje 60 anos a mais notável voz da história do rock.
A opinião é pessoalíssima, mas creio que todos me acompanharão no reconhecimento de que Freddie Mercury era um cantor e uma personalidade impar.
Desde a amplitude da sua voz, às melodias que criou a solo e para os Queen, passando pela sua inegável cultura artística, e terminando no modo deliberadamente louco como decidiu viver (e deixar de viver, acrescento), recordamo-nos de uma série de pormenores que, ainda hoje, nos levam a comprar com gosto um qualquer disco com a sua voz, a menos que, como eu, já tenhamos todos na colecção...

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Fala quem sabe

Da "globoesfericamente" famosa Universidade de Verão do PSD retive, entre outras coisas, a interessante palestra de Miguel Monjardino que, como era de esperar, incidiu muito sobre o estado de coisas no Médio Oriente. Citando de cor e sem o mesmo engenho, há pontos que me parecem de ponderar:
  • ocorre, no Médio Oriente, a transição para líderes que exacerbam os sentimentos religiosos e que cada vez mais se comportarão como Ahmadinejad.
  • a religião será ponto determinante no choque de perspectivas (de civilizações, segundo Huntington), como provam, a contrario, os fracassos dos regimes laicos de base muçulmana (acrescento eu, a propósito, que a União Europeia devia gerir com pinças e urgência os casos da Bósnia-Herzegovina, da Albânia e da Turquia).
  • o Líbano, sendo um caso claro de actuação procuração de milícias extremistas, não terá paz a breve trecho, ficando por perceber os custos que as opiniões públicas europeias aceitam pagar (poucos, digo eu) por um protagonismo diplomático não muito lógico, na óptica muitos eleitores. Lembre-se ainda que o ocaso da influência predominante da geopolítica europeia se deu, em meados do século XX, não muito longe, no Canal de Suez.
  • o Irão e, sobretudo, o Paquistão (a chave do que se passa no Afeganistão, por exemplo) são os grandes problemas, no imediato. A lembrar que o segundo já tem armas nucleares e tem muito mais instabilidade interna do que a antiga Pérsia.
  • os Estados islâmicos (para evitar reportar-me à própria civilização), nas últimas décadas, não produziram uma só inovação (científica, cultural ou outra) de relevo para o futuro da humanidade. Relembro que, no passado, das partidas muçulmanas do globo vieram incontáveis avanços.
  • o Médio Oriente vai dar-nos muitas e grandes dores de cabeça, nos anos vindouros.

Se bem sumariei e adornei, há sempre que destacar os actores sociais que realmente acrescentam à nossa capacidade de perspectiva ou, pelo menos, de prospectiva. Miguel Monjardino é um desses casos; oxalá alguma força política consiga persuadi-lo a emprestar o seu saber à administração da res publica.

Com a endogamia partidária actual, confesso-me céptico.