Tal como na economia em que as medidas de crescimento se devem
tomar em períodos de recessão, também uma remodelação governamental, deve
ser empreendida quando menos se espera e menos se fala dela.
Pois bem, mas a primeira pergunta é: Faz sentido uma
remodelação nesta altura?E as primeiras dúvidas surgem, será que não devia ser depois do veredicto do tribunal constitucional, mas vamos por partes.
Tenho a certeza de que seja ela qual for, refiro-me à
decisão do tribunal constitucional, o governo tem alternativas já estudadas e
prontas a implementar, pelo menos é o que nós esperamos, portanto, este não é
de certeza um obstáculo.
Do outro lado, temos argumentos muito mais sólidos, tais
como, uma execução orçamental que poderá ficar aquém do esperado, estamos a
meio do mandato, portanto é normal alguns ajustes ao nível político, digo
Ministerial. Parece-me consensual, que agora está na altura de medidas mais do
lado do crescimento e emprego do que do lado da austeridade, porque o profundo
combate ao desperdício ainda não foi bem-sucedido e por fim, porque António
José Seguro e o PS andam à deriva, como se de um náufrago se tratasse.
É costume dizer, “que aquilo que nos trouxe até aqui, não
nos levará mais longe”, mesmo em períodos de normal funcionamento das
instituições democráticas, as rupturas também podem acontecer, como se de
ciclos se tratassem, mesmo sem cairmos no desvario já antes ensaiado, de que os
tempos difíceis já passaram.
Esqueçamos por momentos o plano de reduzir o défice do
Estado em 4.000 milhões de euros e focalizemos-mos na economia real. A economia
é acima de tudo uma gestão de expectativas e tendo em conta as últimas
projecções pouco animadoras, duvido que haja alguém de bom senso que desate a
investir e a criar emprego e é por isso, que tanto uma remodelação como alguma
inflexão na trajectória são aconselháveis.
Não me atrevo a indicar quais seriam os Ministros
remodeláveis, não só, porque ao contrário de alguns comentadores que falam
sobre o que sabem e o que não sabem, esta remodelação deveria ter por base
critérios muito objectivos para dar resposta a desafios muito concretos.
Eventualmente alguns dos Ministros remodeláveis até
desempenharam o cargo de uma forma aceitável ou até exemplar, mas porque tinham
uma missão quando tomaram posse, que hoje já não é a mesma e por isso deverão
ser os visados. Repito, quando defenso uma inflexão no rumo, não quero dizer
que os tempos difíceis já passaram, que o compromisso com a troika é para ser
esquecido, ou até, que a consolidação orçamental está concluída, digo sim, que
temos que tomar medidas para impulsionar a actividade económica, para dotar o
mercado de alguma confiança a médio prazo, no fim para dar uma nova esperança
aos Portugueses.
Que critérios deveriam então, estar na base da remodelação?
Atrevo-me assim a enumerar alguns: - Ministros/Ministérios com rendimento aquém do esperado
- Ministros polémicos, não por terem tomado medidas impopulares e necessárias, mas porque carregam consigo uma carga negativa que contagia o governo todo
- Porque já cumpriram a missão que lhes foi pedida, dão sinais de cansaço e poucas soluções para o futuro
- Finalmente, porque têm que acreditar verdadeiramente que a solução passa por um novo rumo
Próximo passo, perfil dos escolhidos:
Credível, intocável, com peso político para tomar decisões
difíceis, tenha ideias e se sinta identificado com a nova estratégia, com um
novo rumo.
É escusado dizer, que aqueles que mais contribuíram para o
descrédito do governo, não deverão ter qualquer influência na escolha dos novos
responsáveis políticos, ou então teremos perdido mais uma oportunidade. Idealmente,
a banca, a maçonaria, a opus-dei e outros grupos de interesse, não deverão
também interferir nas escolhas, mas talvez ouvisse sigilosamente, o líder da
UGT, da CIP, no fundo os principais players da concertação social. Agora sem Cândida
Almeida, talvez seja possível começar a ter diálogos sigilosos.
Finalmente, como se comportaria a oposição… tal como tenho
vindo a fazer, apenas abordarei a questão PS e António José Seguro porque o
resto não me merece qualquer comentário.AJS vive tempos difíceis, não só porque foi obrigado a reabilitar toda a tralha Socratista, mas porque da câmara Municipal de Lisboa chegou a principal oposição, António Costa. As reacções têm sido diversas, mas todas elas com um denominador comum, inócuas e básicas do ponto de vista do marketing político.
Sabemos à partida, que num cenário de remodelação, AJS dirá
com certeza que o 1º Ministro é que devia ser o remodelado, que o Presidente
Cavaco Silva devia convocar eleições antecipadas, bla, bla, bla…, a conversa do
costume e que ontem João César das Neves tão bem descreveu quando se referiu a
quem se opõe ao rumo seguido até agora. Dizia ele, que apesar dos enormes sacrifícios
que tocam directamente muitas famílias Portuguesas, que o desbaratar dos
recursos dos contribuintes foi de tal dimensão e durante tanto tempo, que está
admirado como é que a factura não é muito mais elevada. Dizia também, que até
hoje não viu, não leu e não ouviu nenhuma proposta alternativa credível, eu também não, apenas ouvi afirmações do tipo, "todos os caminhos menos este", ora isto é uma mão cheia de nada.
A liderança de AJS é por isso instável, a ausência de ideais
credíveis e exequíveis são uma constante e a pressão interna condiciona a
racionalidade do Secretário-Geral, levando-o a cometer disparates constantemente. Contudo e como é costume no nosso futebolês,
quando uma equipa joga mal, não faltam treinadores de bancada a sugerir
alterações de jogadores e de táctica, algumas, verdadeiras aberrações e outras
com algum sentido mas pouco sólidas.
Há que reconhecer que nem tudo tem funcionado bem no governo
e tal como nas empresas quando se cai num ciclo vicioso, há que tomar medidas,
que normalmente passam por mudanças ao nível dos decisores. Neste caso, a
remodelação para além de um acto de boa gestão, representaria a mudança para um
novo ciclo, uma nova esperança para muitos Portugueses e quiçá o sinal que
muitos empreendedores e investidores aguardam há tanto tempo.
1 comentário:
Excelente análise, Pedro!
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