terça-feira, 3 de julho de 2007

Pridnestrovskaia Moldavskaia Respublica

Se, no seguimento da canção homónima dos GNR, já achava que “Tirana é um lugar difícil de encontrar”, nem sei que vos diga de Tiraspol, a capital da auto-proclamada Pridnestrovskaia Moldavskaia Respublica, também dita Pridnestrovie ou, em português, Transnístria…
Começo pela curiosidade do tema e termino pela questão política.

Falamos de um faixa de terra situada a Este do rio Dniestre (Nistru, em romeno), povoado por pouco mais de 660.000 almas, sendo que um terço é de origem russa, um terço de origem ucraniana e os demais de raízes moldavas.

Apesar de não ser reconhecido por Estado algum, o território declarou a sua independência após o colapso da União Soviética, sendo para muitos um museu da mesma, já que conserva algumas das suas características.

Desde logo, mercê de um desses sortilégios que a Internet nos proporciona, consegui um precioso apoio para entrar no território, mas, aí chegado, logo fiquei a saber que, a mais de ter que apresentar às autoridades de uma das suas cidades (escolhi Bendery ou Tighina, em moldavo) para me “registar”, a minha “carta convite” fora sujeita a um escrutínio que envolvera perguntas do tipo “o que vem ele cá fazer?” e “como e onde o conheceu?”.
Depoimentos do sítio da “Lonely Planet” (empresa especializada em guias para turismo “independente”) e de visitantes acrescentavam que, hoje em dia, fotografar certos lugares públicos (e nem sequer falamos, obviamente, de posições militares) se vem tornando algo impopular. Não sei se por estar devidamente “escoltado”, confesso que foi saborzinho que não senti, tendo dado ao botão da máquina tanto quanto me deu na gana…

Voltando, porém, à nossa Transnístria, sublinho que a dita independência em relação à Moldávia (cujo parlamento tentou em vão amenizar com um estatuto autonómico) se baseou em razões históricas que não pude verificar e, estou em crer, no receio de uma aproximação/união da Moldávia com a Roménia (algo que já aconteceu, formalmente, no passado, tendo a, então, Bessarábia celebrado um Tratado de União).

Como está bem de ver, a rapaziada russa e ucraniana (a “República” é circundada pela Moldávia e pela Ucrânia) não esteve pelos ajustes e ergueu fronteiras, formou exército e polícia, criou uma bandeira e cunhou moeda (o rublo da Transnístria), algo que viria a dar mau resultado, em 1992, quando as tropas moldavas entraram na sua Tighina e, abrindo fogo, foram corridas pelas congéneres transnístrianas que defendiam a “sua” Bendery, com esse sempre precioso auxílio do exército russo, que ainda hoje por lá pára, em locais estratégicos da cidade.

Se politicamente a bipartidária república tem eleições presidenciais com resultados de 80% contra 7% (sendo que o “Cristo” convidado a ir votos contra o Presidente foi o “independentíssimo” administrador de Bendery), economicamente padece dos males de quem dependia do dínamo soviético, embora a banca e o consumo pareçam querer espevitar.

Depois, é passear em Bendery e Tiraspol e ver (ainda) a Casa dos Sovietes, estátuas de Lenine (pois claro), uma locomotiva/museu de 1917, uma fortaleza turca e outras coisas que configuram uma experiência única de ciência política. Isto se conseguir superar a barreira da língua (só se “vende” em russo), as duas barreiras da “fronteira” (não são brinquedo, aviso) e a barreira do medo, que pode advir da leitura do sítio do nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros que diz: “Este regime não é reconhecido pela comunidade internacional. Não existindo relações diplomáticas com o mesmo regime, as autoridades portuguesas não podem proteger os seus cidadãos que se desloquem a este território. Neste sentido, e na situação actual, PORTUGAL DESACONSELHA QUALQUER VIAGEM À TRANSNÍSTRIA”.

A questão política com que vos ameacei é esta: anda a comunidade internacional empertigada com as questões da autodeterminação, designadamente, para o Kosovo. Ora bem, sendo que na Transnístria há vontade (se dúvidas houver, faça-se o referendo da ordem) e estruturas de poder que se auto-governam, por que é que ninguém afina pelo mesmo diapasão neste caso? Porque não interessa? Porque é assunto russo? E o Kosovo é o quê (se nos lembrarmos de que Moscovo apoia Belgrado)?

Não me choca qualquer solução pacífica, mas sim a dualidade de critérios…

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