quinta-feira, 27 de abril de 2006

E agora?

Ser arguido num determinado processo judicial, não me parece, por si só, motivo para um retirar de confiança política. Obviamente, que não dá boa imagem a um partido político apresentar a eleições candidatos com processos pendentes na justiça, no entanto, se formos por esse caminho e se a moda pega, arriscamo-nos a ter cataratas de denúncias por este país fora, a maioria anónimas, outras assim nem tanto! Há que relembrar sempre que um dos princípios básicos da nossa legislação é a presunção de inocência, até prova em contrário.
Confesso que nunca me encheram as medidas as justificações dadas nos casos de Gondomar e de Oeiras. Se o motivo do não apoio autárquico foi verdadeiramente o que foi noticiado na altura, Leiria não devia ter ficado de fora, por uma questão de coerência da própria medida.
A opção política das altas esferas da nossa social-democracia, não só foi incompreendida aqui por este vosso amigo, como agora e pelo que parece, vou ter que ouvir (e bem, digo eu!) as lamentações do Major.

PS: a fazer fé na comunicação social e no próprio, parece que o Dr. José Alberto Pereira Coelho sempre vai avançar para a liderança! Espero, sinceramente, que a candidatura venha fortalecer o debate político e não aferir a “situação psiquiátrica” do PSD.

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Indústria de cosméticos

Sem meios financeiros (e, quiçá, com não muitos recursos académicos), a classe política portuguesa prepara-se para pôr em prática um sistema eleitoral misto, no qual haverá espaço para círculos uninominais (o lado "maioritário" do cocktail eleitoral, há muito no shaker parlamentar).
O propósito é o de uma determinada circunscrição ter um deputado eleito, que será mais facilmente identificado e responsabilizado pelos eleitores desse círculo.
Porém, se não se consagrarem as dotações necessárias, o representante não terá escritórios locais e pessoal auxiliar e, logo, continuaremos a saber do nosso parlamentar pelos jornais (pelo menos, propaganda para garantir a reeleição vai haver), já que não vai existir o "atendimento" próprio, por exemplo, de um congressista norte-americano.
Acresce que o rejuvenescimento eleitoral será relativo (geralmente, diz-se que a vantagem destes círculos é a renovação das apostas dos partidos, a cada eleição). Muito embora seja de esperar que o partido derrotado mude de candidato, no acto eleitoral seguinte, a verdade é que a maior parte das circunscrições (quase 2/3, em média) "tem dono"; ou seja, é praça forte de um partido, e só excepcionalmente mudará de cor, assim se tornando inócuas as mexidas nos candidatos da oposição local.
Isto não falando no facto de termos por cá um grupo de "profissionais" que, mesmo perdendo, é bem capaz de não se "despregar" da cadeira de candidato, na eleição subsequente...
Se não houver cautela, a mudança pode, por isso, ser meramente cosmética.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Pois, está claro!

A lei orgânica, que visa regulamentar os atropelos cometidos contra dinheiros públicos, a ser discutida brevemente na AR, não só me parece da mais elementar justiça como peca por ser tardia. A ir em frente, responsabilizará quem nomeia, bem como o futuro Gestor que, antes de aceitar, deverá fazer uma reflexão (o que já deviam fazer, mas…) para aferir das suas qualidades para o cargo.
Ao nome “gestor público”, na sociedade civil, está nos dias que correm, associado um ordenado milionário. Dizer-se à boca cheia e para eleitor ouvir que os gestores de dinheiros públicos incompetentes vão ser responsabilizados cai bem, é bonito e a “malta” gosta de ouvir. Agora, importante é que a lei seja muito bem elaborada (devem ser todas, digo eu!), que não deixe margens para dúvidas, que não contemple casos omissos e que, a ir em frente, uma das suas utilidades não seja a arma de arremesso político e público.
Relativamente aos limites da responsabilidade, aí existirão seguramente muitas dúvidas. Uma futura responsabilização pela totalidade do gasto público danoso não só me parece utópica, como exagerada. Veja-se a título de exemplo a Casa da Música, no Porto, em que a derrapagem foi avassaladora.

Palerma


Se querem a imagem de um dos idiotas do desporto nacional, aí está a de João Tomás.
Como se não bastasse a mercenária transferência para o Benfica, dias depois de ter dado uma entrevista à SIC em que falava do peso que era envergar a camisola da Briosa, o jogo de ontem provou a sua falta de nível e de estatura humana e cívica.
Ao comemorar o segundo golo do Braga com provocações à Mancha Negra, João Tomás esqueceu que, por muito provocado que tivésse sido (e sentando-me, como sempre, junto da Mancha, não vi nada de extraordinário), a sua profissão é exemplo cívico para muitos jovens e menos jovens, e que um dos riscos é mesmo o de ser o alvo das emoções à solta (que o diga Samuel Eto'o, do Barcelona, que ía perdendo a calma, e bem, com insultos racistas).
Neste caso, toda a ira de Coimbra se justifica perante o beijo de Judas que, há anos, nos deu, mas, de qualquer modo, a Académica acabou por ganhar em classe com a sua partida.

domingo, 23 de abril de 2006

D.J. Telespectador

Apesar dos meus tenros anos de vida, ainda sou daqueles que se lembram de ter televisão a preto e branco em casa e da opção ser unicamente a estação de serviço público (será?). Hoje, com a proliferação de meios de comunicação, nomeadamente televisivos, todo e qualquer espectador, munido de um telecomando é capaz de escolher, “in loco” a sua preferência televisiva e não ficar sujeito a uma oferta limitada e imposta. Se antes era-mos sujeitos a programações às quais era quase impossível fugir, nos dias que correm qualquer um pode ser D.J.!
Quando vou a um bar e a música é má (segundo o meu critério de avaliação), dedico-me ao balcão (moderadamente, pois está claro!), ponho a conversa em dia, ou então, pura e simplesmente, vou para outras paragens. Ou seja, não tenho grandes hipóteses de mudar de som, pelo menos naquele espaço. Se estiver a ver televisão e o programa não me interessar, mudo de canal.
A diferença é que num tenho possibilidades de escolha, enquanto que noutro, a opção é mesmo o retiro voluntário!
Digo isto, porque o que me chateia é que a maioria dos consumidores televisivos portugueses são maus D.J.’s, e os editores televisivos (salve excepções) são péssimos!
A demonstrá-lo está a ascensão meteórica de jovens estrelas televisivas, muitos com inegáveis qualidades estéticas, mas com poucas “artes” de representação. Não obstante, e porque a exigência da audiência não parece exigir mais, responsáveis televisivos disputam-nos no sentido de aumentar “share” e cativar públicos.
Em causa, parece estar sobretudo a exploração dos nossos instintos mais básicos: o gosto pelo sangue, a apetência pelo sexo e a curiosidade como idiossincrasia do ser humano. Sobretudo no que concerne a este último aspecto, isto é, o voyeurismo, confesso que abomino a utilização da vida pessoal em certos programas televisivos. Providenciar uma namorada ao Zé Maria, verificar o grau de fidelidade de um casal, fechar pessoas numa casa, quinta ou raio que o valha onde o principal ponto de interesse é a possibilidade de romance, etc, são exemplos. Há pessoas para tudo, editores para muito mais!
Recentemente, assistimos ao exacerbar desta exploração com o aproveitamento da morte de uma jovem estrela televisiva para cativar audiências. Inclusive, foi divulgado pela imprensa, que foi pedido dinheiro a outra estação televisiva para passar imagens do seu trabalho em vida, com o intuito de noticiar a sua morte! Fez-se directos do cortejo fúnebre, entrevistaram-se alguns dos presentes!
Parece-me urgente manusear o telecomando ao estilo de um Carl Cox nos discos de Vynil e fazer ver a alguns responsáveis televisivos que o “exagero” não compensa.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Pormenores

Não sou mesmo nada contra a utilização de títulos, bem pelo contrário, o que sou é contra a utilização destes de forma abusiva.
Num destes dias em conversa com um amigo e tendo este tema como pano de discussão, uma curiosidade resgatou-me: “num funcionário normal, que não seja quadro superior e trabalhe directamente com pelo menos dois Licenciados (Mestres e/ou Prof. Doutores) quanto tempo útil do seu tempo de laboração gasta com a utilização das insígnias (vulgo títulos)?”
Vamos supor que há apenas o cumprimento de chegada e o de partida, ou seja: “Bom Dia, Dr.” e “Até amanhã, Dr”., e que em cada um desses cumprimentos é gasto um segundo, o que perfaz um total de 4 segundos/dia.
Multiplicando os 4 segundos diários por 6 dias de trabalho (exceptua-se o domingo), dá um total de 24 segundos semanais, que por sua vez multiplicados pelas quatro semanas que têm um mês, dá o módico número de 96 segundos/mês. Estes mesmos 96 segundos, multiplicados por 12 meses perfazem um total de 1152 segundos anuais! Obviamente, que em toda esta contabilidade há que diminuir os feriados nacionais e as férias. Contabilizando 13 feriados e 22 dias de férias perfaz um total de 35 dias, o que equivalem a 140 que devem ser descontados aos 1152 segundos anuais.
Conclusão: são 1012 os segundos anuais gastos, que convertidos para minutos dá qualquer coisa como 16,87/minutos!
Agora imaginem quantas vezes são ditas as palavras “Sr. Deputado” na Assembleia da República, ou “Sr. Vereador” nas reuniões Camarárias, ou mesmo o “tudo bem ou tás fixe” nas ruas deste nossa pátria lusitana! Ou então aqueles que nós não gostamos mesmo nada: “Serviço não disponível, dirija-se à próxima caixa Multibanco”, ou as filas de espera para meter gasolina (urgente massificar o estudo em energias alternativas!) no carro, etc…
Todos estes pormenores, somados, dão mesmo muito tempo… mas também, que se lixe, “ a vida é feita de pormenores”.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

"Por um punhado de dólares"

Ainda por causa da gazeta, invoco o célebre filme em homenagem à esperteza saloia dos partidos à esquerda do PS, que vieram propor a exclusividade do exercício do mandato de deputado.
Eu, que até estive em exclusividade, quando passei por S.Bento, sinto-me à vontade para dizer que, mais uma vez, a extrema-esquerda portuguesa está a usar do mais miserável populismo; ou seja, aquele que se faz debaixo da máscara de uma suposta defesa dos mais desfavorecidos!...
A medida, por si só, pode até piorar as coisas para quem está mal, baixando a já não muito alta qualidade do casting parlamentar, uma vez que, sem se reverem os vencimentos dos deputados, exigir exclusividade pode acabar por afastar os poucos que ainda "têm vida" e consagração. Por muito que a dedicação à Pátria soe bem, nenhum advogado, médico, quadro superior ou outro profissional de nomeada deixará a sua vida para ir ganhar "n" vezes menos.
Certo que, mesmo melhorando o rancho, podem os lugares (então, mais apetecíveis) continuar a ser abarbatados pelos partisans de carreira (alguma rapaziada que controle grupos de votos e tenha como curriculum vitae real e exclusivo- inclui os os negócios advenientes de "conhecimentos" - cargos políticos), mas, de outro modo, a desgraça é certa com a exclusividade.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Nota

No seguimento do post, " E se afinal "ele" até era dos bons?", aconselho a visita:

http://www9.nationalgeographic.com/ngm/gospel/sightsnsounds.html

Estou definitivamente lixado

Continuando a novela vernácula, só me faltavam o Dr. Guilherme Silva e o Prof. Narana Coissoró a invocarem que o problema da falta generalizada de deputados, na última 4ª feira, teve a ver com a insistência em fazer um plenário na Semana Santa, com votações pelas 19h30, no entender do primeiro, indo mesmo ao ponto de se dizer, no caso do segundo, que acontecimentos como um "Benfica vs Barcelona" justificam que se use de tolerância e prudência nos agendamentos.
Sou muito amigo do Dr. Guilherme e tenho muita consideração pessoal pelo Prof. Narana, mas que dizer se todo os trabalhadores portugueses quiserem uma Páscoa com férias extra, porque há que ir à terra (nem que seja a de Vera Cruz)?!
E quanto ao futebol, seja o Barcelona, seja o União de Coimbra ou mesmo o Arroios a verdade é que primeiro é preciso ver o que há por fazer e se os políticos que assistem o fazem em representação institucional. Se assim não for, prima facie, o espectáculo tem de ficar em segundo lugar.
Seja como for, há coisas que podem pensar-se, mas não dizer-se.

terça-feira, 18 de abril de 2006

Uma questão de imagem!

Isto da imagem dos políticos não é de hoje…

John Kennedy foi provavelmente um dos primeiros políticos a aperceber-se da influência da imagem sobre o comportamento dos eleitores! Nas eleições que o opuseram a Nixon, no debate final, jogou com a essência visual do meio escolhido, utilizando maquilhagem, pondo base, pedindo um debate de pé, visto ser mais alto que Nixon, e mais novo, logo, mais resistente, entre outros pormenores.
Margaret Tatcher, em 1983, utilizava as cores das cortinas, prevalecendo na essência visual do telespectador uma imagem mais escura para intervenções mais sérias e cores claras para intervenções mais sóbrias.

Digo isto, porque reportando aqui para o burgo nacional, se há algo de que eu tive sempre julgamentos dúbios, é a imagem que se tenta transparecer quando os políticos em épocas eleitorais, vão em caravana (e aqui contra mim falo porque também já fiz número), visitar mercados e feiras! Do ponto de vista prático e interessante para o debate político, nada me ocorre. O que me parece, é que esse tipo de actividade pré – eleitoral tende a desaparecer, tal como foi provado pelo actual PR, que rompeu com essa tradição.
O objectivo real de tais manifestações populistas, é a meu ver com o “número” já gasto, dos candidatos que não temem os “perigos” de enfrentar multidões julgadoras de determinadas políticas. Há situações, em que o “número” até correu bem, veja-se o caso de Eanes.
Na prática, nada de relevante do ponto de vista político acrescenta, nada será decidido nesse mercado ou nessa feira, o discurso já vai ensaiado, a máquina partidária (leia-se mobilização) é posta ao serviço do candidato. A Comunicação Social ávida de momentos de reportagem, nada perde, nem mesmo a peixeira que vende dois chernes ou o homem da fruta que vende 1Kg de maçãs ao candidato.
Com isto, quero dizer, que é preciso mudar a forma de comunicar com o público – alvo. O discurso dever conter matéria de interesse cívico e público, a comunicação política deve assumir um carácter menos “tabuloizado”. Não seria seguramente fácil nos primeiros tempos, mas só privilegiaria uma classe (política) que de gasta, tem mais que os meus primeiros sapatos de couro!

PS: andam por aí uns indivíduos chateados com a vida, anónimos de blogs locais (Coimbra para ser mais específico), que me deram uma óptima sugestão de leitura: “A Redenção de Judas”, de Mega Ferreira, na Visão desta semana. A pretensão intelectual de gente sem rosto torna-se contagiante, neste mundo virtual.

sábado, 15 de abril de 2006

E se afinal "ele" até era dos bons?

Hoje, inicio-me nestas andanças virtuais, após convite aliciante, como colaborador do “lodo no cais”, blog ao qual sempre dei atenção desde a sua fase de arranque.
Será, obviamente, uma participação intelectualmente parcial, visto que repercutirá opiniões pessoais, logo parciais.
Feita a nota introdutória…

Nesta época pascal, a National Geographic vem questionar a alegada traição a Cristo por parte de Judas, o apóstolo “traidor”, baseando-se no seu recém-descoberto evangelho.
O nome Judas sempre esteve associado à perfídia, mudar agora o seu papel é alterar uma pedra basilar da história que nos tem vindo a ser contada desde há dois mil anos. Obviamente, que para a Igreja Católica a remota possibilidade de uma qualquer mudança teológica é assustadora. Alterar o papel de Judas, é assumir que esteve errada durante muito tempo, é por em causa a interpretação dogmática de evangelhos que, convém não esquecer, são histórias escritas por homens, logo falíveis.

Se há algo ao qual a IC sempre nos habituou, foi que reconhecer o erro nunca foi o seu forte, reconhecer que “30 moedas de prata” foram apenas uma manobra de diversão naquela que foi uma das (senão mesmo a…) história mais marcante do Cristianismo, parece-me improvável...
A ser verdade, será que não compete à IC um pedido de desculpas por nos ter andado a enganar durante todo este tempo?
Uma coisa é certa, Judas tem e terá sempre um papel importante no quadro cristão, independentemente da sua actuação ter sido a de cúmplice ou de traidor.

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Uff, não estou a pecar!...

Afinal, o cardeal americano que, no Vaticano, superintende aos nossos pecados (o Confessor-Mor) já veio dizer que foi mal interpretado por quem entendeu que passar mais tempo a navegar na Internet, a ler jornais ou a ver televisão do que a ler a Bíblia seria pecado.
O mais irónico é que, neste tipo de temas, a Igreja Católica, cada vez que tem um vislumbre sobre algo que deve ser debatido, como é o caso, ou radicaliza (veja-se a contracepção) ou opta pela via errada de reflexão (como teria sido a de tornar pecado o consumo de media).
O problema é o conteúdo dos media que absorvemos. Está estudado que certa programação televisiva nos retira a capacida reflexiva, que certos jornais nos tornam voyeurs e que alguns sítios na Rede despertam as mais secretas e pouco cívicas pulsões.
Porém, nos media, como noutros fenómenos, tudo se resolve com pedagogia e com o uso que damos aos meios. Era esta orientação que deveria precupar oo Vaticano, e não afirmações generalistas e maniqueístas.
Não é tudo uma luta do bem contra o mal, por muito que a Páscoa inspire certos pensamentos.

Rodapé

Não se pense que não censuro as ausências dos demais partidos, designadamente do PS.
Porém, o meu objectivo é que o PSD seja o mais exemplar dos partidos.
Apenas buscando ser perfeito atingirá o grau de excelente.

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Não me lixem ainda mais!

Por muito que não pareça, estou a conter parte do que me vai na alma, para que se não pense que o faço por despeito.
Mas é verdade é que do PSD faltaram 50 dos 75 deputados; ou seja, 2/3; isto é, uma maioria qualificada de ausentes.

Não me lixem mais!

André Freire, um dos mais notáveis politólogos portugueses (dos que vale a pena ler e ouvir) disse, hoje, na SIC-Notícias, que convinha não censurar em excesso os deputados, pois, por vezes, quando não estão no plenário, estão em comissões.
É nobre e pedagógico o benefício da dúvida que lhes deu, mas o facto é que, já por causa disto mesmo (quorum, portanto), só excepcionalmente há reuniões de comissões com a sessão plenária a decorrer.

Não me lixem!

Ao que sabe, ontem, os senhores deputados não estavam em número suficiente para as votações.
Se qualquer trabalhador tem o dever de comparecer, um representante da Nação deve dar o exemplo.
E as votações só deram brado porque requerem quorum, pois basta dar uma vista de olhos pelas sessões plenárias em que não está o Primeiro Ministro (uma boa altura para aparecer na televisão, como bem sabem os que, regularmente, se sentam na 2ª fila, atrás do líder do partido e/ou do líder parlamentar), e vê-se uma enorme rarefacção humana.
Isto para não falar das sessões de 6ª feira, em que o problema raia o escândalo.
Aliás disso sabe o meu querido amigo Luís Marques Guedes (um dos gentlemen que pude conhecer no parlamento), pois é um permanente stress "mantê-los sentados", para roubar um título de Marçal Grilo, salvo erro. Não apaga a clareira imensa na bancada laranja, o facto de a mesma ter garantido o quorum, quando era maioria; o dever de comparecer mantém-se.
Tudo se resolveria com mão de ferro dos directórios partidários, que poderiam tornar inelegíveis os que reclacitrantes. Porém, na verdade, sabemos que, em larga medida, é o aparelho que faz as listas, e não o presidente do partido, como se viu em 2005 (o que não exime este de responsabilidades, note-se).
Quanto à sanção do próprio Parlamento (1/20 do vencimento), recorro ao vernáculo para um sonoro "não me lixem"! Quando existe uma alínea que permite justificar as faltas por "trabalho político", quem poderá afirmar, com segurança, que um deputado está a mentir?!
Como noutros casos, o problema é de ética e pessoal. Valeria a pena, por isso, que houvesse cuidado na elaboração das listas. Mas, aí, por culpa de todos (mea culpa também, com certeza), ainda não será em 2009, suspeito.

terça-feira, 11 de abril de 2006

Mudanças no condomínio

Muito brevemente, hão-de surgir novas penas no "lodo"...
Mais de um ano depois do assoreamento, sem fazer patavina de ideia sobre o número de visitas (hábito a manter), decidi convidar alguns amigos para dar mais cor ao "cais".
É gente cujo share de votos desconheço e que decidi convidar pelas qualidades pessoais, cívicas e políticas.
Como sempre, cada um assinará o que escreve, sem subterfúgios ou anonimato.
Para quem não viu e ouviu, continua a recomendar-se o filme "Há lodo no cais" e a música dos GNR "Cais"; daí vem muito do espírito desta vossa banda.

Medalha e reverso

Do PSD (e não só) vêm acusações ao Governo, por alegado abuso de propaganda. O caso mais recente foi o do “Simplex”, no qual os deputados social-democratas encontraram várias repetições da dispensa de certidões e da disponibilização de serviços em linha (leia-se, on-line).

Do Governo, por seu lado, e como sempre sucede neste País de pouco pão, vêm as normais perturbações entre ministros e ministros, entre ministros e secretários de estado, e entre qualquer uma destas categorias e os media. Não é novo e, estejamos bem seguros disso, não acabará com este elenco.

Acresce, como terceira premissa analítica, que é aceite (e motivo de queixa de quem passa pelos lugares de mando) o facto de os media actuarem como contra-poder, quando não mesmo como poder em si mesmo, buscando legitimidade de sentença não outorgada pela Constituição, nem cruzada pela legitimidade eleitoral.

No caso do Governo de José Sócrates as razões para enfrentar uma comunicação social com animosidade são acrescidas, já que o enquadramento da nova autoridade reguladora levantou um coro infindável de protestos.

Por fim, há ainda que levar em linha de conta as derrotas eleitorais, sem apelo nem agravo, nos embates autárquico e presidência.

Dito isto, abrem-se os jornais, e as sondagens continuam a mostrar o PS à frente do PSD e o engº Sócrates a passear a sua popularidade, sendo que apenas Francisco Louçã (aqui pelo populismo fácil de apontar a doença sem pensar curas viáveis) consegue ombrear com o nosso Premier.

Normalmente, o dilema resolvia-se por uma de duas vias: ou se demonstrava uma imensa cabala mediática (algo que, mesmo que os proprietários dos media aceitassem, jamais contaria, espero eu, com o assentimento dos profissionais da informação), ou se buscava a origem do problema na oposição.

Porém, admitindo que esta pudesse ser uma explicação, olharíamos para o maior partido da oposição e veríamos que ninguém com uma armada suficientemente forte vai disputar o lugar ao dr. Marques Mendes.

E aqui, continuando o ping-pong lógico, pode dizer-se que ainda não é chegado o momento apetecido, o que favorece, de um ponto de vista ético, a posição do actual líder, já que remete a questão para a pura táctica. Mas pode também acusar-se a liderança, como fizeram alguns, de bloquear a corrida pelo lado dos regulamentos de quotas e afins. Neste caso, cumpre demonstrar e reunir poder de revolução.

Nada disso tendo resultado, anuncia-se que o Presidente procurará fazer do seu politburo uma equipa abrangente, federando tendências várias, por via dos seus nomes mais consagrados.
Estes movimentos são circulares, e os próprios protagonistas são os mesmos, mais ou menos, desde a Primeira República.

Não sou dos que busca no PSD todas as causas dos números que as sondagens vão oferecendo, mas penso que há algo de muito estranho em tudo isto.

Não será que a actual nomenklatura portuguesa perdeu a capacidade de se regenerar, trocando as novas adesões críticas pelo agregar de novos seguidores que se querem dóceis e pouco ruidosos?

Tomara eu conhecê-la, mas de certo que há explicação para a apatia actual…

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Se eu fosse dos outros II...

Agora que se sabe que nenhum dos principais e eventuais challangers vai a jogo pela liderança do PSD (decisão sábia, como escrevi no primeiro capítulo desta mini-série), importa olhar para os cadernos eleitorais (depois de fechados), ver as filas e apurar os resultados...
E o dr. José Alberto (o "nosso" Zé Beto) avançará?

terça-feira, 4 de abril de 2006

Um mundo sem pipocas

A propósito de um filme (de certo muito comercial para que mereça aplauso da critica ou atenções de Hollywood) que está em cena, algumas interrogações podem levantar-se sobre a evolução das democracias ocidentais, sobretudo depois do 11 de Setembro, e em face da crescente “islamofobia” e outros temores afins.

A película em causa, de uma forma suficientemente “pop” para que seja acessível a todos (a tal democratização da cultura que já faz curso nos EUA, na Grã-Bretanha e até, pasme-se, em França, há alguns anos, e que a nossa esquerda continua a desdenhar, preferindo a “subsidiodependência”), aborda um cenário que, mesmo acreditando eu na durabilidade da democracia, não deixa de convidar, como disse, a algumas reflexões, começando, desde logo, e perante casos como o Irão (exemplo meu), pela ideia de que intervir em nome da democracia requer algumas cautelas. A primeira delas tem a ver com a “exportabilidade” do regime em causa. Escrevem inúmeros académicos que há requisitos, por exemplo cívicos e culturais, para que possamos abrir curso à democracia.

E, mesmo sublinhando que, em tese, a única religião incompatível com a democracia seria o hinduísmo (e, mesmo assim, a Índia é a maior democracia do mundo), mercê do sistema de castas, ficam, em certas partidas do globo, a faltar, entre outros requisitos, um sistema educativo aberto e o acesso a fontes alternativas de informação (pluralidade de media, entenda-se).

Acresce que, nas intervenções que visam o câmbio de regime, é necessário que se planeiem as intervenções tidas por imperiosas (não as tidas por imperiais, que são condenáveis), para que se não volte a verificar o caos social, étnico e religioso do Iraque. Fui dos que concordei com a intervenção, continuo a ver-lhe vantagens, mas não sabia (nem podia saber) que não fora feito um estudo do mosaico social que permitisse acautelar melhor o pós guerra.

Outro risco é o de o “choque de civilizações” popularizado por Huntington passar a realidade sob a forma de islamofobia.

Se é verdade que o ódio, a ignorância e o vilipêndio dos direitos humanos são estandartes de muitos países administrados confessionalmente, o facto é que, a Ocidente, alardeando-se maior grau de civilização, não pode pagar-se na mesma moeda e meter todos os muçulmanos no mesmo saco, fugindo do Corão como Drácula fugia da cruz.

A meu ver, e não sendo sociólogo, o problema é mesmo mais vasto e, dada a ruptura dos sistemas assistenciais das democracias demo-liberais e a insuficiência do mercado para corrigir sozinho as insuficiências que gera, os tempos de crise tendem a voltar os cidadãos contra o “estranho”, seja ele de Leste, de África ou do mundo islâmico (independentemente do país).

E é aqui - exactamente aqui – que pode grassar a mensagem extremista e populista. Com afloramentos em França (Le Pen), em Itália (alguns dos aliados de Berlusconi e Alessandra Mussolini) e em vários outros pontos da Europa, surgem movimentos políticos que culpam os “outros” pelos problemas de que os sistemas políticos e económicos (que são imperfeitos, como todas as construções humanas) padecem, designadamente ao nível das taxas de desemprego.

Os mesmos movimentos que, uma vez conquistado o poder, pedirão mais videovigilância, mais acesso a dados genéticos e mais parafernália tecnológica que permita aos governos ver e ouvir tudo o que se passa na vida de cada um.

Usadas pelas democracias estáveis (como é o caso de Portugal), prerrogativas como instalar câmaras de vigilância em locais públicos, fazer escutas telefónicas fiscalizadas por juízes ou constituir bases de dados genéticos são benéficas e podem melhor a vida democrática.

O Problema é que, a deteriorar-se muito mais o nível da classe política e a agravarem-se os problemas sociais que despontam (em parte por causa da primeira premissa), as ferramentas em causa podem mudar de mãos e, nesse caso, o filme passará a “novela", e os problemas já não poderão ser resolvidos com pipocas...