quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O pato e o Donald


Comprovando a importância capital dos EUA no Mundo, a vitória de Donald Trump, com a extraordinária explosão dos meios de comunicação, já foi alvo de opiniões por parte de todos e mais um. Em lugar de procurar ser diferente, deixo-me ir neste rio (palavra heterodoxa para os sociais-democratas. Quem diria?!) de palpites…

E a primeira cogitação tem precisamente a ver com a rotunda falha de quem se aventurou nas previsões, salvo honrosas excepões; o neófito tem nome de pato, mas foi a maioria dos analistas quem fez figura de pato, se não mesmo de urso.

Depois e como as primeiras declarações e omissões (por exemplo, o desaparecimento da menção à interdição de entrada de muçulmanos) parecem prenunciar, uma coisa é a retórica do candidato, outra é o pronunciamento futuro do presidente. E, aqui chegados, não vale a pena os cronistas pseudo-intelectuais rasgarem as vestes em sinal de indignação ante uma putativa hipocrisia: é precisamente a profusão incontinente de crónicas e a sede vampiresca de directos que obriga a que qualquer candidato que queira aparecer (e, logo, existir) tenha que percorrer a estreita linha de fronteira entre a declaração tribunícia e a demagogia populista.

Acresce que, como tantos outros nos últimos anos, este resultado é apenas mais um aviso dos eleitorados, em tom moderado, para uma classe política falida, putrefacta e, não raras vezes, corrompida. Embora veja as maleitas como bem suaves no nosso Portugal, comecei por identificar a tendência quando, há anos, Salazar foi eleito como o maior entre os “Grandes Portugueses”. Já então estava em crer que ninguém queria efectivamente o regresso do Professor; do que se tratava (quase nenhum analista ou deputado chamado a perorar o percebeu, diga-se) era de aspergir bílis sobre um conjunto de políticos e forças partidárias que, perpetuando-se, se revelavam incapazes de nos tirar do tradicional “um dia voltaremos a ser grandes”.

Mas, por todos os lados, há alertas que ainda (que eu tenha lido ou escutado) nenhum líder compilou e explicou de forma integrada: Chávez, Correa, Morales, Kirchner, Marine Le Pen, a extrema-direita alemã, Farage, Orbán, e outros que são farinha do mesmo saco, independentemente da percentagem de trigo (parte em que assumo que simplifico em demasia e misturo componentes locais para chegar a um corolário urbi et orbi, passo a heresia).

Votaram, assim, os esquecidos pela classe política e os isolados das urbes, mas votaram também os que legitimamente têm medo do terrorismo (em vez de aceitarem que continuemos a assobiar para o lado, esperando que, tendo que acontecer, só aconteça aos outros), os que temem pela perda do seu trabalho (com o conto da inevitabilidade, os políticos com lugar seguro vão precarizando mais e mais o trabalho dos outros) e, no fundo, todos aqueles a quem a globalização e a erosão do estado-nação assustam (nem ousem recrimina-los, pois imagino que 90% da nossa Assembleia da República seja incapaz de começar sequer a explicar o fenómeno aos seus concidadãos…).

Mais haveria a dizer, mas termino com uma ideia, citando Jorge Jesus (pensador com perfil adequado para o gabinete de Trump, aliás): “foi limpinho, limpinho”!

1 comentário:

Pedro Moutinho Tavares disse...

Excelente, exactamente o que penso do Pato e da CS em geral.