Creio piamente que tudo tem limites na vida. Felizmente, estamos ainda por conhecer quais os limites da resiliência social dos povos europeus; ou seja, vivo perguntando-me até quando podem os cidadãos ser prensados, habituados que estão às larguezas do modelo social europeu…
Confesso que me impressionaram os protestos de Madrid, na terça-feira. Pessoas que pediam implicitamente a mudança de regime (refiro-me às bandeiras republicanas), outras que acusavam os políticos de “venderem Espanha” e muitas que alimentam sondagens com o declínio claro dos partidos “de governo” em detrimento das propostas alternativas.
Por cá é o que sabemos. Milhares de pessoas saindo à rua sem motivação partidária, antes procurando gritar a sua genuína angústia pela casa que se vai, pelo emprego que se foi e pelo futuro que deixou de ser…Do que posso perceber à distância, as últimas manifestações simultâneas foram pacíficas, civilizadas e sentidas, tirando alguns bonzos, histriões e delinquentes profissionais que se mascaram com vestes anarquistas ou trotskistas e tentam estragar o protesto democrático e justificável de 99,9% dos que protestam. Felizmente, as nossas forças policiais (que, relembremos, também sofrem os mesmos apertos, tendo que trabalhar como nada se passasse) e a opinião pública sabem perceber que um outro meliante que apareça com os amigos em S. Bento ou Belém nada mais é do que um criminoso que em nada mancha a mensagem que um grande número de portugueses quis passar.
Dito isto fica por perceber se, a mais das elites, a grande massa de dirigentes de PSD, PS e PP estão preparados para mais do que remendos numa vela que se rasga com a força da borrasca económica. Ainda há não pouco, alguns dos novos protagonistas “laranja” defendiam projectos de empresarialização e condicionamento profissional dos tradicionais gabinetes de estudos o que, a meu ver e por muito que se apontem soluções estrangeiras análogas, representa o contrário da livre criatividade humana (a tal que, nem que fosse através de erros, nos fez progredir como espécie) e o apogeu da lógica clientelar de aspirantes a “poderoso” que, em certos casos, tem o carisma de um caracol e o humanismo de um seixo.
Enquanto vejo arder nas chamas do desespero popular a última geração de políticos cujas ideias reais se conhecem e percebem (refiro-me ao actual Governo e aos que se lhe opõem partidariamente), ninguém explica quando tudo isto pára, quando os Estados europeus dizem que chega de ditadura financeira ou sequer como podem as pessoas sobreviver sem casa, sem trabalho ou com salários que não cobrem os preços das coisas essenciais.
É por tudo isto que não me importava que deixassem Mitt Romney e outros políticos contemporâneos abrirem as janelas do avião, por muito que o primeiro não perceba a razão pela qual tal não é permitido…