sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Bom ano novo


A Administração da Lodo S.A.D. deseja a todos os clientes, fornecedores e amigos (e aos outros também) um doce ou bruto (ou, por que não, meio-seco) 2007 com sucesso e saúde.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Ah, ganda Pai Natal !...

Uma das notícias do dia (que podem ver, por exemplo, no Diário de Notícias) é a de que os portugueses gastaram, nos primeiros 25 dias de Dezembro, o equivalente a 994€ por segundo. Assim mesmo, sem vírgula no número... Quase mil euros ou duzentos contos, portanto.

Reflexão óbvia: as pessoas queixam-se da crise, mas não têm o menor bom senso no que toca ao consumo.

Reflexão menos imediata: creio que a (in)cultura mediática entorpeceu fatalmente o espírito crítico das pessoas, que já pouco raciocinam sobre o que é essencial e sobre o sentimento que pode fazer de um presente de valor simbólico uma jóia de marajá.

O consumismo infrene que é induzido pela florescente indústria publicitária está a levar-nos para além do saudável. O que está na moda hoje, já não está na próxima semana (vale dos telemóveis à roupa e das consolas de jogos aos automóveis) e comprar o "último grito" é quase uma necessidade biológica, produzindo-se uma sensação psicológica de menoridade em quem não tem o que já há na escola ou no emprego.

Daí o sucesso das siglas do momento, sejam elas Cofidis, Capital Mais ou outra, esquecendo-se o feliz comprador que, seja com estas empresas ou com um banco tradicional, tudo haverá de ser pago e com juros.

Aqui fazia falta pedagogia explícita pelos políticos. Mas saberão eles do que falamos? Será que não estão, também eles, "contagiados"?

domingo, 24 de dezembro de 2006

Socooooooooorro!!!

Pois logo haveria de ser na véspera de Natal que eu, que me preocupo com o mundo dos media, tive uma novidade tétrica: uma jornalista estagiária (muito bem remunerada, ao que sei) de um dos jornais portugueses ditos "de referência" reconheceu a uma pessoa amiga que uma das suas principais fontes de pesquisa é a Wikipédia.
Ora bem, falamos de uma enciclopédia que se auto-intitula de "livre", já que potencia o Voltaire ou o Diderot que há em nós; i.é, todos podem editá-la.

Daí a uma jornalista considerar a mesma uma fonte credível para fundar a informação (?!) que passa aos portugueses...
Que faltará acontecer?...

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Feliz Natola

A Administração da Lodo S.A.D. deseja a todos os clientes, fornecedores e amigos um FELIZ NATAL.

Reuniões de elite

Numa altura em que todos nos arrepiamos com os aumentos da taxa de juro decretados pelo BCE, há outra espécie de juro, aparentemente, mais indolor, mas pela qual, temo-o bem, viremos a pagar um preço muitíssimo mais penalizador.

Falo do preço que pagaremos, sem apelo nem agravo, por mantermos grande parte da classe política actual.

E nem se pense que falo por despeito ou eivado de súbito assomo de arrogância. Bem ao invés, falo procurando assestar baterias contra o comodismo de muito cidadão bem colocado na vida empresarial, profissional liberal ou académica que prefere o cifrão ou o artigo nos media a meter pés ao caminho. A lógica que subjaz a esta censura não é a de que todos temos de gostar de política, mas sim a ideia de Cícero de que o mal-estar social não desculpa o absentismo, antes clamando por envolvimento.

E é assim, largando o acessório, que explico a razão de ciência do que comecei por dizer: arrepiei-me de morte com o conselho nacional do PSD, no último fim-de-semana.

De facto, julgando eu que as intervenções de Cavaco Silva, Luís Filipe Menezes, Rui Rio e Nuno Morais Sarmento haviam “feito a festa, atirado os foguetes e apanhado as canas”, guardado estava o bocado.

Enquanto o engº Sócrates se passeia por toda e qualquer sondagem, e perante um confrangedor esforço do dr. Marques Mendes para ser escutado a propósito das razões de Estado, os mais diversos fidalgos (nem atribuo títulos, pois creio que os barões já se retiraram) do PSD entretiveram-se com uma questão crucial para o nosso futuro enquanto Estado-nação: saber se pode ou não criticar-se o líder do partido nos media e se isso é ou não fazer o “jogo da oposição” (dúvida de tal modo existencial que nem o dr. Mendes resistiu a filosofar a este pretexto)…

Se os meus amigos imaginassem os nomes consagrados da actual elite laranja que consumiram horas da sessão partidária a debater se deve ou não criticar-se o presidente, e em que sitio se deve dizer tudo e qualquer coisa, veriam que, por vezes, a realidade é pior do que o pesadelo.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Mitologia britânica

Ao que vi na RTP, as autoridades britânicas deram por concluídas as investigações sobre a morte de Diana Spencer, a Princesa de Gales, não tendo detectado indícios de atentado ou conspiração, no que vieram corroborar os resultados obtidos pelas suas congéneres francesas.
Não acreditando por um só momento que os britânicos se arriscassem a falsear os dados deste caso mediático (posto o que sempre restaria explicar idênticas conclusões, em França), creio que pode devolver-se alguma paz à monarquia britânica.
É que, a meu ver, Diana tinha o peso próprio de quem soube viver o lado notório da sua condição de princesa (deu valentes lições de marketing ao ex-marido, reconheçamo-lo), pese embora tenha evitado ao máximo cumprir o lado mais institucional e tradicional das regras do "clube" a que quis ufanamente aderir.
Por isso, creio que, no silêncio, se registou o perfil de Estado de Isabel II e que, com o respeito devido a (quase) todos os que já não estão entre nós, tratamos de um epílogo importante para a coroa britânica que, digo eu, é um dos pilares importantes da cultura de liberdade que se vive em terras de... Sua Majestade, e não só (mesmo a Austrália referendou positivamente a sua posição de chefe de Estado, embora com o simbolismo próprio da Commonwealth).

Consulta de gastroenterologia

Tente ver sem vomitar...

E o veredicto é...

Sacha Baren Cohen é um comediante que nunca apreciei, seja como Borat, seja como Ali G.
O filme Borat: Aprender Cultura da América para Fazer Benefício Glorioso à Nação do Cazaquistão, todavia, despertou-me reacções contraditórias: por um lado, há momentos hilariantes.
Por outro lado, trata-se de um enxovalho grosseiro ao Cazaquistão, que nos revoltaria a todos se o filme satirizasse Portugal (e acreditem que, para muitos povos mais desenvolvidos, somos vistos como valentes pacóvios).
É daqueles filmes que "só visto" e que interpela os preconceitos, já que confesso que ía preparado para odiar o dito.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Adiós Pinochet


Aos 91 anos, o ex ditador chileno faleceu no passado domingo (ironicamente no dia em que se celebram os Direitos Humanos) e é hoje cremado em Santiago do Chile.

Tal como em vida, a sua morte divide hoje os chilenos e muitos pelo mundo fora – uns festejam, outros choram.
No meu entender, não se celebra a morte de ninguém, muito menos por razões ideológicas. Ainda assim, é lamentável que Pinochet tenha morrido sem sentencias, apesar das numerosas acusações judiciais que sobre ele pendiam.
Dezassete anos de regime dictatorial e sanguinário não deviam de ficar impunes.

Fica o desejo de que a sua morte sirva, pelo menos, para alertar autoridades e governos de que urge uma justiça célere, particularmente quando se tratam de crimes que versam sobre direitos humanos.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Compras de Natal






Obviamente que não pretendo insultar qualquer um dos autores ou sequer os seus apreciadores ao colocar lado a lado os fenómenos editoriais mais recentes, que são "Percepções e Realidade" do Dr. Pedro Santana Lopes e "Eu Carolina" da Srª Dª (ah, pois é...) Carolina Salgado.



Porém, reflectindo sem baias sobre o assunto, uma mesma essência explica as vendas em massa: em ambos os casos se desvendam segredos sobre assuntos mediáticos, mas com contornos ainda siblinos.


Ou seja, o império da "cultura" mediática introduziu em nós um voyeurismo que cria apetite pelo segredo e pelo pessoal. O êxito de Big Brother ou Fiel ou Infiel é a versão softcore de um desejo de saber da vida dos outros e de conhecer a mesma em todos os seus detalhes, que são tanto melhores quanto mais picantes.


Assim, tirando um núcleo de apoiantes mais militantes e de social-democratas, que buscam extra-muros a explicação total do resultado de 2005, lê o mais recente livro de Santana Lopes quem quer saber o que nunca havia sido dito sobre a ida de Durão Barroso para Bruxelas e sobre as razões (a falta delas, em meu entender) de Jorge Sampaio para dissolver a Assembleia da República.

Do mesmo modo, lerá Carolina quem quiser saber mais sobre os putrefactos meandros de algum do nosso futebol e detalhes sobre o controverso Jorge Nuno Pinto da Costa, como comprova a ridícula procissão de benfiquistas que se dirigiu ao lançamento do livro, num hipermercado, julgo eu, de Lisboa.
E, deste modo, seguimos a nossa vidinha: submersos em prestações de tudo e mais alguma coisa, mas contentes por termos assuntos para comentar no trabalho...
De todo o modo, uma aposta: Carolina vai vender mais do que Santana Lopes.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Ninguém gosta de mim...

Decididamente, depois das sondagens, da entrevista de Cavaco Silva e do comício de Menezes, só faltava a Marques Mendes a entrevista de Rui Rio, ontem.
Peremptório como só ele, o Edil portuense afirmou, perante Judite de Sousa, que entendia que, a continuar a actual via reformista, Sócrates venceria as eleições de 2009.
Será que os afoitos servidores do premier laranja também vão chamar traidor a Rio?! Não vejo coragem para isso...

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

O que não vem nos lucros

Hoje, num voo directo Lisboa-Veneza, a TAP conseguiu deixar em terra a bagagem de duas pessoas. Até para isto é preciso ter know-how, dado que não é fácil a proeza...

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Sem pena nem agravo

Já leram a Pluma Caprichosa do último fim-de-semana?
Leiam e deixem as vossas reflexões, eu ainda estou a matutar no que li...

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

26 anos depois


Vinte seis anos depois, duas teses contraditórias, muitas comissões de inquérito pelo meio e até um filme... as dúvidas e as suspeitas quanto ao caso "Camarate" continuam por esclarecer.
Nos últimos tempos, confissões inesperadas, a injustiça da prescrição do processo (em Setembro último) e até a possibilidade de criar um regime especial face a essa prescrição voltaram a mediatizar este caso.
Volvidos todos estes anos, uma só conclusão da minha parte: quão lamentável é constatar que este caso representa o paradigma de um sistema judicial português ineficiente e burocrático...

Não sou contemporânea de Francisco Sá Carneiro, nem vivi o 4 de Dezembro de 1980, mas desde muito cedo que este trágico acontecimento histórico e a morte de um dos mais marcantes políticos portugueses do séc.XX me despertaram à atenção.
Do que li e do que ouvi, constatei que Sá Carneiro tinha aquilo que falta a muitos dos políticos de hoje: carisma, inteligência, ousadia, determinação, sentido de Estado...
Enfim, o rol de qualidades era, indiscutivelmente, vasto. Talvez por isso, e ainda que fosse respeitado pelos políticos contemporâneos, o seu percurso político terminou mais cedo do que seria de esperar. Afinal, a grandeza de Sá Carneiro ofuscava e incomodava os "demais".
Como (bem) disse Marques Mendes a propósito da data de hoje... "mais do que recordar Sá Carneiro, é importante seguir o seu exemplo".

domingo, 3 de dezembro de 2006

Adeus, ó pá!

O pintor Mário Silva, cujo talendo se não questiona, afirma ter levado a cabo a sua última exposição em Portugal, alegando "perseguição fiscal".

Honestamente, já vi golpes mediáticos mais bem encenados, sendo que me parece burlesco que alguém consagrado precise de um tratamento fiscal especial, em altura de crise.

Imaginemos que ridículo seria se, para pagar menos impostos, José Miguel Júdice, Manuel Antunes, Simão Sabrosa ou Siza Vieira, também eles nomes grandes das suas artes, anuciassem, como fez o pintor, que iriam "exilar-se em Espanha"*...

Fazem falta os que cá estão, sempre ouvi dizer. Mas, já que vai, não podia levar de vez José Saramago (se bem me lembro o escritor prometeu o mesmo, se Cavaco Silva ganhasse, o que, da última vez que verifiquei, aconteceu mesmo...)???

* À atenção da nossa correspondente em Sevilha, Dulce Alves.

Desta vez, tem razão, Sotôr!

Como a "realidade", por vezes, dá com a "percepção", entendo que Santana Lopes tem alguma razão ao lamentar a "figurinha" que se vai fazendo na edilidade alfacinha.

De facto, depois da "guerra de alecrim e manjerona" entre PSD e CDS, o facto é que a polémica subsiste, desde logo, sobre o corredor que o Ministro Carmona reservara para o TGV e no qual o Mayor Carmona Rodrigues licenciou, ainda que condicionalmente, uma urbanização.

Depois, acresce que, efectivamente, as obras mais emblemáticas continuam a ser as lançadas/adjudicadas pelo Menino Guerreiro, sendo que a jóia da coroa (a que prometia pôr Lisboa na moda para os turistas de carteira recheada) parece estar a ser arrastada para o esquecimento; falo do projecto de Frank Gehry, naturalmente...

Para ser coerente e corajoso, restam duas alternativas a Carmona: ou denuncia a gestão do mais recente autor de best-sellers, ou convence-nos da bondade do seu próprio consulado.

Que sorte a oposição ser liderada por Carrilho (a.k.a. "o Grande Ordinário", segundo o léxico do Edil)!...

sábado, 2 de dezembro de 2006

Cretinos

O título nada tem a ver com a minha impressão sobre o filme, que vi ontem.

Trata-se, a meu ver, de um excelente e intenso filme, na linha dos bons filmes de Scorsese, com actores de alto gabarito.

O título?!... Bem isso tem mesmo a ver com a frequência da sala. Assentei arraiais nas Twin Towers, fugindo ao inferno do Colombo (o outro multiplex próximo do local onde me refúgio em Lisboa, e onde vou amiúde), cansado que estou de pipocas pelo chão e mastigadas com a mandíbula inferior a bater nos sapatos, telemóveis atendidos durante o filme e mesmo menus da MacDonald's (sim, foi durante o filme do 007!...), e até porque ía apanhar o metro de seguida, rumo ao Estádio de Alvalade.

Pois bem, apesar da aparência chique, não faltaram as pipocas pelo chão e um infante de não mas de 6 anos a ver um filme violento, de que apenas percebia os tiros e agresões (como pude ir escutando)... Mais espantará se vos disser que era uma famelga com a mania de que é "bem" (algo que os portugueses adquirem sempre que têm umas massas ou que desempenham certos cargos ou funções).

Moral da história (entronca noutros posts): de qulaquer lado da suposta pirâmide social, há muito civismo a palmilhar para que o nosso desenvolvimento económico chegue a ter importância...

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

A f(r)esta da música

A nossa cultura vai de vento em proa; ou seja, isto não corre nada bem…
Depois do fim das capitais nacionais da cultura e da desorçamentação brutal, temos o fim da “Festa da Música”, que ocorria, anualmente, no Centro Cultural de Belém. Basta recordar o último evento para perceber que era um êxito e uma aposta ganha na “democratização” da música clássica. Porém, a espada de Dâmocles pendia há muito, e caiu agora, pelas razões do costume: cortes orçamentais.

Isto já não falando no calvário que vai ser quando, ao fim dos dez anos (creio eu) contratualizados, o Estado for chamado a dizer se compra ou não a Colecção Berardo, visto que se antevêem valores exorbitantes. Se os ciclos se mantiverem, será o PSD a descalçar a bota (o que nem é tão injusto quanto isso, já que, em matéria cultural, também tem incontáveis culpas no cartório)...
O problema preocupa-me mais quando penso que é pela cultura que Portugal poderá manter a sua individualidade na torrente da globalização, como tenho escrito.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Café em chávena quente

Há coisas que não podem deixar de se rasgar. Uma delas foi esta página da revista "Pública" *, de 19 de Novembro.
Têm as simpáticas senhoras a missão de servir à mesa, num café de Santiago do Chile e, ao que li, nada de mais sério, descontada a caridosa tarefa de escutar desabafos de homens sózinhos, quando não é hora de ponta (salvo-seja).
O facto é que este género de estabelecimentos tem clientela, mesmo os que, como o da fotografia, não há serviços extra, na ementa.
Algumas ilações são, por isso, possíveis:
1. Os homens (mea culpa, com certeza) são mesmo fáceis de levar.

2. Andamos mesmo loucos da cabeça.

3. Não nos respeitamos suficientemente.

4. A Dulce e os que com ela abraçam causas (justas) em defesa das mulheres ainda têm muito a fazer.

De qualquer modo, o café sul-americano é bom, apesar de custar o dobro, nestes locais, dada a servidão de vistas.

* Que nos emprestou a fotografia, pese embora sem saber...

sábado, 25 de novembro de 2006

Tolerância ZERO

O título deste post pode parecer um contra-senso para os leitores mais atentos deste blog, que ainda há poucos dias me viram focar aqui o Dia Internacional da Tolerância. Abordou-se, na altura, o facto de ainda fazer sentido designar determinadas datas para sensibilizar a opinião pública acerca de problemáticas tão graves quanto preocupantes.

Fazendo então a ponte da ‘tolerância’ para o que deve ser intolerável:

Hoje, 25 de Novembro, assinala-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

E mais uma vez senti necessidade de focar uma data; a de hoje para para relembrar que em pleno séc. XXI, por esse Mundo fora, as mulheres ainda são vítimas de discriminações de toda a ordem e de actos de violência de toda a espécie.

Lembrar que a violência sobre a mulher é um fenómeno mundial, que ocorre numa variedade de contextos - não só nos países ditos subdesenvolvidos - atravessa fronteiras, religiões, classes sociais e que não se restringe à violência doméstica. A realidade é muito mais ampla – tráfico humano, violação sexual, discriminação laboral... enfim, uma lista (lamentavelmente) infindável...
Lembrar também que os dados ‘falam’ por si. Aqui ficam alguns mais recentes:

*Nos EUA uma mulher é violada a cada 90 segundos;
*Em 28 países de África a mutilação genital ainda é praticada;
*80% dos refugiados de conflitos comunitários, étnicos ou políticos são do sexo feminino;
*A cada três dias morre uma mulher vítima de maus tratos em França (dados revelados esta semana por uma ministra francesa);
*Em Portugal, 50 casos diários de violência doméstica chegam à PSP/GNR;

(Ver mais dados aqui)

Não foi por acaso que a ONU, em 1999, resolveu dedicar este dia como dia oficial do combate a uma das muitas violências que teimam em proliferar.
Um dia para lembrar, meditar e pensar de que forma nos podemos mobilizar contra uma das mais vastas e persistentes violações de Direitos Humanos.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

My name is Craig, Daniel Craig...

Aí está “Casino Royale”, a vigésima primeira aventura de James Bond.

Muitas críticas depois, dois dentes partidos, dias a fio no ginásio, alguns enjoos no barco e até queimaduras solares...
...aí está Daniel Craig reencarnando o espião mais sexy do cinema.

Efeminado, demasiado louro, parecido com um operário de Leste, pouco sofisticado, pouco bonito, pouco carisma... o rol de críticas era interminável quando o sucessor de Pierce Brosnan foi anunciado.

Contudo, hoje reúne elogios por parte da crítica cinematográfica. Foi ovacionado na ante estreia no Reino Unido e, imagine-se, até teve direito a um cumprimento da Rainha Isabel II, que fez questão de lhe falar pessoalmente!

Quem já viu diz que o sexto actor a interpretar James Bond não destruiu essa imagem de marca que Ian Fleming criou. E acrescenta que veste e despe muito bem o smoking...
Coisas sobre as quais de momento não posso opinar... só mesmo depois de ver o filme...

Mas uma coisa é certa: agrade ou não aos fiéis de 007, Craig retomará o papel do agente secreto mais famoso do Mundo já em 2008.

Francamente II

Sua excelência, o primeiro-ministro, quer aumentar o ordenado mínimo nacional para 400 €. Com 400€ por mês, depois de se pagar uma renda, a água, a luz e o gás quanto é que sobra para comida? Já nao pergunto pela roupa, pelos medicamentos nem, ousadia das ousadias, pelos livros!!!
Digam-me vocês onde é que vamos parar!

domingo, 19 de novembro de 2006

Francamente!...

A propósito de um motim numa prisão mexicana e da ulterior intervenção policial para lhe pôr cobro, acabo de escutar mais uma pérola jornalística, no noticiário vespertino da RTP1.

Dizia o relato da jornalista portuguesa que o ambiente ficou tenso assim que surgiram helicópteros com "franco-atiradores da polícia"...

Ora, passando a publicidade, o bom serviço do dicionário "Priberam" ajuda-nos, dizendo que um franco-atirador é "aquele que faz parte de um corpo irregular de tropas ou combate, por iniciativa própria, sem estar ligado ao exército legalmente constituído; guerrilheiro; membro de certas associações que têm escolas de tiro".


Quereria a jornalista dizer, por exemplo, atirador de elite ?! Nunca o saberemos, receio bem...

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Homens de saias

Na Conferência Episcopal Portuguesa, os nossos Bispos resolveram "comer a Dama" e pôr em xeque o régio direito a ter uma família.
Dir-se-ía que foi a coice de cavalo que nos fizeram cair da torre do progresso científico, convertendo-nos em peões de uma doutrina, cada vez mais, desfazada do que deveria ser uma moral prática para a pós-modernidade.
Em boa verdade sou dos que simpatiza com muitos postulados da ética católica-apostólica-romana, mas também não deixo de entender que não é com uma resistência cega às alterações (algumas para pior, concordo) que trouxeram os tempos que correm que se cativam as pessoas para seguir aquele que dizem ser o caminho do Senhor.
Casos como o do aborto seriam mais eficazmente tratados pela Igreja, se adequasse a forma de expressão e o modo de condenação. Porém, este é um dos casos em que mais facilmente entendo o irredentismo episcopal.
O mesmo se não passa com o facto de relativamente à procriação medicamente assistida os Bispos terem afirmado que utiliza métodos (legalmente permitidos, sublinha-se) que "constituem uma infidelidade, ainda que consentida" *. Falam suas eminências, como está bem de ver, da fecundação heteróloga (aquela em que, face à infertilidade, se recorre a óvulos ou espermatezóides de uma terceira pessoa). Confesso que há muito tempo não ouvia algo tão retrógado no mundo ocidental...
E depois sobra uma contradição lógica: não são estes os mesmos Bispos que entendem que uma mulher não deve abortar, pois sempre haverá carinho e dignidade para o nascituro?!
Ou seja, o importante é o resultado final e um ser humano em crescimento, certo?!
Sendo assim , o que os detém, neste caso? O simples facto de se usarem gâmetas alheios com o acordo de ambos os membros de um casal que querem trazer uma criança ao mundo e, deduzo, dar-lhe aquele mesmo carinho que devia (como um dos argumentos "contra"), dizem eles, banir o aborto?
Em bom rigor, o assunto em apreço não me levanta nem dúvidas, nem especial entusiasmo, mas não podia deixar de registar o quão moderno anda o mundo da sotaina e do paramento.
* Fonte: Diário de Notícias, de hoje.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Porque hoje é...

...o Dia Internacional da Tolerância, essa atitude/capacidade/virtude que é fácil de aplaudir, difícil de explicar e ainda mais dífícil de pôr em prática...
... fica aqui uma citação de Gandhi para reflectir:

"A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos"

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

"Percepções e Realidade"… by PSL

Foi apresentado, no passado dia 13 de Novembro, o livro por muitos esperado: "Percepções e Realidade". Este livro de Pedro Santana Lopes (PSL) vem certamente dar uma visão pessoal dos desenvolvimentos histórico-políticos que resultaram na dissolução do Parlamento, em 2004…
Claro está que não deixa de ser a sua visão pessoal, mas, mesmo assim, julgo ser importante, para quem acompanha de perto estes assuntos, reter esta opinião!!!

Eu sou da opinião de que o período de 2002 a 2006 da política portuguesa será alvo de um “Case Study” para quem se dedicar à ciência política, no futuro…

Mesmo para os menos atentos, é fácil perceber que não é normal que se agendem eleições antecipadas num país com uma maioria parlamentar e com uma grave situação económica em resolução…
Mesmo justificando esta atitude do Presidente Sampaio com a crítica fácil de caracterizar o Governo de PSL com “falta de competência”, isso torna-a ainda mais complexa. Senão vejamos:


Quais foram os critérios de avaliação de competência utilizado pelo presidente Sampaio ao primeiro-ministro em 2004, tendo este apenas um mandato de 4 meses??? Mandato esse confiado, por esse mesmo presidente…
Será que foram os mesmos critérios que o presidente Sampaio utilizou para avaliar, entre 1996 e 2001, os governos do engenheiro Guterres??? Parece-me que não…

NOTA: a referência anterior ao período do “case study” de 2002 a 2006, não é um erro!!! As medidas do actual Governo são idênticas a muitas das medidas anunciadas pelo Governo de PSL em 2004… O que, realmente, difere é actual Presidente da Republica…

Sobre este assunto, não tenho mais nada a acrescentar, a não ser após a leitura do livro!!!
Confesso que também estou curioso por saber quais os comentários do Professor Marcelo no próximo Domingo, relativamente a este “relato” de PSL…

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Cala-te boca

Neste fim-de-semana, uma das reportagens realizadas por uma das estações televisivas glosava à saciedade o facto de José Sócrates se ter recusado a prestar declarações à comunicação social, fora dos momentos especificamente agendados para o efeito. Se calhar, fez bem...
Já há alguns dias, um jornal diário de referência abordava este género de atitude, informando que cresce o número de vezes em que as figuras públicas convocam os media para declarações sem direito a perguntas posteriores.
O interessante da coisa é que o jornalista que assinou a peça televisiva não parou para pensar nas eventuais motivações do Secretário-Geral do PS.
Ora, não conhecendo as socráticas razões, mas especulando com o auxílio da notícia mencionada, não me parece difícil de cogitar que tal pode ficar a dever-se à necessidade de auto-defesa dos titulares de cargos públicos que, cada vez mais, se vêem acossados por jornalístas que se acham investidos de um papel de contra-poder, para o qual ninguém os mandatou.
Pensando a contrario, basta lembrar a chacota e o massacre a que é sujeita qualquer figura pública que, aceitando colaborar, naquele momento, comete um lapso.
No dia em que os jornalístas fizerem auto-crítica verdadeira, talvez possa procurar-se o equilíbrio necessário entre a vontade de falar e o dever de informar.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Favores em cadeia

Por mais filmes que veja poucos me tocam como este. Em jeito de confessionário tenho de admitir que este filme apela às minhas lágrimas com convicção :.(

Sei que não é a última novidade do cinema, mas recomendo!

(Inspirada pelos mais recentes posts cinematográficos :)

Um ombro cheio de qualidades

Que publicações virtuais como o "lodo" aviem uns valentes pontapés na gramática ainda vá, mas o Expresso...
O erro foi já alvo de denúncia no programa televisivo de Diogo Infante, mas foi daquelas calinadas que saltou à vista dos mais atentos, logo no dia 4 de Novembro.
A propósito da notícia ao redor de uma denúncia de Agostinho Branquinho (deputado do PSD) sobre a alegada manipulação de um noticiário da RTP pelo Governo, o político é citado pelo semanário como tendo salvaguardado a "ombridade" do jornalista que teria sido alvo daquela pressão.
Ora, salta à memória o Congresso da JSD realizado em 1998, na Figueira da Foz, no qual o meu correlegionário Pinto Lobão exaltava a "hombridade do Pedro Duarte", explicando aos circunstantes que falava de "hombridade com 'h' porque era uma qualidade do homem e não do ombro"...
Embora cite de cor (já lá vão 8 anos...), nunca mais me esqueci de como um, então, jovem da JSD prevenia um erro algo grosseiro, mas usual.
Claro que também teremos de admitir que, mesmo em jornais ditos de referência, os lapsos sucedem. Porém, não só a revisão de textos (mais a mais na 1ª página, como foi o caso) deve ser rigorosíssima, como se me apoquenta o espírito sobre a formação de quem, por sua vez, forma a mente de muitos cidadãos.
Como no ensino em relação a novos professores, preocupa a suspeita de perda de qualidade e de "escola" no jornalismo, com a correlativa adopção de uma táctica de afrontamento do poder, que acaba, possivelmente, por encobrir algumas insuficiências próprias, como já se debateu por aqui.

Prémio "Splendor"

Na edição de 4 de Novembro do Expresso podia ler-se, a propósito do número de filiados nos diversos partidos (presumo que visassem apenas os que têm mais de dez militantes, assim se explicando a omissão de "Os Verdes") que, para o PSD, "em 2005, o panorama foi ainda melhor: 8793 filiações, metade verificada entre jovens até aos 30 anos. Miguel Macedo, secretário-geral do PSD, atribui o 'fenómeno' à ' dinâmica gerada pela eleição de Marques Mendes como líder do partido, em Abril de 2005' ".
Vinda de uma pessoa que considero bastante, não deixa de ser uma tirada deliciosa...

Naaaaaaaaaaaaa

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Já vi bem pior...

É fruta ou chocolate!...

Tenho escrito inúmeras vezes sobre os problemas cívicos que, a meu ver, explicam muito do nosso atraso.

De facto, olhando outras nações que progridem, mesmo não detendo riquezas naturais de vulto (como sucede connosco), tenho vindo a afirmar que valores e atitudes como o mérito, a honestidade, a lealdade, o esforço, o estudo, entre outros, podiam fazer-nos, atendendo às imensas qualidades de que também somos fieis depositários, estar na liderança dos países desenvolvidos, em não muito tempo.

Em quatro andamentos (quatro singelas e reais situações que me sucederam) abordo a ideia pelo lado comercial, em torno do qual gira muito do que é a maneira de agir de um povo, nas economias de mercado.

Dispenso-me de gastar o meu latim com o lado da procura, já que, também em mais do que uma ocasião, me debrucei sobre o fenómeno do sobreendividamento e a histeria actual pelo supérfluo.
Resta-nos, assim, olhar a oferta e tentar ilustrar as razões pelas quais, mesmo nos actos comerciais mais simples, começa a ser interessante deixar o seu dinheiro e pagar os seus impostos associados ao consumo noutros países, sempre que possível. É neste âmbito que caiem as duas primeiras situações, que relato esta semana.

Assim, e pegando na deixa, começo pelos casos em que isso foi possível, recentemente. Opto por situações comuns do dia-a-dia, já que são aquelas que mais me interessaria perceber, visto que começa a avolumar-se em mim a ideia de que, sendo verdade que, em média, recebemos menos a título de remuneração e consumimos bens mais caros (o exemplo mais célebre é o dos carros, mas, neste caso, com uma explicação tributária óbvia), é duvidoso sonhar com o ideal de equalização que preside ao chavão da “coesão”, tão apreciado pelos que vêem em Bruxelas o paraíso.

Exemplificando, posso dizer-vos que, num sítio da Internet dedicado à electrónica e baseado em Espanha é possível comprar, por exemplo, um telemóvel que custe cerca de 280€, na loja do fabricante (Nokia), em Portugal, por menos de 230€ com portes e comissão do revendedor incluídos, economizando aproximadamente 18%, sem sair de casa.

Mas, mudando a agulha, também em bens culturais pode evitar os comerciantes com sede ou filiais em Portugal, com vantagens notórias. Aponto o caso de um livro que aborda a cultura ocidental dos últimos dois séculos, que pode adquirir por mais de 53€, na FNAC, em Lisboa. Com meia dúzia de toques no rato do seu computador, câmbio efectuado e impostos liquidados, a Amazon do Reino Unido envia-lhe a mesmíssima obra, no mesmíssimo idioma (inglês), por 40€, números redondos, posto o que também reteve no mealheiro cerca de 25% do que lhe pediram na capital portuguesa.

Ou seja, torna-se fácil optar pelo estrangeiro, numa altura em que a retoma precisa de nós. A verdade, porém, é que termos como “retoma”, “crude”, “OPA” e afins não satisfazem as nossas necessidades de consumo, pelo que haveria que repensar a competitividade da nossa economia, refrescando (eufemismo deliberado) a atitude de Estado, trabalhadores e empresários.
No próximo post, voltaremos ao tema com dois outros exemplos que ilustram o défice de competitividade, desde logo, da nossa atitude.

Numa altura de personalização da procura, a nossa oferta continua a tratar o assunto a granel, digo eu…

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Os amigos de Drácula

O Governo (e bem, tenho que reconhecer) pretende limitar os arredondamentos da taxa de juro do crédito à habitação, sempre que há uma revisão da taxa euribor.

João Salgueiro, que não sei se ainda se diz social-democrata (relembro que chegou a concorrer à presidência do PSD contra Cavaco Silva, em 1985), em nome dos bancos (é presidente da associação do sector), declarou que a banca não ficaria a perder, já que sempre restará a possibilidade de castigar os portugueses, aumentando o spread (a margem de lucro assumida dos bancos).
Indiferentes a qualquer consciência social, e resistindo à tentação de implantar dentes de vampiro, os nossos banqueiros mostram bem o grau de consideração que têm para com a situação actual do País.
Seria bom para os nossos banqueiros fazer o mesmo que eu, a seguir ao jantar de ontem, para os lados da Rua Jardim do Regedor, nos Restauradores, subindo a pé por esse lado da Avenida da Liberdade; veriam mais de uma dezena de pessoas dormindo na rua, embrulhadas em mantas e cartão.
Creio que o fenómeno humano da miséria implícita neste caso ainda tem uma dimensão que permite a sua resolução, não falando já na questão social e turística de se tratar de uma artéria que é um cartão de visita da capital portuguesa.
Bastariam umas milésimas dos ditos spreads, tornando-se, pelo menos, compreensível a sua existência e os sucessivos aumentos...
Contudo, aposto que os motoristas dos banqueiros são velozes ao passar na Avenida, que os restaurantes a que estes vão não são tão plebeus (apesar de tudo, ao Gambrinus pode ir-se pelo Rossio) ou que preferem o outro lado da rua...

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

O estado do "Quarto Poder" e... o Estado e o "Quarto Poder"

Parece inevitável.
Sempre que se fazem rankings mundiais sobre o que quer que seja, estamos confinados a figurar nos piores lugares.
Seja qual for o assunto, lá estamos nós, portugueses, na lista negra, habituadissímos aos lugares mais vergonhosos.

Mas diz o povo que “não há regra sem excepção”...
Na passada semana, a ONG “Repórteres sem Fronteiras” divulgou um relatório sobre a liberdade de imprensa no Mundo referente a 2006.
E eis que Portugal “arrecada” a 10ª posição entre 168 países.
Esta posição talvez não nos surpreenda assim tanto, uma vez que longe vão os tempos das comissões de censura e do lápis azul.

Porém, desenganem-se os que julgam que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são “dados mais que adquiridos” quer em terras lusas, quer por esse Mundo fora.
Mediáticos casos como o dos cartoons dinamarqueses – país que outrora figurava no primeirissímo lugar deste ranking... - ou a mais recente morte da jornalista russa fazem-nos repensar o conceito de liberdade de expressão no mundo de hoje.
Até porque os atentados à liberdade de imprensa não se confinam somente a actos graves e mediáticos como estes...

A liberdade de imprensa e a inerente liberdade de expressão estão consagradas em quase todas as Constituições por esse Mundo fora. Trata-se de um princípio cuja importância, à partida, ninguém questiona.
E que na prática parece estar assegurado: afinal, vão surgindo novas formas de pôr em prática a nossa liberdade de expressão – como o é aqui o caso da blogosfera!
E todos os dias nascem novas publicações e revistas. (Por terras lusas, a morte do "Independente" e o nascimento do novato “Sol”, cujo grau de isenção eu não questiono, vieram relançar esta discussão da isenção jornalística...)

Contudo, a maioria de nós mal se apercebe de que diariamente este princípio se vê limitado um pouco por todo o lado, mesmo diante dos nossos olhos. A forma mais subtil de limitar a liberdade de imprensa nos nossos dias é controlar a informação, controlar criteriosamente e rigorosamente aquilo que é passível de ser notícia.
A questão hoje para o editor parece ser: «o que há de novo no mundo de hoje que mereça destaque no meu jornal, que conquiste leitores e que não se confronte com os que o sustentam economicamente?»
E assim se faz jornalismo dito “livre”...

Esta é, ainda que não queiramos assim ver, uma nova forma de censura. Não a do lápis azul, mas talvez a do “toque no ombro”, a do telefonema em tom de aviso.
Apesar de estarmos no “top ten” da liberdade de imprensa, a verdade é que nem o nosso jornalismo é impermeável às influências do poder político e económico...
Nem nós, nem a espanhola Prisa do PSOE, nem a Fox dos Conservadores... tantos (maus) exemplos de como a concentração do poder mediático em quem tem poder económico, pode deturpar o conceito de liberdade de expressão.

Ou seja, legalmente, a censura há muito que acabou.
Em Portugal, do ponto de vista formal, há liberdade de imprensa desde a Revolução dos Cravos. Contudo, volvidas mais de três décadas, não podemos falar de uma imprensa totalmente livre. Aliás, o mais provável é que nunca chegue o dia em que possamos falar dela.
Afinal, trata-se do Quarto Poder, e como Poder que é... há-de sempre ser “controlado”.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Music Hall


Na 3ª feira, os GNR comemoraram 25 anos de carreira, no Coliseu de Lisboa.

Sei que sou suspeito, uma vez que se trata do meu grupo favorito, mas arrisco dizer que foi uma performance notável de um conjunto que tem no seu vocalista, mais do que um cantor, um artista.

E, permitindo uma audição meramente pop ou a degustação de letras com conteúdo social (conforme o gosto de quem ouve), lá desfilaram Piloto Automático, Hardcore 1º escalão, Dunas, Valsa dos Detectives, Efectivamente, Morte ao Sol, Sangue Oculto, Sexta-Feira (um seu criado), Quero que vá tudo pró Inferno e por aí fora, em duas horas de boa música, com bons convidados (Legendary Tigerman, NBC e Sónia Tavares dos The Gift).
Aguardo com expectativa o próximo quarto de século do Rei Ninho...

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Muita garganta


A Constituição da Sérvia, ao que tudo indica, foi aprovada por uma maioria juridicamente vinculativa.
O texto basilar da organização do Estado da ex-Jugoslávia inclui nos limites da sua soberania o Kosovo, como não poderia deixar de ser, desde logo olhando ao facto de os sérvios verem naquela região o berço da sua nacionalidade.
É evidente que ninguém pode esquecer a violência das tropas patrocinadas por Belgrado, quando surgiram as reclamações independentistas.
Entendo, de igual modo, que também não podem olvidar-se as acções terroristas das milícias de matriz albanesa e o perigo para a estabilidade da região balcânica que pode representar mais um Estado (eu diria, um estrago) similar ao que (não) é governado a partir de Tirana (não me contaram; eu vi)...
A questão do momento, porém, é outra, a meu ver. Falo da adesão da Sérvia à União Europeia que, ao que se diz, pode estar a ser condicionada pela entrega de Mladic e Karadzic (heróis na Sérvia, bandidos fora dela) e pela resolução do dossiê kosovar.
Não entrando sequer na questão da jurisdição internacional (que permitiu ir buscar Milosevic a "casa"), sublinho, mais uma vez, a hipocrisia do sistema de relações internacionais, bem patente no enleio amoroso em que o mundo ocidental anda com a mesma China que pratica tiro ao alvo no Tibete e que, em início de 2005, aprovou uma lei anti-secessão, que proibe qualquer auto-determinação em Taipé (Taiwan).
Eu diria que o Kosovo é mais simbólico para a Sérvia do que as duas regiões mencionadas para a China. Bem sei que a China não deseja aderir à UE, mas inunda-nos de produtos, pelo que, creio eu, a questão moral parece equivalente.
Mais uma vez, a valentia e ética europeias têm mais garganta do que outra coisa...

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Aún hay lodo en el muelle *

Não sei se já sentiram o mesmo, mas parece crescer o número de jovens cidadãos portugueses entre os vinte e os quarenta anos que, em conversas de café ou em alocuções mais estruturadas, começam a dizer pérolas do género “quem me dera ser espanhol” ou “estávamos melhor se fossemos uma província de Espanha”.

Evidentemente, digo isto sem esquecer que, embora com versões e correcções para todos os gostos e feitios, um ministro do actual Governo, Mário Lino, se declarou iberista, com a força política que as palavras ganham quando ditas por um governante.

Em boa verdade, nem para outro fenómeno queria eu alertar, quando sublinhei, no último congresso do PSD, que a Espanha está a conseguir por modo pacífico o que nunca conseguiu pela via agressiva, ao longo de uma história vicinal. Basta olhar o sector energético, a moda, e por aí em diante…

Vamos então conservar a bola a meio-campo e tentar perceber se é de atacar ou tempo de jogar à defesa…

Desde logo, arrasa quem começa por comparar os níveis de vida. Os vizinhos do lado ganham (muito) mais e gastam (muitíssimo) menos a atestar o depósito e a encher a despensa. Aliás, não há muito tempo, jantava nas cercanias do museu em que acabara de ver uma soberba exposição denominada “Rusia!” (Rússia) - falo do Guggenheim de Bilbau – e sou interpelado pela constatação de um amigo que me alertava para o quão caros achava os bocadillos, as tapas e todas aquelas comidas às prestações que fazem nuestros hermanos lamber os beiços… Como se tomado por um ataque de clarividência, cerce desmistifiquei o veredicto; bastou chamar a sua atenção para o facto de as mesas povoadas por espanhóis (todas, excepto a nossa, tanto quanto pude aperceber-me) estarem cheias de pratos e pratinhos. Resignados, concluímos que nós é que estamos (comparativamente, pelo menos) bem mais pobres…

Em segundo lugar, não falta que diga que muito do que podemos legislar ou fazer é, já hoje, ditado por Bruxelas, pelo que sermos uma província autónoma do país de Zapatero em nada apoquentaria, já que seremos, cada vez mais, uma província federada da União Europeia. A vantagem, na óptica dos cultores desta linha de raciocínio, era colhermos as prebendas de Madrid, numa espécie de epitalâmio que nos levaria a votar para o inquilino da Moncloa (sede do governo espanhol) - a residência de São Bento seria para o presidente da junta autónoma, calculo.

Por fim, os adeptos do casamento ibérico assestam baterias contra o alegado provincianismo alheio, afirmando que o discurso “patrioteiro” de muitos políticos nacionais tem a ver com o receio de perderem os lugares e sinecuras, dada a mediocridade reinante e a dimensão do “mercado político” numa escala peninsular. Este argumento, em meu entender, é o mais fraco de todos, já que, se é verdade que grande parte da geração que domina a política actual faz tudo para se agarrar o lugar, o receio tem mais a ver, salvo melhor opinião, com o facto de muitos se terem vindo a eternizar sem acautelar um lugar profissional de recuo. De facto, parece-me que a maleita magna da nossa vida pública é geracional e explica-se com as oportunidades de carreira do pós-revolução.

Entrando na contra-argumentação, faz-me confusão pensar que milhares de portugueses morreram em batalhas, navegaram para mundos desconhecidos e criaram pérolas do saber em vão. Não estou preparado para entregar de graça algo por que tantos pereceram e a que outros consagraram uma vida.

Acresce que estou em crer que nem o clássico “mercador de Veneza”, que queria cobrar a onça de carne ao devedor, trocaria a pátria por uma viagem mais barata a Lisboa ou mais sumos no armário.

Sendo algo de idiossincrático confesso que nem sei bem explicar a certeza de que não quero ser algo senão português; mas disso estou bem seguro.

Há, porém, algo em que ambos os lados da barricada estão irmanados: a necessidade de preservar com muito mais vigor a nossa identidade cultural. Até os que vêem bom vento e bom casamento a vir do quintal vizinho vão dizendo que sempre seríamos autónomos na língua e cultura. Eu, na minha insignificância, já venho dizendo que é com cultura que se defendem as fronteiras actuais, de há muito a esta parte.

Correndo o risco de desagradar a todos, sublinho que não vejo que os nossos decisores o saibam, de tão ridículos que continuam a ser os orçamentos para a cultura. Talvez seja assim que, um dia, um destes posts venha a terminar com um “hasta la vista”!...
* Em boa verdade vos digo que o título deste post é uma tradução "selvagem" para espanhol. O título do filme que (também) inspirou o baptismo do blog ("Há lodo no cais) é, na lingua de nuestros hermanos, "La ley del silencio". Em inglês é mesmo "On the waterfront".

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Por que é que falei bem do Ministro?!?!

Comunicado do Conselho Nacional do Médico Interno

Perante as sucessivas violações a que tem estado sujeito o processo de colocação dos médicos internos nos respectivos concursos de acesso ao Internato Médico, o Conselho Nacional do Médico Interno entendeu comunicar a todos os colegas a sua posição.
A criação de dois concursos simultâneos, com requisitos especiais de admissão distintos, para ingresso no Internato Médico em 2007 não se encontra prevista quer no decreto-lei 203/2004, quer na portaria 183/2006 (regulamento do Internato Médico). Entende o CNMI que o estabelecimento de requisitos especiais de admissão deste tipo abre um precedente grave, já que permite alterar significativamente as regras de admissão ao Internato Médico de concurso para concurso e de ano para ano. Alterações desta monta não devem ser feitas através dos Avisos de Abertura dos Concursos, porquanto estes se referem apenas ao concurso em causa e não às regras gerais a que estes procedimentos devem obedecer e que devem permanecer constantes.
Inicialmente esteve em causa a possibilidade de acesso ao concurso pelos médicos actualmente no Ano Comum de 2006. Esta situação perdurou durante várias semanas até que a Secretaria-Geral do Ministério da Saúde, após insistência do CNMI, finalmente publicou no seu site informação adicional sobre o concurso IM2007-B, onde previa claramente a possibilidade dos internos do Ano Comum de 2006 concorrerem.
Hoje (23 de Outubro), o CNMI foi confrontado com a revogação dos avisos de abertura dos concursos para o Internato Médico de 2007 (A e B) que haviam sido publicados há apenas 13 dias, e que acontece já durante o período de inscrição para os mesmos. Uma tal atitude sem precedentes por parte do Ministério da Saúde constituiu uma surpresa, tanto para o CNMI, como para os médicos internos que pretendem participar nestes concursos. Os novos avisos de abertura alteram significativamente a orgânica proposta pelo MS para estes concursos. Deixa de existir um concurso específico para os recém-licenciados por universidades portuguesas, passando o concurso A a integrar todos os médicos que não tenham realizado o Ano Comum ou estágios equivalentes. Por seu lado, os médicos internos que pretendam mudar de área profissional de especialização, são remetidos para um concurso B, cujo número de vagas deixou de ser conhecido face às alterações introduzidas hoje, deixando os jovens médicos que pretendem trocar de especialidade num clima de grande incerteza. O Conselho Nacional do Médico Internos sempre foi favorável à existência de um único concurso de acesso à especialidade, aberto a todos os médicos internos. Esta situação é do interesse não só dos internos, mas também da população portuguesa, que assim veria os seus jovens médicos nas especialidades para as quais realmente se sentem vocacionados.
A publicação do mapa de vagas para o Internato Médico de 2006 tinha já antes sido alvo de comunicado da Ordem dos Médicos exigindo a sua divulgação até 20 de Junho; não compreende o CNMI por que razão ela ocorreu passados quatro meses. Menos entendemos que após menos de uma semana da sua publicação ele tenha sido suspenso quando os candidatos tinham já estabelecida a calendarização das suas escolhas. Já em 2005 o CNMI tinha manifestado a sua perplexidade pela alteração do mapa a apenas 3 dias da escolha dos candidatos; na altura a justificação apresentada foi a da mudança de governo. Foi-nos garantido que tal não se voltaria a repetir. Qual a justificação para mais este atropelo?
O CNMI considera que esta suspensão do mapa e dos concursos em curso representa uma atitude hostil perante os jovens médicos e denota uma clara irresponsabilidade e incompetência por parte do Ministério da Saúde, estrutura responsável pela sua elaboração e publicação. Consideramos ainda que tal atitude reflecte uma postura de contínua arrogância e prepotência desrespeitando quaisquer prazos e condições legais previstas e elaboradas pelo próprio Ministério da Saúde.
Quando num estado de direito é o próprio executivo que não respeita as regras por que se rege e faz reger os outros, consideramos que foram ultrapassados todos os limites.
Está por isso instalado um claro clima de desconfiança entre jovens médicos e Ministério da Saúde que, para além de tratar de áreas sensíveis do Serviço Nacional de Saúde, tem que ver com direitos básicos de cidadania. Não nos sentimos respeitados nem como profissionais ao serviço da população nem sequer como pessoas.
Coimbra, 23 de Outubro de 2006
O Conselho Nacional do Médico Interno
Nota: Para quem não sabe, o CNMI é uma estrutura da Ordem dos Médicos. Peço desculpa por publicar um Comunicado, mas o desrespeito pelos jovens médicos da parte do Ministério da Saúde merece ser denunciada!

domingo, 22 de outubro de 2006

O SIM e o NAO...

Há uns anos atrás fomos confrontados com um referendo (aliás, dois), mas hoje dou atenção ao assunto de política nacional do momento.

Quando, foi feito o referendo ao aborto, não me deixaram votar. Apesar de ser cidadã portuguesa, maior, e com gozo pleno dos meus direitos, ainda não tinha cumprido os 6 meses sabáticos pós-recenseamento.
Apesar de vir de uma ala política que critica a interrupção voluntária da gravidez, a minha opinião pessoal não é coerente com as minhas escolhas políticas...
Nem sempre a política e a nossa consciência andam lado a lado... podia ser pior... sou simplesmente uma desalinhada!
Não posso dizer que conheço a "realidade" dos abortos clandestinos em portugal como a palma da minha mão... Mas consigo imaginar, consigo pensar nisso... Não é muito dificil!
Olho à minha volta e imagino a quantidade de mulheres que já fizeram uma interrupção voluntária da gravidez, de forma ilegal, nem sempre nas melhores condições. Quantas mulheres não terão ido a Espanha?!? Quantas mulheres não o fizeram em caves e garagens?! Quantas não terão ido parar ao hospital com lesões graves depois de um aborto?!?
Os abortos fazem-se na mesma: quer sejam de forma legal ou ilegal. Então porquê fechar os olhos, fingir que isso não existe?
Existe hoje, e vai existir sempre. Claro que os movimentos "pró-vida" viram sempre com a mesma demagogia da prevenção, da educação sexual... Está visto que isso não funciona.
Não acredito que nenhuma mulher faça um aborto de forma tranquila, que não fique marcada. E esse é o maior "castigo" que se lhe pode aplicar. Não há ameaças de pena de prisão que marquem mais do que o próprio aborto em si,
Lembro-me do dia em que o referendo teve lugar... Estava um dia de sol fantástico, as praias estavam cheias... Pleno verão.
As sondagens davam uma vitória inequívoca à despenalização. E sim, sabemos que a sociedade portuguesa é receptiva à despenalização. Contudo, houve uma minoria que não se deixou ficar a "trabalhar para o bronze". Que se levantou e foi às urnas e que marcou uma posição. Cidadãos cujo voto tem igual valor àqujeles que acharam que a vitória estava garantida. Cidadãos que merecem ser respeitados. Se quem era a favor, se desleixou, tem de arcar com as consequências.
Só entendo que o aborto deveria ser despenalizado por não ser uma questão política, por ser uma questão de consciência pessoal. Era o que mais faltava que o Estado pudesse escolher por mim, por exemplo, aquilo que como!
Se quem está no poder e na Assembleia da República, e quer ver esta questão alterada, deveria ter a coragem para fazê-lo por si só, em vez de atirar o ónus dessa decisão para os portugueses.
Porque apesar de ser a favor da despenalização do aborto e por ser a favor de que as mulheres tenham condições para realizar este tipo de intervenções, mas sobretudo, por ser contra os lobbies instalados de médicos/enfermeiros/parteiras que se aproveitam do estado de necessidade e pânico de uma pessoa - que deve estar desesperada - para lhe "sacar" umas centenas de euros...
Mas não posso deixar de respeitar os portugueses, cujo voto vale tanto como o dos outros portugueses (aqueles que ficaram ao sol), e que tiveram a coragem de expressar a sua vontade.

Estou num paradigma!

sábado, 21 de outubro de 2006

Afinal tudo tem uma explicação...

Como Benfiquista, gostaria de citar a explicação do Treinador Principal da SLB sobre os mais recentes resultados dos encarnados:

«Tem a ver com a questão das transições...Quem determina o jogo é a bola. Quem tem a bola ataca e a equipa que não a tem, tem de defender. É esta transição que nos tem penalizado e nos leva a derrotas por valores anormais.», explicou Fernando Santos.
O meu comentário: no comment.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Conceitos

Peter Drucker:“ A finalidade é a satisfação, a recompensa é o lucro.”

Hoje e cada vez mais, com a homogeneidade existente no mercado, o “truque” está em encontrar conceitos que vão de encontro às necessidades daqueles com quem há o interesse de interagir. O foco no consumidor é seguramente uma necessidade e não uma decisão altruísta.
A prová-lo está a IBM, que não vende material electrónico nem software, mas sim soluções informáticas para problemas de gestão. Ou então a Danone, que vende corpos Danone e não iogurtes; a Disneyland, que oferece divertimento para famílias, não está no negócio dos parques temáticos; ou mesmo uma qualquer empresa que não quer ser conotada com a venda de parafusos, mas sim com suportes de afixação (pudera, meter-se com os chineses!).
Enfim, estamos cheios de exemplos no mercado…
Mas o conceito que aqui me apraz referir, é relativo à matemática, bicho de muitas cabeças para os jovens lusitanos.
Rompendo com os clássicos centros de explicações, surge a era dos ginásios da matemática (como ilustra a foto).
Estou mesmo a ver uma conversa de final de dia entre dois alunos de uma qualquer escola secundária:
- Oh pá, vamos ao ginásio?
- Ok. Vamos lá que preciso de exercitar um pouco as equações de 2º grau.
Ou então:
- Espera por mim que vou a casa buscar o material para irmos ao ginásio.
- Vai lá que enquanto não chegas vou fazendo uns exercícios.

Brincadeiras à parte, o conceito é interessante e de apostar, até porque parece-me bem mais motivador.
De notar é que estes ginásios são privados, o que equivale dizer: é só para quem pode.

Ah, ganda Lello!!!

Sem sequer entrar no tema da oportunidade de convidar o Partido Comunista Chinês para o congresso do PS (de vacilar só se um dia o CDS/PP convidar a Alessandra Mussolini...), que tanta polémica tem gerado dentro e fora das "novas fronteiras", é quase comovente ver como o ex-governante socialista e actual deputado José Lello decidiu usar o seu ascendente sobre o partido que governa a China, há decadas.
De facto, o nosso Lello decidiu introduzir profundíssimas mudanças nas teses do PCC; senão, veja o Diário de Notícias on-line de hoje:
"o secretário nacional do PS responsável pelas relações internacionais do partido, José Lello, assegura que o convite à delegação chinesa vai manter-se. 'O PS e os comunistas chineses têm relações no âmbito da Internacional Socialista, na qual o PCC tem o estatuto de observador. Só lhes faz bem assistirem a um congresso muito participado e democrático, como será o nosso' ".
Ora bem! Resta aguardar a prescrição de Lello para o Partido Comunista da Coreia do Norte...

Duche escocês

O SPA do Engenheiro é limitado nos tratamentos.
Nós avisámos...

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Interessante e bonito


Mas talvez os críticos cinematográficos de esquerda (99,9% ?!) digam o contrário...

Por isso sai... sai da minha vida!

O senador democrata dos US of A John Kerry veio a publico esta semana afirmar que, tal como outros no passado (nomeadamente o Presidente Reagan), também ele merece uma segunda oportunidade para se candidatar pelo Partido Democrata à Casa Branca.

Trata-se de um indivíduo que não aparece e, quando diz alguma coisa, exige a retirada total e imediata das forças americanas do Iraque. Concordando ou não com a tomada de posição do Bush Jr. no Iraque, a verdade é que a retirada apenas iria dar início à guerra civil... e afirmar o contrário disto é pura demagogia.

Mas mais importante que a ausência de ideias e de activismo da parte do senador Kerry é o facto do Partido Democrata ter pelo menos dois candidatos muito melhor qualificados e que têm demonstrado uma oposição séria e responsável à administração Bush: refiro-me ao Al Gore e à Hillary Rodham Clinton.

O John Kerry teve a sua oportunidade e perdeu. Se tivesse feito uma boa campanha, se tivesse feito uma oposição credível e com visibilidade, se tivesse demonstrado que afinal é um político dinâmico, capaz de inspirar milhões com as suas palavras, então eu seria o primeiro a defender que, à boa maneira americana, lhe dessem uma segunda oportunidade. Mas não foi o caso e, apesar de não ser americano, julgo que os cidadãos do mundo têm direito a ambicionar alguém melhor para liderar a maior potência global. Nem todos nasceram para ser Presidente e o Kerry, caso concorra, irá perceber isso logo nas primárias.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

O circo veio à cidade

Por vezes, até o adepto mais leal desepera...
Nessa singela condição de apoiante (a mesma na qual escrevo estas linhas) desloquei-me a Paços de Ferreira, no domingo, para constatar tristemente que entregaram o apito a um senhor (Hélio Santos de seu nome) a quem se esqueceram de explicar que não era para o carnaval, mas sim para dirigir uma partida do escalão maior do futebol português.
Não é preciso saber muito de "bola" para entender que, na pior das hipóteses, se um guarda-redes demora com a bola e a chamar um companheiro para bater um pontapé-de-baliza, a haver admoestação, será ele o punido e nunca o "cristo" que chamou.
Piora a coisa se nos lembrarmos de que falamos de um jogador (Pavlovic) que já tinha um cartão amarelo averbado, pelo que, mesmo que fosse devida a sanção (e não era, como disse... eu e o resto do mundo, adeptos do Paços de Ferreira incluídos), haveria que usar de bem senso. Não tendo sido assim, o vermelho foi a cor que dito a moda.
Acrescentando a isto (algo que se passou a quase meia hora do fim da partida) uma grande penalidade altamente duvidosa (a que deu o empate aos locais), temos a tenda armada.
A fotografia?! É só para enfeitar...

Estrela decadente

A propósito do aborto (tema a que voltarei, sem dúvida alguma), ouvi um bizarro argumento (e ela lá tem de outro tipo?!...) da parte da eurodeputada Edite Estrela: querendo defender o "sim" à despenalização/descriminalização, argumentou que só os países menos desenvolvidos (por exemplo, em matéria de literacia) ainda penalizam a interrupção voluntária da gravidez.
Ora bem, eu que até sou favorável ao sim, pergunto-me se, presumindo que a ex-edil de Sintra fez a comparação no âmbito dos países ditos ocidentais, o debate mais actual não é o do relativismo excessivo, da falta de uma pauta de valores de convivência.
Ou seja, é o mesmo mundo que liberaliza os comportamentos que hoje se debate com a pedofília, com o tráfico de pessoas e de ógãos, com a toxicodependência crescente e até com o individualismo que torna o outro num objecto susceptível de posse...
Diria que, indo pela lógica civilizacional, quem defenda o "sim" deveria estar calado, dada a deriva ética de que falei.

And now... for something completelly different

Realmente, o ser humano nem sempre é mau... ou será?!?

Enquanto estava em Lisboa fazia todos os dias o mesmo percurso: casa-escritório, escritório-ordem, ordem-escritorio, escritorio-casa... Claro que como a rede de metro, em Lisboa, é fantástica, decidi torná-lo o meu transporte de eleição.

E às 8h50 da manhã, lá entrava eu em Carnide (ou Telheiras) para chegar às 9h10 ao Marquês de Pombal. Só voltava a apanhar o metro de regresso depois das 19h15...
Achava que trabalhava imenso, que ficava estourada... que trabalhava horas a mais!
Um dia parei para pensar...

Havia um senhor, que todos os dias estava na escadaria do metro, na minha saída... Figura esguia, cara magra. Não consigo precisar a sua idade, mas era velho. Todos os dias, aquele homem estava no mesmo sitio: fim das escadas, no sitio em que a estação já não é coberta, encostado à parede, junto a um corrimão. Apoiava a cabeça nessa parede... olhar parado, perdido no vazio, expressão triste, marcado por uma vida amarga, sem fitar ninguém. Não estava mal vestido, mas a roupa era sempre a mesma, toda azul marinho, sóbria, assim como a “tacinha” laranja que tinha sempre junto de si, à espera que alguém se lembrasse dele. Ficava assim todo o dia (posso dizê-lo, cheguei a ter de sair do escritório a horas desencontradas e ele estava sempre ali, nem sequer saía para o almoço!). Acho que não reparava em ninguém, não sei se alguém repararia nele. Seria quase impossível não reparar, mas às vezes as pessoas andam tão perdidas nas suas vidas... não é por mal, acontece! Desde manhãzinha (quiçá madrugada) até à noite, ele não saía dali... praticamente nem se mexia. Fizesse chuva, sol, vento, calor, frio... ele não saia dali. Naquela escadaria desabrigada não havia faltas para ir ao médico, para ir de férias, para saír mais cedo. "Trabalhava" mais do que eu, mais horas, em condições muito piores... e não tinha ar de quem se queixasse.

Talvez gostasse de conversar: havia um dia da semana (talvez sexta-feira, não consigo precisar) em que tinha uma companhia e falavam. Ela falava com ele. Gorda, cabelo desanrajado, saia ligeiramente abaixo do joelho, vermelha, sapatilhas velhas, sujas e gastas e umas meias tipo soquettes que lhe deixavam as canelas expostas. Deviam ter assuntos e vivencias em comum… a vida tinha sido dura para os dois.

Lembrei-me dele na noite anterior à véspera de Natal... pensei onde iria estar, com quem iria estar. No dia 24, antes de fazer as últimas compras passei pela escadaria, para tentar dar-lhe um Natal melhor. Não estava lá. Nunca imaginei como aquela escadaria ficaria tão vazia sem ele. Nunca imaginei sentir assim a falta dele. Fiquei uns segundos parada a pensar... onde estará? O que faço com as coisas que lhe trouxe (que estavam devidamente embrulhadas e com laços bonitos)?
Durante 2 ou 3 dias ele faltou... E aquela falta angustiou-me! Achei que me teria lembrado dele tarde de mais. Fui inundada por um sentimento de culpa arrasador, afinal de contas, fazia aquele percurso desde meados de Setembro e nunca tinha tido coragem para o abordar...
Nessa semana ele voltou. a minha consciência sentiu-se mais aliviada.

Hoje já não passo por lá, já não sei se ele ainda lá está. Vou pensando nele...

Aprendi a não me queixar tanto!

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Socialismo?!? O que é que é isso?!? Algum chocolate novo?

Vivo num país que parece a república das bananas.
É, por isso, compreensível que cada vez que vou ao estrangeiro não me apeteça voltar...

Chego a casa, depois de ter estado um dia inteiro a trabalhar (DE BORLA!!!! - estágio profissional!) e olho para a TV. Está tudo histérico por causa do acordo do Governo com o MIT... Aparecem uns tristes (sim, com "i"...), em bicos dos pés, para terem 5 minutos de fama com uma universidade americana.
Mas será que alguém acha que somos nós que vamos lucrar com o projecto?!?
Bem, o pior cego, é aquele que não usa bengala!!!

Será que, de repente, alguém se esqueceu que os americanos nunca assumem o papel de ajuda humanitária num conflito?!? Ficam sempre com a parte tecnológica... Wonder why...

E ver o Primeiro-Ministro todo inchado...

Resta-me dizer(-te):

José Sócrates, julgo que não suportavas o medo da felicidade!

Agitar antes de abrir...

(frase típica em qualquer pacote do tipo "Tetra Pack®", tão banalizada que já nem damos conta que ela está lá... que já nos esquecemos de agitar... mas que é sempre um bom princípio!!!)

Há uma pessoa que admiro muito, de quem me lembro sempre, e por quem tenho o maior (e melhor!) dos carinhos...
Uma pessoa tão encantadora que só me vê qualidades - e, confesso, que defeitos tenho de sobra!!!
São essas pessoas que nos fazem os convites mais aliciantes, mais inesperados, mais aterrorizadores... porque têm uma expectativa muito grande sobre nós, daquelas que nos fazem cortar a respiração, que nos fazem pensar: "mas eu não sou capaz"!

Espero não te desiludir neste desafio que me lançaste, porque sabes que nunca me perdoaria se o fizesse.
(Neste momento lembro-me de uma das minhas frases preferidas...)

"Pedras no caminho?!? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Obrigada, Gonçalo!

Olá a todos!

Mister Machado deu a táctica, Capitão entrou no terreno de jogo

O que eu ri com o teu post, Gonçalo.
Não podia, no entanto, deixar de aproveitar a ocasião para mostrar aqui no “lodo” a tua “pinta” de jogador da bola, num estádio, cuja “estrutura foi muito bem montada, especificamente pensada para a prática do futebol”...
Como dizes, quem lá está sabe o que faz e parece-me que muito bem. Os resultados, certamente, surgirão com o tempo.

PS: Mister Machado é um gentleman, na verdadeira acepção da palavra.

Trevas do vento que passa

Manuel Alegre e o seu MIC (Movimento de Intervenção e Cidadania) começam a tornar-se, em meu entender, num oximoro, numa contradição política...
Numa sessão oficial, ontem, segundo a edição on-line do DN, o Poeta de Águeda "sem nunca mencionar o nome de José Sócrates, denunciou as reformas que são feitas contra as pessoas, a lógica neoliberal aplicada aos serviços de saúde, a consolidação das contas públicas encarada 'como um fim em si mesma' e os despedimentos na administração pública".
Ora bem, vamos por partes: por um lado, é natural que um militante da ala esquerda do PS tenha estas apreensões.
Mas, por outro lado, será que o Partido Socialista, até pela cultura política de que se gaba, milhares de vezes, o "construtor" da "Praça da Canção", não é hoje um local suficientemente democrático para que se ouça quem diverge? Dito de outro modo, pergunto-me se é necessário criar uma "equipa B" para se fazer ouvir?
Se aceitarmos a segunda hipótese, então, a desfiliação seria o acto mais natural e consequente. E claro que estaria fora de questão voltar a aceitar um lugar em futuras listas.
Porém, quando toca a prestar serviços à Nação (mesmo que ela os não encomende, como é o caso), o nosso Deputado Alegre lá se sacrifica por nós, como ilustra o caso de, apesar de se ter mostrado enfurecido com a intenção de António Guterres e José Sócrates de instarem a co-incineração em Coimbra (falo da primeira tentativa), ter limitado a sua consternação à mudança da lista da Lusa Atenas para a de Lisboa (como se não tratasse do mesmo partido e do mesmo secretário-geral...).
Não sei quando esmorecerá esta verdadeira MICose, mas vivemos trevas no vento que passa.

Alguém falou em socialismo?

A moda de fechar áreas hospitalares por esse país fora causa-me alguma perplexidade. O encerramento das maternidades foi muito discutido (à mais de três semanas que ninguém fala do bebé que morreu por não ter chegado a tempo a Portalegre...) mas eu assumo que não conheço a realidade daqueles sítios e portanto apenas noto a longa distância a que ficam as famílias de um serviço de saúde tão necessário e a incoerência de agitar a bandeira da luta contra a desertificação e fechar maternidades no interior do país - maternidades, escolas, é melhor não entrar por aí!
No que toca ao encerramento das urgências já tenho qualquer coisa a dizer. Um dos hospitais assinalados para perder este serviço de saúde é o do Montijo. Supostamente os doentes deverão dirigir-se ao Garcia da Orta, em Almada (risos).. Ora, o Montijo dista 40 quilómetros de Almada, acrescente-se o trânsito inevitável no fim da A2 e como se não fosse suficiente, informo os demais que as urgências do Garcia da Orta não estão às moscas... habitualmente uma situação de gravidade média pode demorar horas a ser recambiada para casa...
Hilariante é o caso de Cantanhede: foram assinaladas para encerramento as urgências inauguradas em Setembro... de 2006, sim, leram bem!!! As obras ainda não acabaram, a edilidade ainda anda ressacada da inauguração e já têm morte anunciada...
Por este andar é melhor que tenhamos dinheiro para ir aos privados porque se adoecemos, morremos a caminho!

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Dar a táctica

Pedindo perdão pelo momento de narcisismo imagético, é nesta semana que os academistas do "lodo" (que se saiba, eu e o Ricardo Cândido, ao lado do mister Manuel Machado, na foto) mostram o apoio incondicional à Briosa, que tem tido um arranque difícil.
Escusando-me de enaltecer o academismo enquanto forma de estar na vida, é nos dias complicados que preparamos o paladar para os momentos saborosos que sempre se seguem ao trabalho de quem sabe o que faz; entre outros, Manuel Machado e o capitão Pedro Roma são desses!...
A ver vamos se a praxe começa já em Paços de Ferreira, neste fim-de-semana.
Nota: a fotografia, tirada em Vitoria (País Basco), no jogo de apresentação do Alavés, em que a Académica foi o clube convidado, foi uma simpática oferta do academista (o maior elogio possível em "gonçalês") João Santana.

Edição revista e aumentada

A propósito de dois textos prévios, continuamos a ver o que se passa:

  1. No caso norte-coreano, a realidade evolui para a condenação internacional, com os paninhos quentes chineses que previramos. Declarações anónimas proferidas em Pequim e atribuidas a um alto dignitário de Pyongyang dão conta de uma ameaça de uso de arma atómica se houver aplauso para a mão pesada proposta por Washington. Cá por mim, entendo que a elasticidade da estupidez terminará no ponto actual, já que o fito de mater o regime ditatorial (a Coreia do Norte não tem, nem podia ter, objectivos expansionistas) deixará de fazer sentido se o País for arrasado.
  2. Já no que aos posts sobre prostituição diz respeito, registe-se que o assunto merece a atenção do Presidente da República, no seu "Roteiro para a Inclusão". Sublinha-se a resistência ao sensacionalismo, procurando destacar os aspectos positivos na abordagem do fenómeno (seria bem mais fácil um "número de circo", na rua... Mas, enfim, o soarismo já lá vai...).

sábado, 7 de outubro de 2006

Who cares?


Cada vez mais nos deparamos com constantes apelos à consciência ambiental de cada um. Já é mais que sabido (ou deveria ser) que a protecção do ambiente está nas nossas mãos, e que todos nós devemos contribuir para um mundo melhor. Para tal não é preciso muito esforço. Basta começar com gestos simples como separar o lixo e colocá-lo em ecopontos, reutilizar os sacos das compras, poupar energia (ex: não deixar a TV em stand-by nem deixar as luzes ligadas desnecessariamente), enfim…pequenos gestos que muitas vezes só não fazemos por preguiça ou falta de atenção. De facto nem todos têm em conta estas pequenas atitudes pró-ambientais, mas creio que grande parte das pessoas reconhece a sua importância e admite que o deveria fazer, principalmente os jovens.

Qual não foi o meu espanto hoje, quando ao falar sobre o ambiente com os meus alunos de 16 anos me deparei com as mais absurdas reacções. “Eu? Reciclar? Dá muito trabalho!”; “Não há ecopontos à porta de casa, acha que vou andar com os sacos na mão até ao próximo ecoponto?”; “É «stôra», já viu o que era eu levantar-me da cama para tirar a TV do stand-by? Não faltava mais nada!” De facto fiquei estupefacta com as declarações da turma que nem depois de um empenhado discurso de sensibilização para as questões ambientais mudaram de opinião. Dizia uma aluna: “Proteger o ambiente para quê? Posso morrer amanhã, não vale a pena o trabalho.” Pergunto-me: são estes os jovens do futuro?
Apesar de existirem várias turmas como esta, decerto não representarão a maioria das turmas de adolescentes deste país. Assim espero, pois se os jovens não se preocuparem com o mundo em que vivem o que será do seu futuro?

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

The "Collor" of money

A somar às notícias mais debatidas, designadamente sobre a realização de uma segunda volta para escolher o Chefe de Estado, outro escrutínio simultâneo, além-mar, trouxe uma novidade de monta: Fernando Collor de Mello, ex-Presidente do Brasil (1990-92), voltou à política activa, eleito que foi senador por Alagoas, de onde partira do cargo de governador à conquista do Planalto, numa campanha entusiasmante e mediática.

Refrescando a memória, Collor viu o seu mandato como alvo de cassação pelas duas câmaras do Congresso, na sequência de um escândalo de corrupção que atingiu toda a sua esfera próxima, Primeira Dama e secretária incluídas. Na altura, ficou célebre o empresário PC (Paulo César) Farias que, ao que se demonstrou, financiava aquele por intermédio de depósitos em contas abertas para o efeito pela colaboradora presidencial.

O caso ganha ainda mais interesse ao recuperarmos uma das bandeiras eleitorais que levaram o político neoliberal a Brasília: a moralização da vida política (além do controlo da, então, galopante inflação).

Aliás, numa campanha magistralmente orientada para os media, ficaram célebres tiradas como o "vamos caçar marajás", que simbolizava uma guerra sem quartel aos privilégios injustificados da minoria abastada. Houve mesmo quem dissesse que a Rede Globo teve um papel de patrocínio oficioso da bem sucedida candidatura, que chegou a incluir momentos épicos como uma marcha debaixo de chuva abundante, que Collor insistiu em fazer, apesar de desaconselhado, e à qual viriam a juntar-se centenas de pessoas, à medida que a caminhada progredia.

O outro extremo do populismo de Fernando Collor é, como está bem de ver, o autismo dos conselheiros de Lula da Silva, que o afastaram dos debates televisivos, na recente primeira volta da campanha presidencial, facto que é, agora, reconhecido como eventual causa da necessidade de uma segunda volta.

Retomando o fio à meada, e provando que a memória pode ser curta (não é só por lá…), e embora modesto, eis um regresso de um ícone político brasileiro da década de noventa. E vendo bem, não é caso único, pois também Paulo Maluf (ex-mayor de São Paulo), já previamente detido e indiciado, foi eleito para a Câmara dos Deputados.

Por outro lado, o próprio Lula da Silva viu o seu staff encolher como camisola de algodão em máquina com programa de temperatura elevada, precisamente por casos sortidos de escandaleira.

Contudo, mais do que pensarmos que se trata de uma moda brasileira, devemos apenas sublinhar que, se já hoje é uma das economias potencialmente mais pujantes do mundo, o Brasil só terá a ganhar se eliminar esta chaga da sua vida pública.

Por cá* , preocupa-me que o "pacto para a justiça" não tenha abordado o tema. É certo, como li, que mais do que legislar, há que aplicar o normativo já existente (pena é que a preocupação de eficácia normativa se não estenda a outras leis feitas ou a fazer), mas também ninguém me convence de que o aspecto simbólico não é muito relevante; contam os sinais que o poder político envia, no caso, aos prevaricadores. Ter escolhido um lugar de destaque para a nossa "caça aos marajás" seria bom, sobretudo num meio político-empresarial-futebolístico em que me parece que nem toda a gente (aprecie o eufemismo, por favor) consegue explicar tudo o que tem, à luz dos rendimentos declarados.

Sem caça às bruxas, também aqui seria pedagógico dar à justiça gente que responda a algumas das perguntas que a vox populi faz, há muito tempo...

*Sem querer acusar o Presidente da República de plágio :) e sem desejar provar o que quer que seja, sublinho que este post corresponde a um artigo publicado no Diário "As Beiras" (Coimbra), a 4 de Outubro.