Começando pela declaração do 1º Ministro de Sexta-feira e acabando na conferência de imprensa de ontém do Ministro das finanças, tudo foi mau e ou me engano muito ou estamos a assistir ao princípio do fim. Mais uma vez não me custa nada dizer que sou social democrata e fui desde a primeira hora apoiante de Pedro Passos Coelho, mas esta condição não me limita nem me tolda o raciocínio.
Sei que a memoria
é curta e demasiado selectiva por vezes, mas quem já se esqueceu, de palavras
como, transparência, rigor, equidade, honestidade, seriedade, verdade e outras
tantas proferidas por Pedro Passos Coelho, tanto em campanha eleitoral como no
discurso da vitória. Eu não me esqueci, voltámos a ouvi-las? Não. Seria
importante ouvi-las de novo? Não, porque o importante é que isto seja uma
prática e uma realidade.
Mas vamos aos
factos políticos mais relevantes:
O 1º Ministro
assumiu pessoalmente a responsabilidade por uma medida que é uma monstruosidade
e uma aberração do ponto de vista conceptual e dos efeitos que em si encerra,
porquê?
Porque acredita
nela e desconhece os efeitos preversos que ela gera? Porque não tinha outra escolha? Por vingança
ao Tribunal Constitucional? Por imposição da Troika ? Por puro
experimentalismo? Por ignorância e incompetência? Por imposição daqueles que
serão os grandes beneficiários?
Pessoalmente
estou em querer que por nenhuma delas, mas por todas.
Então anuncia-se
uma medida detalhadamente no que respeita ao esforço adicional para os
contribuintes e à poupança para as empresas e não se detalham mecanismos de
segurança para assegurar a sua efectividade?
Estima-se que no caso da EDP, este medida
possa gerar uma poupança anual directa de 10 milhões de Euros, desconhecendo-se
para já outras poupanças indirectas por via das sub-contratações, outsourcings
e outros contratos que envolvam recursos humanos.
No fundo,
subtraem-se aproximadamente 12 milhões de euros dos rendimentos anuais dos
trabalhadores da EDP, para dar 10 milhões à própria EDP e 2 milhões aos cofres
do Estado.
Ora, segundo
entendemos das explicações dadas tanto do 1º Ministro como pelo Ministro das
Finanças, o objectivo desta medida seria não só o de conter o desemprego, mas
também gerar alguma tesouraria tão necessária às pequenas empresas, numa altura
em que o acesso ao crédito é limitado ou muito restrito.
Nada mais falso e
porquê, recorramos à matemática!!!
EDP, não tem
dificuldades em aceder ao crédito, tem aproximadamente 7.000 trabalhadores, com
um salário médio médio anual de 25.000€ X 5,75% que é a redução na TSU = 10.
062.500€
Sejemos sérios e
apliquemos a medida ao verdeiro tecido empresarial Português, as PME’s, estas
sim, com dificuldade na obtenção de crédito.
Segundo dados do
INE, existem mais de 1 milhão de PME’s que em média empregam 8,28 trabalhadores
e é com esta realidade que vamos refazer as contas.
PME, 8
trabalhadores, com um salário médio de 20.000€ X 5,75% de redução na TSU =
9.200€/ano, que para efeitos de tesouraria representa 767€/mês.
Perante estes
factos, creio que nas razões invocadas anteriormente esqueci-me de uma, que
essa sim terá estado na origem da comunicação do 1º Ministro na sexta-feira
passada.
A media é tão
estupida do ponto de vista da racionalidade económica, é tão injusta e tem
efeitos tão preversos, que o Ministro da
finanças se terá recusado a ser ele a anuncia-la em primeira mão.
A saber esta
medida retira 2.8 mil milhões de euros aos trabalhadores, gera uma poupança
para as empresas na ordem dos 2.3 mil milhões de euros e o remanescente ficará
para os cofres públicos para continuarem a desbarartar como o têm feito até
hoje.
Os efeitos
preversos a que me refiro são os seguintes:
- São menos 2.8
mil milhões de euros retirados ao consumo, que tanta falta fazem para sustentar
pequenas empresas que vivem exclusivamente do mercado interno, geram
dificuldades economicas acrescidas a quem fica sem esse rendimento.
- Os 2.3 mil
milhões de euros que vão para as empresas, 90% não serão reinvestidos, nem
servirão para manter ou criar postos de trablho, mas pelo contrário serão
canalizados para os accionista que através de SGS e outros artifícios os
colocarão em offshores, carros de luxo, barcos de luxo e afins.
- Esta
transferência de rendimentos dos trabalhadores para as empresas, é de uma
preversidade nunca vista e uma provocação a todos os Portugueses
- O consenso que
se conseguiu gerar ao longo destes tempos muito positivo e elogiado por todos,
foi colocado em causa e não me parace bem que se acusem os partidos da
oposição, sindicatos e outras organizações de não apresentar alternativas,
porque perante esta medida imoral a única solução é suspende-la, re-estuda-la e
pedir desculpa aos Portugueses.
Finalmente e só a
titulo de exemplo, na próxima reunião de direcção da empresa em que sou gestor
e caso esta medida vá para a frente, proporei que o valor retirado aos
trabalhadores lhes seja reposto, através de prémios de productividade por forma
ao saldo ser ZERO.
Estou certo de
que muitos empresários com o mínimo de consciência social e visão de futuro
farão o mesmo, não só pela imoralidade e preversidade da medida, mas também,
porque os efeitos negativos na desmotivação e productividade dos nossos
colaboradores será muito acima dos 5,75%
de uma suposta poupança.
Espero com este
texto ter contribuído para aclarar algumas mentes menos esclarecidas e desejar
que tudo isto não tenha passado de um mal entendido.
3 comentários:
"Porque acredita nela e desconhece os efeitos preversos que ela gera? Porque não tinha outra escolha? Por vingança ao Tribunal Constitucional? Por imposição da Troika ? Por puro experimentalismo? Por ignorância e incompetência? Por imposição daqueles que serão os grandes beneficiários?"
"Pessoalmente estou em querer que por nenhuma delas, mas por todas."
O nosso Amigo Tavares , na ultima frase, em poucas palavras, disse tudo!
O que é extremamente grave é que os povos estejam à mercê de políticos deste nível.
Na realidade, trata-se duma crise económica e política, mas também duma crise moral sem precedente. Porque aquilo que expõe é realmente imoral.
E quando escreve , e muito bem, que " - Esta transferência de rendimentos dos trabalhadores para as empresas, é de uma perversidade nunca vista e uma provocação a todos os Portugueses", é exactamente o que se verifica ao nível europeu.
Em França, em 1980, o valor acrescentado foi partilhado entre 77% aos assalariados e 23% aos accionistas. Hoje, o raport estabelece-se em 68-32, isto é dez pontos de riqueza nacional, captados pelos accionistas em detrimento dos assalariados.
Este é o símbolo das derivas do capitalismo financeiro contemporâneo.
A restauração da partilha do valor acrescentado ao seu nível de 1980 permitiria de reinjectar 200 mil milhões de euros por ano em beneficio do poder de compra: seja mais de 3000 euros anuais por cada Francês. Imagine em Portugal, não ao nível da EDP mas do país!
Exactamente o ponto de vista que defende no seu excelente "post" !
São os cálculos que o vosso PPC deveria saber fazer, se a politica que ele defende não fosse a dos "mandões" que o governam.
Mas, Caro Companheiro do Lodo, tem a certeza que isso tem alguma coisa a ver com a social-democracia ou o PSD ? Ou com a "Troika" ?
Quando a elite politica nacional, vem exigir ainda mais sacrifícios ao povo, não pode incriminar estes organismos internacionais , porque na realidade é ela que põem em pratica as politicas de austeridade e de empobrecimento das quais eles esperam recolher algumas migalhas.
Freitas Pereira
Não escreveria melhor. Excelente.
Mas isto não vai para a frente! Sabe porquê? Porque o povo não vai deixar...
BTW, também eu votei em Passos Coelho, 3 vezes!!!
Abr
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