segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Mundo a Alta Velocidade

Como muitos dos meus congéneres, dou uma volta frequentemente na Internet, pelos principais jornais mundiais de língua inglesa, alemã, francesa, italiana e portuguesa, esta ultima por ter sido a minha primeira língua, a da minha Pátria, e as outras por terem sido as que aprendi e utilizei na minha profissão comercial.

Quando viajava, lia logo de manha, no hotel , durante o pequeno almoço, as noticias vindas de longe, uma maneira de me aproximar, em pensamento, da minha casa e dos meus. Em Tokyo, foi no Asahi Shimbun,de língua inglesa, que soube da mini revolução francesa de Maio 1968, e da fuga de De Gaulle para a Alemanha. No meu regresso, a minha firma estava "ocupada" pelo pessoal!

Hoje, não sei se teria tempo para ler tudo o que o mundo proporciona como informação! 

Depois do homo erectos, o homo sapiens e o homo sapiens sapiens, veio a era do homo numericus!

Talvez pareça de mais, mas o salto para a frente da humanidade inteira, foi extraordinário.

Basta olhar como as crianças de 5 anos se servem duma tablete numérica, ou dum iPhone...

Quem não se sentiu envelhecer ao ver os miúdos manipular esta técnica com agilidade e percorrer o ecrã táctil a toda a velocidade!

A maneira como trabalhamos, nos deslocámos, nos encontramos, comunicamos, analisada vinte anos atrás , ter-nos-ia parecido pura ciência ficção! Para o melhor ou para o pior, segundo o carácter de cada um.

Há quem considere, de facto, que a humanidade vive hoje sob a ditadura da tecnologia, escrava dos robots. Quantas vezes se consulta o telefone por dia? 150 vezes segundo um estudo recente! Melhor: Um estudo da universidade de Chicago, Booth Business School, diz-nos que os jovens de 18-25 anos estão mais interessados pelo Facebook ou Twitter que pelo álcool  o sexo ou mesmo o tabaco. E ainda melhor (ou pior !): 3% dos Australianos consultariam o Facebook durante uma relação sexual! Surpreendente!

Estar conectado em permanência, responder imediatamente, estar aqui e ...além .. ao mesmo tempo, tudo isto faz parte dos representantes da nova família dos "e-hominidios".

O cérebro do homo numericus é assim submetido a um fluxo constante de informação que acaba por modificar a sua maneira de pensar. Ele faz zapping sobre as informações, funciona por associação, sintetiza os dados, difunde-os, classifica-os e, o mais das vezes... esquece-os!

Como não tem tempo para esperar, dá o sentimento que não tem tempo para compreender.

Agora, tudo deve ser instantâneo, resumido, mastigado. Os jornais televisivos resumem excessivamente as situações e privilegiam a informação bruta com prejuízo da análise. Uma ideia, um pensamento é transmitido instantaneamente em SMS, deve comportar um máximo de 140 linhas (Twitter), deve fazer "mouche" e deve" buzzar". Senão, ela não existe! 

Os campeões da comunicação politica compreenderam muito bem o sistema. Eles contam sobre o reflexo, mais que sobre a reflexão.

Como nos jogos de vídeo: a rapidez é mais importante que a reflexão! O problema, é que toda esta rapidez, toda esta azáfama que impede a reflexão, é o tempo livre que se vai! Ora o tempo livre, como cada um sabe, é também o da reflexão, da contemplação, da introspecção. Este é um tempo útil para se conhecer e conhecer o mundo que nos envolve.

Tendo dito isto, mesmo se o perigo existe do desenvolvimento dum certo autismo social, de desconexão da realidade, também não há duvida nenhuma que aumentamos a nossa capacidade a tratar a informação. Por isso, vamos lá adaptar-nos, custe o que custar. Não vale a pena, portanto, arrancar-nos os cabelos ( aqueles que os têm !), pensando que as novas tecnologias vão matar o homem!

Não era Sócrates que dizia "O que faz o homem, é a sua grande faculdade de adaptação"? Aproveitando, pois, Internet no seu aspecto mais prático e porque no Natal o nosso espírito se abre à esperança, gostaria de deixar aqui , a todos os meus leitores e amigos, assim como à direcção e aos colaboradores do "LODO" e respectivas famílias, os meus votos dum Bom Natal, a festa da família por excelência, afastando assim por algum tempo, sem os esquecer, os problemas numerosos e preocupantes do momento e o espectro negro do mundo que nos prometem para 2013. 

E que o solstício de Inverno, que começa no próximo dia 21 de Dezembro, não nos traga o fim do mundo, que o Grande Ciclo Temporal Maya teria anunciado! Pela minha parte, como astrónomo amador, vou pegar no meu telescópio para observar, ao pôr do sol, a queda do planeta Vénus no horizonte ocidental e assistir, no leste, à nascença da constelação das Plêiades! 

 J. Freitas Pereira

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O chico esperto do Costa

O alcaide da capital é aquilo a que comummente se chama de chico esperto.

Só que o PSD é mais elegante  no trato, diria! Mas se assim não fosse, podia responder na mesma moeda, desafiando José Sócrates a concorrer contra o licenciado-equivalente.

António Costa não faria nada que não tivesse já feito. Apoiar o engenheiro, de quem foi n.º 2.

Como a democracia vive de alternativa, o resultado do conclave seria uma verdadeira incógnita.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Encarceramento

Aqui há umas luas dei comigo a especular nesta página sobre a influência que teria tido o colapso da União Soviética no desmando actual da economia de mercado.

Continuo a suspeitar de que, sendo um sistema cruel para os que viveram sob a sua égide, era a sua existência que obrigava as ditas democracias de estilo ocidental a manter padrões elevados de dignidade humana, que serviriam para demonstrar que nós é que sabíamos tratar bem dos nossos.

Sendo que a China está empenhada em, sem desmanchar o sistema político, demonstrar que a versão asiática da economia é tão liberal como as outras, a falta da “cortina de ferro” fez cair o último biombo de pudor que travava a descarada afirmação da posse e da propriedade sobre a própria existência. Somos o que temos, e a maioria de nós tem cada vez menos, pelo que…

…pelo que, entre outras coisas, arriscamo-nos a dar razão à teoria marxista, precisamente pela aplicação desenfreada dos pressupostos da construção teórica que a desmente. Vejamos: é ou não verdade que cada vez menos sujeitos lucram, enquanto os demais definham, contando tostões para pagar bens essenciais como comida, roupa, educação, saúde e habitação? O que nos leva ao jargão comunista e à “apropriação da mais-valia”…

E se a conflitualidade social que vemos nas ruas ainda não é “luta de classes”, nenhum de nós pode dizer que percebeu onde tudo isto vai parar se continuarem a apertar um cinto que, um dia destes, pode tornar-se forca.

Sublinho, entretanto, que não escrevo contra qualquer governo, mas sim sobre a percepção que tenho dos excessos em que caímos na época pantagruélica (em que tudo se comprava e vendia) e na era famélica (a de hoje, como está bem de ver…).

E se, por um lado, antevejo o perigo da recuperação de popularidade por parte de um ideal que, tendo componentes intelectualmente válidas, se provou já irrealizável, por outro lado, assistimos à sorrateira ascensão de outro flagelo: a extrema-direita.

De facto, nos países do Norte e Leste da Europa, integrem ou não os governos e parlamentos, cresce a demagogia populista de partidos tributários de algumas das mais sangrentas atrocidades cometidas em nome de uma ideologia. As razões, a meu ver, nem são tão inexpugnáveis: é muito fácil culpar os “outros” (leia-se imigrantes, mormente se a raça não for a mesma) quando escasseiam os empregos (mesmo quando estes desempenham tarefas que os nacionais se recusam a fazer). Por outro lado, é tão fácil ser adepto das organizações supranacionais (como, por exemplo, a União Europeia) quando a cornucópia jorra, como nacionalista e xenófobo quando chega altura de, nesse quadro, ser solidário… Todavia, a isso chama-se cinismo e cobardia.

E o pior é que o corredor entre estas duas assombrações está cada vez mais estreito…

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Descartáveis

Notícias do dia de escrita (na quinta-feira passada): duplicou o número de casais com ambos os cônjuges desempregados (creio que em relação ao ano transacto) e a DECO tem mais de cinco mil processos de pessoas que não conseguem pagar as suas dívidas.

Se somarmos isto ao chorrilho de notícias anteriores (e, aposto, ulteriores) sobre impostos, sobretaxas, falências, aumento do custo da Saúde e da Educação e pragas afins, fica a noção de falta de futuro…

Sendo o ser humano uma criatura que precisa de objectivos e que se norteia pelo estímulo de uma vida melhor, confesso-me desorientado no que a mim diz respeito e assustado pelo que toca aos que hoje são jovens.

Faz-me especial impressão as notícias de que o Estado tem “x” trabalhadores a mais ou que o sector industrial “y” vai dispensar “n” trabalhadores… E, dito isto, eis-nos chegados ao tema: não me entra na cabeça a noção de seres humanos descartáveis!

Passando o exagero mórbido, fica a sensação de que, com as cartas de despedimento, mais valia darem um revólver ou uma corda já com o laço feito para que os visados deixassem de ocupar um lugar no Mundo que, agora, parece indevido.

Com o recuo permanente da actividade económica e com a crescente e inexorável substituição de seres humanos por máquinas (por exemplo, pude constatar, recentemente, que as auto-estradas francesas, se bem vi, não têm já qualquer portageiro) torna-se premente pensar o que fazer a legiões de pessoas a quem, em termos práticos, estamos a dizer que já não prestam para nada, que não servem para o que quer que seja.

Que futuro tem um desempregado de quarenta e muitos ou cinquenta anos? Que lugar reservamos para pessoas sem habilitações específicas? Que dizemos a jovens que mandamos estudar e a quem, depois de altamente qualificados, dizemos que não estamos bem a ver que utilidade possam vir a ter?

A trama torna-se tétrica se a isto juntarmos o seguinte paradoxo: é normal que as pessoas não achem bem trazer crianças ao mundo, neste contexto; porém, se o não fizerem mais se arruína o já debilitado Estado Social, que carece de muita gente activa para sustentar os que, merecidamente, chegaram à idade de repousar ou os que ficam doentes ou perdem o emprego. Em relação aos primeiros ainda poderíamos especular sobre a injustiça do caminho contemporâneo que não apenas os priva de fatias consideráveis da sua pensão, como aponta para que se torne regra morrer a trabalhar, perdendo-se o justíssimo período de fruição a que costumamos chamar reforma.

Não sei mesmo o que pensar de civilizações que dizem a grande parte dos seus que estão a ocupar espaço. E vem-me à cabeça o filme “Soylent Green” (protagonizado por Charlton Heston), no qual as pessoas são incentivadas a morrer mais cedo (uma espécie de eutanásia sem doença), vindo a saber-se, mais tarde, que o propósito era reconverter os seus cadáveres no único alimento que o comum cidadão podia adquirir… Folgo com o facto de (ainda) ser ficção.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Glória em saldo

Tive o privilégio de assistir aos dois jogos entre a Académica e o Atlético de Madrid. Assim, com alguma ginástica financeira e guardando férias para o efeito, cá fui de África à Pátria, com a certeza de que iria presenciar momentos únicos de uma devoção de anos e com a sensação de que poderia ser em letra grande que se escreveriam mais umas páginas de uma gloriosa e briosa História recente.

Se em Madrid “estava bonita a festa, pá” (adaptando a canção do enorme Chico Buarque) e a prestação foi digna, já em Coimbra a coisa adquiriu contornos épicos. Efectivamente, os poucos espanhóis que foram ao Estádio Vicente Calderón viram uma equipa com um orçamento centenas de vezes menor mostrar que a beleza da competição desportiva está não apenas no potencial de cada atleta, mas na capacidade de superação que o grupo encontra, mormente quando enquadrado por uma instituição que transmite uma maneira peculiar de estar no desporto e na vida, designadamente através dos seus adeptos (destaque para a imensa e intensa Mancha Negra) e dirigentes.

Em Coimbra, este sortilégio ganhou foro de prova concludente; a incansável claque (e mais “meia dúzia” de adeptos individuais) transcendeu-se e a equipa jogou o que sabia e o que não sabia, derrotando nada mais nada menos que o detentor da Liga Europa. Alguém na Europa de Futebol (tirando os academistas) imaginaria uma noite assim? E nem vale, como cortesmente reconheceu o treinador adversário, brandir a carta da falta de cinco titulares (que, aliás, foram poupados em todos desafios europeus anteriores, sobretudo no caso de Falcão); esse é um problema do Atlético, que percebeu que a camisola em si não mete medo a ninguém…

O “senão” de tudo isto é vermos uma Cidade cheia de tradição que não sabe honrar uma das poucas instituições que ainda lhe dá projecção nacional. A assistência ao jogo em casa foi miserável, vergonhosa e mesmo acintosa para os atletas que, repito, foram extraordinários.

Ponhamos, porém, as coisas en su sitio: têm as pessoas de Coimbra obrigação de ir ao futebol? Obviamente, não. Valeria, todavia, a pena que não se reunissem, quase todos os dias, a pedir mais e a criticar o que é feito. É básica a lição de Cícero sobre a necessidade de envolvimento cívico para os que desejem influenciar positivamente uma colectividade. E note-se que, perante esta omissão, se torna legítimo concluir que a esmagadora maioria da Cidade e da Região “está-se nas tintas” para o escalão em que milita a equipa ou para o grau de fidelidade académica observado.

Chega a parte em que pode ser brandido o elemento da carência económica das pessoas, o que, em muitos casos, será sério e respeitável. Contudo, a deserção é muito anterior à crise, relembrando eu que há bilhetes de época mais baratos do que a assinatura de um mês da SportTv, desculpa comum para muitos que ficam a ver o Benfica ou o Real Madrid…

Voltaremos ao tema…

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Passado, Presente e Futuro

Esta coligação está ferida desde o primeiro dia quando aceitou coligar-se com o CDS sem a presença do PS. O CDS é predominantemente um partido populista, tal como o BE ou o PCP, se bem que em campos opostos e defendendo políticas diametralmente opostas, mas sua base de apoio é muito frágil e volátil e por isso muita adverso a medidas impopulares.
 
Com este ponto de partida, o governo até começou bem, apresentando um plano de reformas ambicioso, um caminho para ultrapassar as dificuldades existentes, um compromisso forte relativamente ao cumprimento do memorando da Troika e uma estratégia para reganhar a credibilidade externa, o que o fez, com muito sucesso.
 
Com mais ou menos percalços, o governo foi cumprindo, não seria o facto das primeiras reformas serem da responsabilidade de um Ministro com telhados de vidro, refiro-me a Miguel Relvas e a reformas como o fim dos Governos civis, a fusão/extinção de municipios e freguesias e a reestruturação do sector público de comunicação social, com especial destaque para a “vaca sagrada RTP”.
 
Este para mim foi o segundo erro do governo, a opção Miguel Relvas. Com dossiers tão importantes, esta pasta pedia alguém como Paulo Macedo, intocável, com créditos firmados, e com uma estratégia clara como temos visto na pasta da Saúde.
 
No verão do ano passado, num artigo que escrevi para este blog e a propósito deste tema, terminava a desejar que o período de férias fosse bom conselheiro e que na rentrée, Miguel Relvas já não fizesse parte do governo. Mais um vez o governo confundiu, autoridade, perseverança e linha de rumo, com fragilidade. Demitir Miguel Relvas nunca seria entendido como um sinal de fraqueza , mas sim uma correcção de trajectória, o reforço da autoridade e da coesão do governo e finalmente um sinal importante para Portugueses, mostrando uma forma diferente de fazer política.
 
Como sabemos não foi nada disto que aconteceu, a grande reforma autárquica ficou-se pelo elo mais fraco, as freguesias e no caso da RTP, tudo indica que a montanha pariu um rato.
 
Terceiro erro ou inabilidade, a comunicação. Sabíamos à partida, que a tarefa seria difícil, que a corrida contra o tempo seria um dos factores chave e que qualquer reforma contra-cíclica seria ostracizada e destruída pelos interesses instalados, pelas corporações e finalmente pelas lógicas partidárias.
 
Para o sucesso do programa de ajustamento e consequente reforma das funções do Estado, teria sido importante contar com um PS forte, seguro e cooperante. Convém neste caso, perceber porque é que o PS e António José Seguro, aparentemente fizeram tudo ao contrário. Recordemo-nos, que quando António José Seguro ganha as eleições internas, encontra um partido completamente fragmentado, Soaristas, Alegres, Socratistas e finalmente alguns Seguristas que na falta de uma alternativa melhor, lhe deram a vitória. Ora, é sabido também, que António José Seguro e Pedro Passos Coelho para além de serem da mesma geração, partilham convicções idênticas, tinham um boa relação pessoal e por isso tudo indicava que um ciclo de cooperação entre os dois mais importantes partidos da democracia Portuguesa pudesse ter sido uma realidade.
 
O que é que aconteceu então? Nada fora do habitual, apenas a velha forma de fazer política e porquê?
 
Desta vez a culpa não foi de Pedro Passos Coelho nem do PSD, foi da lógica partidária, que mais uma vez imperou sobre o interesse Nacional. Recordemo-nos que AJS ganhou as eleições não porque fosse o líder desejado, mas porque foi o único que se mostrou disponível e dadas as circunstâncias de partida, qual poderia ser a estratégia para unir o PS e afirmar a liderança ? Vem nos livros, encontrar um denominador comum, um inimigo contra quem todos se identifiquem, elaborar um discurso e uma retórica de ataque por forma a branquear o passado, reciclando assim, muitos dos responsáveis que levaram o País à bancarrota.
 
Perante esta estratégia irresponsável do ponto de vista do interesse Nacional, mas lógica do ponto de vista partidário, quem poderia substituir o PS nesta cooperação tão desejada? Apenas o Presidente da República, mas como também já escrevi, de Cavaco Silva pouco ou nada podemos esperar, pois a interpretação que faz dos poderes que na realidade tem, é minimalista, pequena e confinada à magistratura de influência. O silêncio tem sido o “modus operandis” e a verdadeira função, que era a de obrigar os partidos do arco da governação a um entendimento e à consensualização de um documento estratégico Nacional para a próxima década, tarda e nunca será uma realidade.
 
Com mais ou menos sucesso, passámos com nota positiva a 6ª avaliação da Troika, mas mais do que nunca, chegou o momento crucial para demonstrar aos nossos credores e parceiros internacionais, que Portugal cumpriu, com sangue suor e lágrimas, mas que os resultados estão muito aquém do esperado. Porquê? Porque as condições de partida estavam viciadas, o défice não era de 6% mas de quase 10%, porque a desorçamentação em quase todos os Ministérios era uma prática que uma vez reconhecida representaria grosso modo mais 1% do défice, que o BPN, RTP e Empresas públicas de transportes agravariam o défice, que a previsão quanto ao ambiente macro-económico falhou nomeadamente nos países da Zona Euro, afectando assim as exportações Portuguesas, etc, etc...
 
Portanto e perante estes factos, volto à questão do Presidente da República como um dos pilares da democracia Portuguesa.
 
Não tenho dúvida, de que ficaria na historia e prestaria um enorme serviço ao País e aos Portugueses, se conseguisse obrigar PSD, PS, CDS, UGT, CPP, etc..., a um entendimento, vertendo num documento estratégico para a próxima década, questões como, a revisão do memorando de entendimento, uma política de crescimento económico e emprego, a competitividade, a justiça, a revisão constitucional e finalmente a definição do estado social que o País tem capacidade para suportar.
 
Se bem que esta discussão deveria ser alargada à sociedade Portuguesa, pois trata-se de contratualizar um política para o futuro, a descrição e a reserva durante o processo negocial deveria ser mandatória e só no fim e depois de assinado por todos, deveria ser convocado um referendo, para o legitimar.
 
Só depois deste processo é que os partidos estavam autorizados a voltar à lógica partidária, à demagogia, à mentira e ao ilusionismo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ditadura do bota abaixo

Deixem-me ser do contra, num País em que só é bem aceite quem é contra este governo, contra a troika e contra a Alemanha da Sra. Merkel.
 
Com este início, já todos perceberam que não vou alinhar na crítica fácil, populista, seguidista e bem vista pelos principais comentadores, políticos e interesses na comunicação social. Esta atitude generalizada da parte de quem deveria ter um sentido crítico mais apurado, mais refinado e mais evoluído, tem-me deixado desiludido e discrente relativamente a certas personalidades da nossa vida política, que deveriam ter um sentido patriótico muito mais apurado e consolidado.
 
De repente consensualizou-se na vida política Portuguesa, a noção de que dizer mal, atacar e destruir, é politicamente correcto e mais grave ainda, esta classe de derrotistas está convencida de que o futuro lhes dará razão. E se não der?
 
Não sei se sou uma ilha em Portugal, mas há uns anos no ambito das funções que ocupo e a proposito de um exercicio sobre quadrantes cerebrais, o meu perfil encaixou em algo entre Germânico e o Latino, no fundo concluia o exercício que eu era racional, factual, quantitativo e algo criativo. Muitos acharão que é impossivel conciliar na mesma pessoa, atributos como racionalidade e criatividade, mas se imaginarmos um quadrado dividido em quatro partes e em que cada um dos cantos tem atributos e se no final desse exercício, ficarmos situados entre quadrantes é sinal de que temos atributos de um e de outro quadrante.
 
Tudo isto para dizer que sou racional e lido melhor com factos do que com meras intenções ou suposições e por isso, custa-me ouvir todos os dias na comunicação social, que há um caminho alternativo, só identificável e perceptível pelos iluminados e que só o governo é que não vê qual é. Pior ainda, é esta elite de iluminados, influenciar negativa e erradamente um franja da população, criativa, preguisosa e laxista, que acha que o estado social é uma obra divina, imutável, sustentável e eterna.
 
Estamos pois perante factos incontornáveis tais como, um País praticamente falido, com uma dívida insustentável, um desemprego alarmante, um enorme desiquilíbrio nas contas públicas e ausência do único factor que poderia inverter todo este descalabro, o crescimento económico.
 
Ora, não é preciso ser muito inteligente para perceber que o crescimento económico não se decreta, não se compra e prior ainda, não pode ser um mero processo de intenções. Muitos recordar-se-ão, que José Socrates ganhou umas eleições aumentando os funcionários públicos em 2,9%, quando o País crescia 0,5% e ainda prometendo a criação de 150.000 empregos. Pois é, quem pensava que injectando dinheiro dos nossos impostos e outro tanto emprestado pelos nossos actuais credores seria a solução, enganou-se e mais grave ainda, enganou o Povo Português, que hoje tem que devolver os aumentos fictícios que recebeu, mais os investimentos e negociatas ao longo destes anos e tudo isto, acrescido de juros.
 
Qual é então o caminho? É aqui que divirjo da maioria dos políticos e comentadores reputadados, quando digo que não há um caminho alternativo. Contudo, creio que simultaneamente e noutro palco, devemos pressionar a UE e os nossos parcerios internacionais a disponibilizar fundos europeus do tipo, QREN, PRODER, FEDER, etc..., insentando nesta fase, ou durante um determinado periodo, o Estado Português da comparticipação Nacional. Estes fundos deveriam ter finalidades muito específicas, abrangendo sectores em que somos deficitários, reconstruindo outros com vista à exportação e se possivel e ao mesmo tempo, proibindo a utilização destes fundos para à construção de auto-estradas, aeroportos e pontes, porque a tentação é grande. Esta no fundo, seria a grande medida para implusionar o crescimento económico e a criação de emprego.
 
Contudo, esta medida não chega, faltam muitas outras relacionadas com, a melhoria da justiça, com a eliminação da burocracia e do desperdício ao nível do Estado central e Autarquias.
 
Finalmente, o tema quente deste outono, “que funções queremos que o Estado Português assegure aos seus cidadãos”.
 
Novamente e tendo por base alguma objectividade, acredito que deveremos em primeiro lugar, atingir um consenso nacional quanto ao montante máximo que os nossos impostos suportam e que devem ser alocados a estas funções e só a depois definir quais as áreas ou funções que o Estado presta e em que os Portugueses estão mais disponíveis a abdicar. Neste aspecto não há volta a dar e falamos sempre do custo da saúde, educação, prestações sociais, segurança interna e externa, democracia parlamentar, instituições, etc...
 
Sem querer passar um cheque em branco e acreditando que o corte mínimo indispensável para atingirmos o equilibrio nas contas públicas, é de 4.000 milhões de euros, então sem demoras, sem demagogia e sem complexos, devemos iniciar esta caminhada longa e penosa, evitando assim rupturas muito mais dolorosas e forçadas, como aquela a que que fomos obrigados há um ano e meio, que culminou com a assinatura do famoso memorando de entendimento.
 
O risco de nada fazer ou de fingir que se faz não fixando objectivos, é o pior erro, o pior caminho e a hipoteca definitiva do nosso futuro.
 
Convenhamos que os aumentos de impostos a que já fomos sujeitos, aliados aos cortes já efecuados na despesa e aos que se avizinham, são o ingrediente ideal para a instalação da ditadura do bota abaixo, pois no fim não haverá ninguém que consiga passar incólume desta situação e o egoismo imperará sobre o interesse Nacional. A prova disso, é que enquanto os cortes nos salários se limitaram à função pública, comentadores, políticos e outros grupos de interesse, foram doseando as suas críticas, mas quando estes cortes se tornaram mais abrangentes, pedindo a cada um de nós um sacrifício adicional, aí instalou-se definitivamente a ditadura do bota abaixo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A falta do outro


Enquanto suportamos cortes e mais cortes, continuo a interrogar-me sobre a necessidade de abdicarmos do maior tesouro do Velho Continente: o modelo social. 

Dizem-me que o crescimento económico não é o que era… Ora bem, sob pena de ter que escrever um tratado, empreitada para a qual nem sequer tenho predicados próprios, nem sequer procurarei fazer mais do que interrogar-me sobre o motivo pelo qual não pomos em causa as regras de funcionamento dos mercados internacionais. Limito-me a coisa bem menor como seja perguntar-me sobre quem lucra com este baixar da guarda europeia: os Estados Unidos? A China? Os restantes BRICS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul)? Todos e estes e mais alguns? 

Sei que é uma análise com carências técnicas, mas sempre vivi com a ideia de que os sucessivos alargamentos da União Europeia visavam, inter alia, a criação de um mercado interno suficientemente vasto para nos proteger contra tempestades exteriores. Não levo a minha ingenuidade ao ponto de julgar que poderíamos sobreviver em circuito fechado, mas também nunca imaginei que estivéssemos, hoje, a debater aquilo que nos tornou num farol do desenvolvimento social; os sistemas públicos de Saúde, Segurança Social, Educação e Cultura têm, a meu ver, sido a marca do apogeu civilizacional europeu. O que pode fazer-se é demonstrar ponto por ponto os custos da manutenção dos mesmos e, ao mesmo passo, explicar às pessoas os custos sob a forma de alternativas. Por exemplo, a mais de detalhar quanto custa a cada contribuinte manter os nossos hospitais e centros de saúde, importa perguntar às pessoas se desejam assumir essa despesa ou se querem combinar as suas contribuições fiscais com cortes noutros domínios (não exemplifico deliberadamente). 

A mais disso, é imperioso pensar na transparência que deve cultivar-se, abolindo todas as parcerias leoninas, concessões dúbias, empresas públicas não essenciais e outras zonas de obscuridade na gestão da coisa pública. Só deste modo será clarividente a opção dos cidadãos pelo emagrecimento do Estado ou pela sua manutenção, aceitando uma carga fiscal mais volumosa ou cortes noutros domínios colectivizados.

Voltando, porém, atrás, uma outra questão me assalta: poderá o desaparecimento da U.R.S.S. ter levantado o último travão ao desmando do mercado e à voracidade dos especuladores? Não podendo obrigar quem quer que seja a suportar as desgraças em que o bloco soviético se traduziu, começo a pensar que a necessidade de provar a superioridade do modo de vida ocidental foi, durante muitos anos, o freio à desregulamentação hodierna e à queda das salvaguardas do humanismo… A verdade é que China e Rússia, economicamente, não são hoje um contrapeso e que a globalização partiu o espelho que nos poderia criar a ilusão de haver um outro, algo de diferente…

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Os Votos e os Dólares

Que preço tem a democracia americana? O mundo inteiro vai reter a respiração até ao resultado final das eleições americanas. E portanto, elas não têm nada de democrático! Mas o impacto na marcha do mundo é indesmentível.

Que dizer da cor "verde" que empesta estas eleições? Um verdadeiro "tsunami" de dinheiro inunda o panorama politico destas eleições. E mesmo antes do voto, que credibilidade conceder a Mitt Romney e à democracia americana quando sabemos que este candidato fugiu com milhões de dólares para os paraísos fiscais? O mesmo que disse que "os americanos pobres, 47 milhões, não são o problema dele"!

Mil milhões de dólares é o preço deste combate, o mais caro da história da humanidade, no qual as empresas mais ricas apostam na vitória de tal ou tal candidato, demonstrando bem a influência que estas empresas contam obter na marcha da pseudo democracia americana. Qualquer que seja o vencedor! São elas que determinarão as decisões do governo nos próximos quatro anos. De Goldman Sachs, seguidos por outros da Citigroup, às Microsoft, RJ Reynolds Tobacco, American International Group y Bear Stearns, serão entre os principais "vencedores" destas eleições!

E que pensar do debate entre os dois candidatos patrocinado pela American Petroleum Institute? Claro que estas eleições, têm mais a ver com os dólares que que com os votos! 

Sem dúvida, nos Estados Unidos, não existe capitalismo nem democracia: Existe outrossim um capitalismo clientelista.

Que pensam os Americanos de tudo isto? Os "indignados de Wall Street" tinham indicado que o governo federal não representava os seus interesses nem partilhava as preocupações deles. Mas os tais "1%", a elite, que possuem 35% da riqueza americana, estão-se marimbando para estas manifestações...

Os Americanos têm o melhor sistema político que o dinheiro pode comprar! O "sonho americano" há muito que se transformou em pesadelo... para muitos, particularmente para os 47 milhões de Americanos que se arriscam a perder o pouco que Obama fez no plano da segurança social do seu mandato! 

As religiões também jogam a fundo a sua carta nestas eleições. Sendo profundamente laico, considero que não é uma marca de progresso na via democrática, mas uma regressão que perturba o funcionamento das instituições políticas. Mas esta será uma matéria para outro post

Freitas Pereira

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Continente Devastado

Dei um salto a Paris há dias. Três horas de TGV, é fácil! Mais uma vez, talvez porque o inverno precoce em França aperta, constatei um maior numero de pessoas à porta do albergue de Aubervilliers. E mais uma vez, constatei o numero crescente de homens, mulheres e crianças africanas na bicha.
 
Em tempos que já lá vão, andei pela África, em missão comercial. Na Portuguesa e na África do Sul. E na Rodésia! A África é um continente que me fascinou. Nunca o poderei mais esquecer. Mas hoje, sangra-me o coração perante o espectáculo desta terra tão rica e tão miserável.
 
Porque é que as metrópoles europeias estão cheias de africanos, com o olhar perdido, sorriso contrito, desamparados , mendigando pobremente, vendendo à escapada, trabalhando duramente, vassoura na mão, pá em punho, remexendo o contentor do lixo por trás do restaurante? Que desespero incomensurável conseguiu expulsar estes seres admiráveis fora da pátria soalheira - que eles tanto apreciam e empurrá-los assim para os caminhos do exílio plenos de perigos, para acabar tristemente sob a ponte Mirabeau, na grande Place, por trás do Partenon, à volta do Coliseu de Roma, em Picadilly Circus e face ao Reijks Museum? Porquê?
 
O êxodo arriscado começou há alguns anos no Senegal, na Costa do Marfim, na RD do Congo, no Burkina, no Quénia, na Somália, no Mali ou no Ruanda, pouco importa; foi sempre lá que começou, lá onde a vida estava ameaçada, e depois, por montes e vales, a pé, em camioneta, de comboio ou de barco, a longa caravana dos deserdados pôs-se em marcha, deixando pelo caminho o seu tributo de estropiados, de famintos, de extenuados, de mortos vivos, no grande deserto escaldante, nos caminhos do mato mal afamado, no oceano furioso até Ceuta a insolente, Tripoli a decadente, Alexandria a enigmática ou Tunis a trágica.. Aqui, os últimos escapados destes caminhos de sofrimento vão ver-se oferecer, (como noutros tempos os Portugueses na passagem dos Pirenéus !), a alto preço, por um passador bandido ,de completar a travessia do continente da fome - para um outro, onde a fome também existe.
 
Sim, porque é que tantos emigrantes africanos afrontam o deserto, o oceano e o mar, os guarda-costas e os passadores assassinos, para migrar para esta Europa miragem!
 
Simplesmente, porque nos países africanos de miséria, onde as companhias mineiras pilham o minério precioso e caro, e que estas não deixam quase nada aos que os enriquecem, os filhos da África, depois de terem trabalhado por quase nada em minas do inferno, se ali não morreram, preferem sucumbir à miragem do norte, afim de ganhar alguns cobres para enviar à família ( como os Portugueses outrora).
 
Os exemplos são legião. Mas existe um, mais recente, que é simbólico: O "Coltan", (metal raro, indispensável para a fabricação dos telefones celulares e de televisores) é extraído dos poços de minas artesanais na Republica do Congo , no Kivu, mais exactamente ( 80% das reservas mundiais), após o que, é imediatamente expropriado e exportado para as fábricas de transformação da Europa, América e sobretudo da Ásia.
 
A transformação industrial do minério cria o valor e a mais valia, donde os capitalistas retiram os benefícios industriais e mercantis, e o Estado os seus impostos e as suas taxas. Basta saber que o quilo de Coltan se vende a 500$ no mercado! Mas a extracção do Coltan rende pouco : entre 10 e 50$ por semana, para um mineiro da morte; o que é o quadruplo do salário dum congolês "médio"! Um mineiro extraindo em média 1 quilo de Coltan por dia, 7 dias da semana, recebe um salário semanal médio de 35$, em contrapartida de 7 quilosx500 $ = 3 500 para o valor da mercadoria. Não podemos dizer que a África recebe a justa parte da riqueza que se lhe rouba!
 
Cessemos, portanto, de distribuir a caridade aos africanos. Cessemos de lhes emprestar dinheiro para se endividarem para a eternidade e deixemo-los beneficiar das riquezas continentais e assim eles serão prósperos! Não acham ? Mas talvez não!, evidentemente! E porquê ? Porque tudo depende de qual classe social se apropria estas riquezas privadas ou colectivas.
 
Mas saibamos que cada quilo de Coltan, custa a vida de dois menores africanos nas minas do Kivu, mortos nos desmoronamentos das minas artesanais sem segurança nenhuma.
 
Mortos para que Apple, Nikon, Sony, Nokya, Ericsson e tantos outros monopólios ocidentais possam continuar a oferecer dividendos chorudos aos seus accionistas! Merci!
 
Uma vintena de aviões carregados de minério descolam todos os dias para o Ruanda (que recolhe à passagem 250 milhões de dólares pela venda do Coltan) . Que importa as crianças raptadas à saída da escola para ir trabalhar nas minas da morte! Toda a gente o sabe, mas ninguém diz nada, nem mesmo as Nações Unidas!
 
Há uns meses atrás, foi na África do Sul onde 34 mineiros, enfim libertados do Apartheid, foram assassinados pela policia sul-africana por causa de greve mineira, visando um salário de 400 euros por mês!
 
A África foi sempre, desde o dia em que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, um fornecedor de matérias primas. No início, a matéria prima foram os escravos, valendo menos que o peso em cereais, depois a madeira exótica preciosa, depois os produtos alimentares, espoliados nas plantações expropriadas aos autóctones contando por menos que nada neste mercado. Hoje, assistimos à espoliação dos minérios raros, das pedras preciosas e do petróleo, das quais os povos locais não retiram nenhum benefício.
 
Não resta praticamente nada para a sobrevivência destes países. Assim, em vez de se deixarem morrer os Africanos seguem a pista das suas riquezas, roubadas, até ao norte do Mediterrâneo. Eu vi-os na bicha para ir comer a sopa no albergue de Aubervilliers, no Paris Ville Lumière!
 
Freitas Pereira

sábado, 27 de outubro de 2012

Fim do Grande Bolo

Muitos são aqueles que descobrem, há uns meses para cá, o impacto mortífero do imperialismo financeiro sobre a vida dos cidadãos de todos os países.

Até aqui, falava-se do capitalismo, como poder económico do qual dependia o nível de vida dos povos, segundo o bom prazer dos que possuíam este poder. Enquanto este distribuía algumas migalhas do imenso bolo, que os outros produziam, as coisas lá iam mais ou menos, e antes menos que mais, sem choques violentos, porque era necessário, por um lado, manter em "vida" os obreiros do bolo, na paz e no sossego que convinha aos que possuíam tudo, e que, por outro lado, os que recebiam as migalhas contentavam-se do pouco porque nem sabiam que tinham direito a mais. O emprego existia, a miséria era contida dentro dos limites do terço mundo. Todos pareciam satisfeitos da vida, excepto para aqueles que tinham ousado ir ver mais longe e que não voltaram mais.

 E isto assim foi durante décadas, até que a marcha do mundo se acelerou. A invenção perniciosa do capitalismo, a do crédito fácil para todos, já e agora, permitiu a expansão do MERCADO e, com ele, a explosão das dívidas: a dos particulares e a do Estado. Os particulares, a quem os promotores do GRANDE BOLO prometiam fatias mais suculentas e variadas, do automóvel à casa, do passeio ao estrangeiro às férias a crédito, tudo o que se sonhava era transformado, como por encanto, em realidade!

A dívida do Estado, a quem os autores do grande MERCADO prometiam rendas fiscais extraordinárias, porque, diziam eles, com o pleno emprego, quanto mais se consome mais taxas se pagam, isto é, os produtores e os consumidores, as rendas e os salários, sem falar das benesses de vária ordem de que os políticos iriam beneficiar (e nas quais estes se fartaram até à indigestão!) se as leis conviessem ao grande MERCADO.

Os boys da escola de Chicago, os apóstolos do MERCADO auto regulável, tinham ganho a partida Como se a ganância, a cupidez e o ... apetite e as necessidades ainda não satisfeitas, podiam auto regular-se!

Entretanto, novos actores apareceram, entre os quais os países ditos emergentes, saídos da letargia e do colonialismo, que mais não eram que imensos reservatórios de forças humanas desocupadas, prontas a servirem em não importa quais condições, mesmo esclavagistas, desde que os arrancassem à vida miserável na qual vegetavam. Por muito pouco que lhes dessem, em troca de trabalho sem conta, era sempre melhor que o nada com que sobreviviam.

Foi o caso dos dois grandes reservatórios da Índia e da China, e de todos os países asiáticos.

A emergência da filosofia dos dois sistemas, capitalista e comunista, no mesmo regime político, inaugurada por Deng Chiao Ping, na China, foi o sinal da mais formidável corrida ao lucro fácil na qual o capitalismo mundial sonhava desde há muito, de facto desde os primeiros passos da industrialização dos dois últimos séculos.

Escapar às leis impostas pela democracia e à decência do tratamento devido àqueles que trabalham, era exactamente o que desejava a ganância mórbida dos detentores de capitais, sequiosos de rentabilidade financeira, de dividendos e bónus chorudos para os accionistas.

Ah, que grandes países estes onde não existiam sindicatos para combater a exploração desenfreada e onde o regime político envia os carros de assalto contra aqueles que reclamam os direitos humanos mais elementares.

Esta abertura sobre um mundo do trabalho, vasto e inesgotável, iria fornecer aos detentores de capitais um poder extraordinário que, pela sua dimensão, vai pôr em cheque o poder mesmo dos Estados. Adeus o pleno emprego, as fatias do GRANDE BOLO de outrora, as rendas fiscais e a paz social. O GRANDE BOLO será confeccionado fora das fronteiras, o resultado aferrolhado nos paraísos fiscais, fora do alcance do Estado, que deverá "inventar" o dinheiro para sobreviver ele mesmo.

Assim reflectia, quando, na semana passada, em França, um gigante do aço, a sociedade Mittal, liderada por um Indiano, conseguiu impor a sua lei ao Estado Francês, ordenando o encerramento duma grande siderúrgica, a sociedade Arcelor, na Lorraine, outrora grande fornecedor da industria automóvel, adquirida aquando duma O.P.A. (oferta pública de compra) na bolsa.

O problema é que esta firma indiana possui dois terços do mercado do aço mundial, e que, tendo adquirido a firma francesa e encerrando-a agora, eliminou desta maneira um concorrente, e beneficiou assim as outras firmas do mesmo grupo que produzem o mesmo aço a preços mais reduzidos, graças aos salários mais baixos praticados em países mais "competitivos" ! Isto é, onde se trabalha por menos! O quase monopólio do aço permitiu-lhe agir assim, e o Estado Francês nada pôde para o evitar, porque assim vai a lei do comércio internacional e a lei do MERCADO!

Este é o grande problema dos monopólios, autênticos Estados dentro dos Estados, fenómeno recente da economia capitalista.

O monopólio é um produto da concentração da produção a um nível muito elevado que pode tomar a forma de cartéis, trusts ou sindicatos patronais da indústria. Fundidos com grandes bancos, constituem o capitalismo financeiro, interpenetração do capital industrial e do capital bancário. Ora, como vimos no caso que citei da firma francesa, a criação de monopólios visa a substituir-se à livre concorrência. E na realidade, não é só na indústria: existe o caso da Monsanto americana, quase monopólio mundial das sementes ou ainda certos laboratórios farmacêuticos.

A predominância do capital bancário faz com que uma parte cada vez mais importante do capital industrial não pertença aos industriais mas aos bancos que são os verdadeiros proprietários.

De intermediários nos pagamentos, os bancos converteram-se em fornecedores essenciais do capital. E a vergonha suprema é quando após terem jogado com o nosso dinheiro no casino dos "hedge funds" vêm pedir aos contribuintes para os salvarem da falência!

Mesmo se, à primeira vista, parece não ter nada a ver com o que precede, esta história do monopólio, levou-me a reler certos aspectos da nossa história colonial, que também teve noutros tempos os seus monopólios. E, à passagem, os investimentos/ aquisições que certos antigos colonizados fazem actualmente em Portugal.

Na partilha territorial do planeta entre as grandes potências capitalistas no termo duma colonização violenta da África e da Ásia, a possessão das fontes de matérias-primas foi uma das motivações maiores desta politica de agressão e de dominação.

Ao mesmo tempo, a acumulação de capital-dinheiro tinha atingido tais proporções nos países "avançados" que estes, se esforçaram para exportar o excedente em direcção aos países colonizados e dependentes afim de os rentabilizar. Ontem, a CUF, empresa monopolística, e o Banco Nacional Ultramarino, entre outros, proprietários de grandes territórios no ultramar, onde investiam, enquanto o território metropolitano tanto carecia de investimentos e o povo vivia pobremente.

E hoje, o mesmo movimento, desta vez dos antigos colonizados, agora grandes capitalistas, fazendo parte do cartel do petróleo e dos diamantes, que, pelas mesmas razões, mas em sentido contrário, exportam capitais, enquanto lá em casa, milhões de cidadãos sobrevivem em condições indignas. O que prova bem que o capitalismo, ligado à ganância e à cupidez, é uma enfermidade que se apanha facilmente, qualquer que seja a origem social dos doentes, mesmo saídos das revoluções.

O capital financeiro cria uma "oligarquia financeira", insaciável e mundializada, que consegue envolver todas as instituições económicas e politicas, sem que a situação miserável e desesperada dos povos a preocupe. Esta é a marca do capitalismo selvagem, que tem os seus servidores na governação da Europa e na OMC (Organização Mundial do Comércio), e os seus lacaios nos políticos dos Estados.

Freitas Pereira

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Há Lodo no Facebook


Com o advento do Facebook os blogues perderam alguma dinâmica e visibilidade, porventura porque através daquela rede social torna-se mais acessível escrever o que nos vai na cabeça no nosso próprio Mural e comentar as reflexões dos outros que vêm ao nosso encontro. Porém, a blogosfera permanece firme e, com mais ou menos leitores/comentadores/resistentes, cá vamos mantendo o Ainda há lodo no cais - em cena desde 2005! Mas como é impossível ignorar o poder do Facebook, ocorreu-nos criar por lá uma página que serve somente para divulgação do blogue e dos seus textos. Podemos agora dizer que «já há Lodo no Facebook»

A verdade de hoje pode ser a mentira de amanhã


Penso em concreto no enredo em torno da cláusula de salvaguarda do IMI. Cedo se percebeu que teria o mesmo epílogo que a TSU, porque era impraticável, os incumprimentos iam ser elevados (logo, a receita não ia ser a esperada) e era a subversão completa do papel do Estado, onde o sinal que se dava era o de que não valia a pena investir em Portugal.

O mundo mudou de uma maneira avassaladora. Não são distantes os tempos em que se julgava o património imobiliário um investimento seguro. Hoje, quem o tem vê-se a braços com uma empreitada difícil de resolver: primeiro para o vender, depois a carga fiscal dos chamados impostos sobre o património, com o “mediático” IMI na linha da frente.

É certo que se construiu demais em Portugal. Mas a dinâmica inerente à “nova construção” também teve as suas virtudes: empregou muita gente e de várias áreas do conhecimento e o Estado teve retorno através dos impostos que a atividade ia gerando, fosse IMT, IMI, IRC, taxas urbanísticas ou nos rendimentos sobre o trabalho que proporcionava.

Mas veio a recessão, a procura abrandou, as habitações desvalorizaram e as pessoas, em muitos casos, passaram a dever mais aos bancos do que o valor de mercado atual das suas casas.

O mundo mudou, os impostos também e o IMI mesmo com o regresso das cláusulas de salvaguarda vai ser uma desgraça para muitas famílias. O agravamento deste imposto (mesmo limitado a 1/3 do valor do aumento) atingirá em muitos casos dimensões pornográficas. Sem esquecer, claro, que dentro de 3 anos o imposto será pago na totalidade.

A conjuntura fez com que os preços de mercado das casas baixassem, a banca está a subavaliá-las, mas finanças estão a sobrevalorizar! E tudo devido às regras de avaliação do Código do IMI, definidas em 2003 (ie, muito anteriores à crise). E não vale a pena virem dizer que há coeficientes anuais de valorização na fórmula porque na prática o seu impacto nunca reflete a conjuntura atual.

Perante isto, não será preciso ser muito perspicaz para percebermos que haverá casos onde irá ser pago imposto sobre um bem que as pessoas não têm.

Para finalizar, realço um breve apontamento: como é sabido, o IMI reverte a favor das autarquias. Como decerto também saberão, está em estudo uma nova Lei das Finanças Locais. Portanto, o caro leitor não estranhe que esteja a ser preparado o caminho de uma redução significativa das transferências financeiras para os municípios via Orçamento de Estado por contrapartida do aumento do IMI. Se isso será bom? Vamos ver...

As Rosas também têm espinhos

Muitos como eu, têm estranhado os sucessivos sucessos eleitorais do CDS de Paulo Portas, porque num País que não cresce decentemente há mais de uma década e em que a contestação social vem em crescendo, como é possível o CDS valer mais do que PCP ou BE principais instigadores da contestação social. 

Ora, a arte de ser oposição, prometendo o impossível  principalmente em sectores muito fustigados, como tem sido por exemplo a agricultura, tem dado o retorno eleitoral que se tem visto. Chegada a hora da verdade, quando o PSD ganhou as últimas legislativas, e o CDS aceitou a coligar-se, seria de esperar que Paulo Portas tivesse assumido pessoalmente a pasta da agricultura, a grande bandeira na campanha eleitoral. 

Mas como todos sabemos isso não aconteceu e optou sabiamente pelo Ministério Cor de Rosa, assenta-lhe que nem uma luva em todos os aspectos e por sinal, parece-me até ser um dos Ministérios mais activos e com uma das melhores performances. 

Mas o problema surge, porque as rosas para além de serem bonitas e populares também têm espinhos ou dito de outra forma e recorrendo a um ditado popular, não é possível ter “sol na eira e chuva no nabeiro”. 

A acrescer a isto, está o facto de que o CDS estar minado de jotas, miúdos sem qualquer preparação politica ou intelectual, que vendo o lugar de deputado em causa, esquecem o sentido de estado, o patriotismo e o espírito de missão, “resgatar o país desta difícil situação”, colocando assim novamente o populismo e o interesse pessoal à frente de qualquer outro. Aliás e só para recordar os mais distraídos, já tínhamos tido alguns sinais desta conduta, quando o deputado João Almeida se candidatou a Presidente do Belenenses, supostamente para salvar o clube e à primeira dificuldade, abandonou o barco. Alguma admiração? 

Para mim o problema principal, está no facto do chefe da orquestra querer tocar várias músicas ao mesmo tempo, a banda segue-lhe as pisadas e o resultado é um conjunto de acordos sem sentido. O que me veio à memória, foi a recordação daqueles conjuntos de garagem quando se encontravam pela primeira vez, em que o baralho e o incómodo que provocavam na vizinhança era maior do que a musica que conseguiam produzir.

É este o parceiro de coligação de um governo, que tem como principal responsabilidade, tirar Portugal da bancarrota e coloca-lo na rota do crescimento económico.

Os casos em que esta ambiguidade se tem manifestado são muitos e com graves consequências para o País e para a imagem de Portugal no exterior. 

Como é que o Povo pode acreditar no futuro, se os exemplos que têm vindo do CDS são ambíguos  confusos, tardios e sem sentido de estado. O episódio desta semana, é mais um a somar a muitos outros, numa altura em que o mínimo exigido seria uma posição inequívoca e construtiva. Goste-se ou não deste orçamento e estou à vontade porque sou daqueles que não gosta, mas até me explicarem e provarem, que conseguimos conciliar os acordos e os objectivos que assinámos com com crescimento económico e emprego, não tenho dúvidas em afirmar, que este orçamento é a única opção que nos resta. 

Sou apologista e é uma das poucas críticas que faço ao actual Ministro das Finanças, é que deveríamos ser um pouco mais incisivos junto da Troika, no sentido de podermos dar prioridade à redução da dívida e não tanto ao défice, as duas não são conciliáveis em tão curto espaço de tempo. 

Como é lógico, não vou perder tempo a comentar as posições ou supostos caminhos preconizados pelo PCP ou BE, porque isso seria uma total perda de tempo. Já a posição do PS e de António José Seguro deixa-me perplexo, porque perante a clarificação e quantificação dos impactos e resultados do “tal caminho alternativo”, as respostas são vagas, imprecisas e sempre envolvendo a União Europeia como a chave de todas as soluções. 

Sejamos sérios, no memorando de entendimento assinado pelo Partido Socialista, não há duplas interpretações, não há dois caminhos, não há escolhas, há sim, objectivos reais, traduzidos em números e limitados no tempo. Vir dizer que a solução, é renegociar mais tempo e mais dinheiro, é uma não solução, recordo-me que na última avaliação da Troika, António José Seguro teve a oportunidade de salvar o Povo Português deste orçamento e não conseguiu, mas continua a vender o oásis. Mais uma vez o paralelo com Paulo Portas pode muito bem ser estabelecido  porque as condições e limites em que o orçamento foi elaborado não se alteraram e se dúvidas houvesse, hoje Selassie responsável do FMI dissipou-as. Azar António José Seguro, afinal não há outro caminho e talvez agora entendamos, porque é que Paulo Portas se apressou esta manhã a anunciar o voto favorável do CDS ao orçamento.

Todos sabemos que há outras opções para obter os mesmos resultados e quiçá mais sustentáveis e com mais futuro, mas ninguém tem coragem nem para as anunciar nem tão pouco as defender. Refiro-me a uma discussão que tem décadas e que se resume ao excesso de funcionários públicos. 

Quem tem a coragem de anunciar a rescisão ou a não renovação de contratos de trabalho a termo ou a prazo de 100.000 funcionários públicos? Simplificando algo muito complicado do ponto de vista social, doloroso e penalizante para quem se veja envolvido neste processo, esta medida poderia representar uma redução directa no défice, num montante muito próximo de 2.000 milhões de euros ano. 

A vida é feita de opções e os remendos e a cosmética a que se tem recorrido sistematicamente ao longo deste anos não têm resultado, não são sustentáveis e apenas têm disfarçado o indisfarçável.

Apesar de não ser um fã nem do actual Presidente da Republica nem de Mira Amaral, as palavras deste último foram sábias, quando referiu que Cavaco Silva não tinha sido eleito para ser o Paizinho desta coligação. Pelas razões que enumerei, creio que o recado foi dirigido essencialmente ao CDS, no sentido de se assumirem como homenzinhos de uma vez por todas.

O caminho das pedras

Ver notícias da manifestação de segunda-feira em frente ao Parlamento, definitivamente, aparta-me de quaisquer preocupações de cuidado na expressão. Se os demais protestos revelaram alto teor de civismo e constituíram democráticos e saudáveis exercícios de dissenso democrático, este grupo constituindo em medida não desprezível por delinquentes de cara tapada a recolherem pedras para atingirem a PSP, jovens em topless (embora a rapaziada agradeça, juro que continuo sem perceber a mensagem…) e autênticos “garotos” com lenços “à Arafat” e cabeleiras infindas – dizia eu –esta gente mais não comete do que crimes contra a ordem pública, desprestigiando os milhares e milhares de concidadãos que, com elevação e com igual veemência (embora do tipo saudável), encheram ruas para gritar a sua dor.

Dito de outro modo, quero deixar claro que não serão quaisquer manipulações de movimentos anarquistas ou blocos extremistas que porão em causa a democracia ou a genuinidade dos milhares que clamam por um rumo diferente; o que se viu, há dois dias, foi apenas pouca vergonha e uma polícia com movimentos algemados por ordens superiores. O que é arruaça deve ser tratado como tal, mas a política ocidental recuou perante os media e os movimentos políticos radicais, conduzindo a uma perigosa inacção em casos de tumultos incentivados por alguns agentes provocadores, sujeitando os bravíssimos e dignos homens e mulheres das forças de segurança pública a actos de resistência espúria e a humilhações públicas, em lugar de poderem, com o equilíbrio que sabemos terem no caso português, a sua missão de reposição da ordem pública e de defesa da democracia.

No meio de tudo isto, subsiste a dita crise e teme-se um orçamento “de corda ao pescoço”. Não percebo como é que tomamos medidas para agradar a credores - designadamente, FMI e União Europeia – que asfixiam o devedor… A menos que os Países em crise possam ser vendidos como salvados, não entendo como posso continuar a fazer omeletas se corto o pescoço à galinha poedeira…

Aliás, a minha evidente burrice começa há muitos anos, pois nunca percebi uma construção política que, durante anos, pagou para arrancarmos vinha e olival, deixarmos de plantar cereais, abatermos barcos de pesca e limitou a quantidade de leite produzido (que perdoem os entendidos se alguma das premissas não for exacta). Resistindo à tentação de ver proximidade entre isto e os falhados planos quinquenais soviéticos, estou quiçá num limbo de ingenuidade tecido que faz supor que, outra fora a nossa vontade de agradar como bons alunos (a França tem o escândalo de lucrar milhões com a Política Agrícola Comum e a Espanha, ao que sei, nunca foi tão obediente como nós), estaríamos em condições de muito maior suficiência produtiva para, pelo menos, atenuar a crise e matar a fome.

Seja como for, Nação velha e independente de quase novecentos anos que somos, trilharemos mais este caminhos das pedras, de preferência sem as atirarmos…