quinta-feira, 21 de junho de 2012

Alemanha vs. Grécia [2nd round]



A Chanceller alemã começou por recusar-se a pôr os pés no Euro 2012 em solidariedade com a causa Timoshenko, tendo inclusive aconselhado os seus ministros a actuar no mesmo sentido. Porém, volvidos os primeiros jogos e agora que a Alemanha  leva com a Grécia também no campo futebolístico, parece que Angela Merkel decidiu ir ao jogo dos quartos-de-final que decorre já amanhã. É certo que o jogo não vai ter lugar na Ucrânia, mas sim em Gdansk, Polónia. Porém, não deixa de ser curiosa que a única presença da chanceler alemã vai ser - até ver -  no jogo que opõe aquelas duas nações que estão em posições bem diferentes no que respeita à crise europeia mas que podem inverter os papéis no que ao futebol diz respeito. A ver vamos quem é que sobrevive ao duelo.
*cartoon daqui

Somos menos

Partiu o Abel… Para os amigos, carinhosamente, o “Abelha”, companheiro de tantas lutas “laranjas”…

É normal que o nome diga algo a muito poucos leitores… Para já atesto que, a mais de um amigo, era um tipo bem humorado, criativo e dedicado e lembro que, em 92, fez parte de um grupo minúsculo que, com uma média de vinte anos ou menos, passou uma noite a passar a “fava” de quem teria que enfrentar a geração dos vinte e muitos/trinta anos na luta de duas concepções distintas para a JSD. A tarefa parecia impossível, mas daí sairia o meu primeiro mandato distrital…

Já a propósito de muitos não saberem quem foi o Abel Ferreira, dei comigo a pensar em nomes de uma geração para quem a política parecia ser vício eterno, mas que estão hoje fora da política; além de mim, lembro o Nuno Freitas, o “Manel” Gouveia, a Maria João Matos Cabo, a Catarina Monteiro, o Ramiro Pastorinho, o “Jopa”, os Cerejo, os Africano, os Casimiro, o Leonel e tantos outros que ficam por mencionar e que, salvo excepções que desconheço, foram saindo de uma vida partidária que parecia uma segunda pele.

Existe, é claro, uma explicação parcial que é benigna: com a participação enorme do pós 25 de Abril, havia acima da nossa várias gerações (algumas pouco mais velhas) que congestionavam as oportunidades daquilo que chamámos a segunda “Geração de 70”. Ao invés do futebol, neste caso, não podíamos ir fazer política para o Chipre, para a Grécia ou para a Roménia, até haver oportunidades no “onze titular”…

Bastar-nos com esta ideia seria, porém, pouco. A meu ver, como venho escrevendo, a parte de leão do alheamento de uma ou duas gerações de partisans que tiraram os seus cursos ou/e começaram as suas carreiras profissionais é que o paradigma é diferente daqueles tempos das noitadas na sede até às cinco da manhã, da colagem de cartazes ao frio e à chuva (esperando que alguém do partido passasse com umas sandes e bebidas; geralmente a D.ª Graça não falhava), dos saques ao armazém de campanha do Sr. Pinto (o partido chegou a reunir sobre uma mesa debaixo de cujo tampo estava uma porta misteriosamente desaparecida, altura que marcou o bem humorado nascimento dos HSD – Hooligans Social Democratas), das campanhas feitas com stencil, tudo num ambiente que gerava camaradagem e que fazia com que se respeitassem regras e com que, mesmo nos conflitos, a dignidade das pessoas fosse preservada.

Já o modus faciendi de alguma da política actual é bem diverso: a boa escolha mede-se em quantidade de votos arregimentados, a hierarquia é crua (boas ideias devem vir dos submissos e os bons lugares ocupam-se com força), a difamação é arma legítima e a profissionalização política é aliada a um “cientismo” despido de alma.

É assim, Abel… Cada vez somos menos…

terça-feira, 19 de junho de 2012

Joana Vasconcelos | Rainha em Versalhes

A tão aguardada exposição de Joana Vasconcelos no Palácio de Versalhes, em Paris, inaugurou ontem e está aberta ao público de hoje até 30 de Setembro. Note-se que a artista plástica portuguesa é a primeira mulher a expor naquele ilustre espaço que, de há uns tempos para cá, decidiu abraçar a arte contemporânea. As suas imponentes obras estão dispostas nos jardins e em espaços interiores como a bela sala de espelhos, convivendo harmoniosamente com o luxo daquele histórico palácio. 


É uma honra para a própria e para os portugueses, sendo que por estes dias a crítica francesa tem sido bastante positiva e a imprensa tem feito regular destaque à artista e à sua obra ímpar. Claro está que há sempre uma franja mais conservadora que contesta o uso do espaço para estes fins, e outra ainda que contesta o próprio trabalho de Joana Vasconcelos - cá em Portugal há quem ache que se resume a arte kistch. É tudo uma questão de gosto, ou de preconceito, digo eu, que muito gostava de poder rumar a Versalhes e ver com os meus próprios olhos a marca portuguesa que sobressai das obras da artista (da filigrana e da renda à louça de Bordallo Pinheiro, dos tachos Silampos às tapeçarias de Portalegre, etc). Quem não puder visitar in loco, pode sempre optar pela visita virtual, aqui


Uma nota final: a fabulosa obra A Noiva, um gigantesco lustre feito com tampões higiénicos que arrecadou inúmeros aplausos além fronteiras (sobretudo na Bienal de Veneza  em 2005) e conferiu a Joana uma enorme visibilidade internacional, não foi, estranhamente, aceite. Sabemos que em Versalhes não faltam lustres, mas este tem uma carga simbólica única e merecia um lugar de destaque. Porém, «A Noiva» acabou por ficar «solteira», como chegou mesmo a desabafar a artista





* todas as imagens daqui

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Europeu de Futebol com sotaque do outro lado do Atlântico

Ontem, depois do golaço que a Polónia marcou à Rússia tive (compreensíveis) dificuldades em pronunciar o nome do marcador, Błaszczykowski, e recorri a este site, uma página criada pelo BBVA para a divulgação e correcta pronunciação do nome dos jogadores, árbitros e corpo técnico das selecções que lutam pelo título. A ideia é interessante e dá muito jeito para selecções como a da Polónia, a da República Checa, etc etc. Por curiosidade, espreitei a de Portugal. E não é que foram buscar um brasileiro para pronunciar os nomes da selecção portuguesa?! Surreal! Nós não temos o Miguel Veloso, temos o «Miguéu Béloso», o «Nélson Uliveira» e o «Nâni», entre outros... enfim. A ideia é muito boa, mas estragaram tudo com isto. E não acredito que seja difícil encontrar um português em terras de nuestros hermanos. Aliás, não sei como não foram buscar um mexicano ou um colombiano para fazer a correcta pronunciação dos jogadores de La Roja!!! Imbecis. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

É amor


E numa altura em que se diz que o futebol se resume a actos de violência, aqui fica uma prova em contrário. Um adepto entrou em campo no jogo entre a Croácia e a Irlanda e deixou claro o sentimento que nutre por Bilic, o seleccionador croata. Com ou sem beijo, a verdade é que a Croácia levou a melhor neste seu primeiro confronto no Euro 2012. Se calhar o que nos faltou no passado sábado foi alguém que espetasse um beijo no Paulo Bento...

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Na cama com…

Duas ocasiões voltaram a centrar a minha atenção no poder de fixação da agenda (agenda setting, para os técnicos) dos meios de comunicação de massas.

O primeiro e mais recente foi a partida da Selecção Nacional. Não é de hoje o poder do futebol e, por isso, não estranho (até aprecio) a cobertura detalhada do que se passa no mundo do “pontapé na bola”. Porém, o que vimos na quarta-feira foi de tirar o fôlego; era Hugo Almeida de saco às costas, Coentrão a dar autógrafos, não sei bem quem a comprar revistas e Ronaldo a tratar o Presidente da República por “você” e a selar a conversa com um eloquente “tá?”, entre muitos outros detalhes… Com franqueza, cheguei a recear que fossem com Postiga ao quarto-de-banho, que transmitissem a última noite de Bruno Alves ou que mostrassem Paulo Bento a lavar os dentes ou João Pereira a bater em alguém.

Quero com isto referir-me à cupidez com que câmaras e microfones seguiram os jogadores e às horas de directos em que, a dado passo, já nada havia a dizer senão quantos minutos de atraso tinha o voo e a carga que ia nos bancos do avião, obrigando os comentadores a justificarem o recibo, tecendo asserções sobre o vácuo noticioso que sugava as emissões.

Aliás, prova da busca incessante de notícias de que enfermam empresas que, mais do que informar, visam vender mercadoria (seja ela sobre a forma de “notícia” ou de algo que os anunciantes queiram colocar no mercado) – facto bem atestado pelo Eng. Belmiro de Azevedo, “dono” do Público, que, a propósito do “Caso Relvas”, comentou que o que queria “era que o jornal desse dinheiro” (cito de cor) – é uma notícia de segunda-feira, no mesmo jornal, que dizia que um dos juízes do processo contra Beivik (o autor do massacre de Utoya) tinha sido apanhado por um jornal a jogar uma “paciência” no computador. Não é que seja correcto faze-lo, mas fica por perceber a importância de o noticiar dado o risco de descredibilizar quem tem que sentenciar um monstro, favorecendo este. Contornos nebulosos de que, aliás e a meu ver, se revestiu o tempo de antena que, salvo erro, a televisão pública deu aos golpistas da Guiné Bissau para insultar Portugal e os seus estadistas… Que ética presidiu a semelhante falta de sentido de Estado?

O segundo episódio que me deixa pensativo é o já referido caso que, alegadamente, envolve Miguel Relvas e uma jornalista. Estando impedido de fazer juízos muito detalhados, concentro-me naquilo que me parece a interpretação enviesada que alguns jornalistas e meios de comunicação me parecem fazer dos limites a que a sua profissão e a sua missão, tal como as outras, estão sujeitas. Começa o espanto pelo facto de ser terem sucedido dias de notícias a massacrar o Ministro sem que, ao invés do que se pede aos políticos, se tenha posto a questão probatória. Parece que, grosso modo, bastou a acusação vir dos media para ser irrefutável.

Em segundo lugar, fica por perceber a pressão que o Ministro teria exercido. Vem a saber-se que os eventuais detalhes privados que Relvas, alegadamente (o próprio desmentiu-o categoricamente), teria ameaçado divulgar teriam a ver com o facto (também desmentido) de que a jornalista viveria com um membro da oposição. Mesmo que tal “ingenuidade” (pouco típica de um político muito experiente como aquele de que falamos) pudesse ter existido, continuo a não descortinar o elemento de pressão! O marido da oposição?! Imaginando que a própria não tivesse vergonhado consorte se tal assim fosse, seria achar que os seus leitores, em particular, e os portugueses, em geral, são demasiado idiotas para passar a entender que o Público se guia por agendas pessoais…

Já que não há auto-regulação eficaz, devia abrir-se o debate sobre a libertinagem de informação que ocupou o espaço da liberdade homónima.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Liberdade e Liberalismo

Nunca os termos «liberalismo e desemprego» estiveram tão intimamente ligados um ao outro que nestes últimos tempos. 

Mas na realidade é uma historia que data de há muitos anos. O liberalismo impôs-se durante a década de 80 e acabou por ser hegemónico, pelo menos na sociedade ocidental, na década de 90. 

Desde então, as consequências da implantação do liberalismo são visíveis em todos os sectores da sociedade, ao nível económico e social. Não existe nenhuma esfera que tenha escapado a esta revolução que acabou com o mundo que conhecíamos à saída da guerra. 

O liberalismo actual ou neo liberalismo não é humano, não é democrático, ele transformou tudo numa mercadoria, num vasto mercado, criando uma sociedade onde tudo é negociável; ele participou de uma maneira extraordinária à destruição dos valores colectivos e dos elos sociais. 

E quando se pensa que o termo “liberal” é uma herança dos séculos XVIII e XIX, que qualificava as ideias de luta por “mais liberdades” ( de expressão, económica, política e hábitos) , face à aristocracia e à moral católica rígida, podemos dizer que houve uma real usurpação da conotação positiva do liberalismo , que tendo lutado para melhorar a sociedade e estender as liberdades e a democracia política, está hoje na origem de todos os excessos.

A mesma filosofia económica que mergulhou o mundo no caos em 1929, voltou ao comando e aplica agora a mesma teoria dos anos 80 e 90, com Thatcher e Reagan: luta contra a inflação, contra os défices públicos, contra as subvenções do Estado, contra os direitos alfandegários, isto é, livre-câmbio e finança prioritários sobre a produção. 

A construção da União Europeia propôs e impôs medidas económicas e outras, que retiraram aos Estados todo e qualquer poder significativo decisivo:- livre circulação dos capitais e investimentos nocivos, paraísos fiscais, deslocações de empresas, abertura das fronteiras e perda de soberania nacional, monetária entre outros ( Euro ).

Nos anos 80 , todas as barreiras de protecção que impediam o capitalismo de descarrilar foram, uma a uma, desmanteladas. Assim, quando a Europa adoptou o Tratado de Maastricht que tornava obrigatória a economia de mercado, a livre concorrência e a não intervenção do Estado, a França e o resto dos países desenvolvidos mergulharam num mundo novo, um universo estranho onde tudo seria mercadoria...

A solução liberal impôs-se : preeminência do capital sobre o trabalho, o indivíduo sobre o colectivo, valores ou vantagens sociais adquiridas e código do trabalho contestados, etc. A economia de mercado é a única admitida. 

Estamos agora portanto muito longe da luta por “mais liberdades”. 

A ideia de liberdade implica a possibilidade de “escolha” de uma ou outra solução para viver na sociedade. Hoje o indivíduo não escolhe a sua vida. Ele sujeita-se! 

Se decisões urgentes não são tomadas para mudar de sistema económico, ou pelo menos de medidas de regulação severas, permitindo ao Estado de recuperar a sua função original, vamos ouvir dentro em breve dobrar os sinos nas cidades e aldeias desse vasto mundo.

E ninguém perguntará porquê , porque todos sabem que eles dobrarão pela LIBERDADE. Sim, porque sem trabalho não há liberdade. 

 Freitas Pereira