… Foi essa a
primeira e sábia lição de mestrado do Prof. João César das Neves, pese embora a
propósito da Economia Política.
Lembro-me de tão sábias palavras por ter lido a polémica gerada em torno da
aparição da mulher de Pedro Passos Coelho, sabendo-se que se encontra calva
mercê de agressivos tratamentos contra um dos flagelos da nossa era.
Na generalidade, estou de acordo com as reacções de repúdio perante quem
viu na dita aparição um sinal passível de aproveitamento político e, logo, de
beneficiar o Primeiro-Ministro. Creio até que as pessoas que reagiram usaram de
uma polidez de que eu, contestando “a quente”, não me sentiria capaz.
Se abordo o tema é por não poder deixar de juntar ao que li e escutei o
meu mais sentido “vómito”. Creio que é meu dever de cidadania!
Desde logo porque considerar que Passos Coelho aproveitaria a grave
doença da mulher para ganhar votos, é presumir que falamos de um monstro. Quem
conhece a história prévia do nosso “Premier”
sabe bem que falamos de um homem com elevado grau de humanidade. Mas nem
deveria ser preciso ter tido o privilégio de ter conhecido PPC em privado, ou
sequer de pensar que poderia estar a enriquecer numa boa sinecura, em vez de
suportar o ónus pessoal e político de lutar por uma visão que tem para o nosso
País (goste-se ou não do conteúdo desta); deveria ser mandamento da boa
educação e do bom senso que se não repare e menos se comentem estes detalhes,
ainda mais quando falamos de alguém que tem a coragem de enfrentar um desafio
tão grande, em lugar de ficar em casa vivendo uma depressão. No caso de Passos
Coelho, salienta-se o acto de amor, sem mais comentários.
Mais espanta que sobretudo uma mulher (Estrela Serrano) diminua outra de
forma tão vil. E se do “politicamente correcto” falarmos, alguém que teoriza o
tema, bem podia perceber o desajuste do reparo, numa época em que designações
como “negro”, “deficiente” ou até “contínuo” caíram em desuso. Explicando
melhor o aparente ridículo do encadeamento, o que quero dizer é que a “polis”
mediática convencionou suavizar todos os termos e referências que menorizem
cidadãos em alegada situação de inferioridade ou subordinação. Logo, insinuar
aproveitamento de uma doença em que se joga a própria vida passa por cima de
tudo isto e chega ao cume da nojeira…
Ademais, mesmo no mundo académico, há “fórmulas que não se formulam”. Num
Portugal universitário e político que ainda teme ver os (raríssimos) méritos do
Estado Novo, “brincar” com doenças graves ou fatalidades é demasiado
“vanguardista”… O respeito que houve (e bem) para com António Guterres e Mário
Soares, deveria ser tributado a qualquer personalidade pública,
independentemente do seu quadrante político.
Oxalá quem tão triste figura fez não tenha que reagir a algo de similar.
Em todo o caso, se tal dia chegar, prometo decoro e continuarei pensando sobre
o eterno dilema de saber se deve ou não haver limites à liberdade de expressão
em democracia.
Sem comentários:
Enviar um comentário