Há muito pouco que eu possa acrescentar sobre as eleições gregas e sobre
a vitória do Syriza.
Escolhi, por isso, alguns apontamentos telegráficos sobre os demónios
criados para vender tinta e promover opiniões.
Em primeiro lugar, muito se fala e desespera sobre as consequências para
a União Europeia de um incumprimento deliberado das obrigações do País
derivadas de dois programas de resgate. A meu ver, essas sequelas serão poucas.
Desde logo, financeiramente, a Grécia não tem dimensão para arruinar a
construção europeia. Prova disso parece ser o aviso conjunto do Banco Central
Europeu, do Fundo Monetário Internacional e da omnipotente Chanceler alemã que
vieram dizer que não renegociarão absolutamente nada, admitindo, implicitamente
e na passada, toda e qualquer consequência. Todavia, se esta proclamação viesse
a ser amaciada, outra vez e a contrario,
se comprovaria a pouca dimensão económica dos fundadores da democracia (a
História hoje é, desgraçadamente, contada em milhões e não em palavras).
Já politicamente, outro galo deveria cantar se o povo helénico (portador
de um currículo especial na área) saísse da mesa familiar. Contudo, para que
assim fosse era necessário que os ideais europeus fossem o motor de uma
construção que surgiu com boas ideias e vive com boas contas. Como, quase
sempre, anda cada um a ver como pode ganhar mais qualquer coisa e a
solidariedade é uma batata, as lágrimas que poderiam correr seriam sentidas
como as do crocodilo…
Em segundo lugar, fala-se com a-propósito de eventuais repercussões no
plano eleitoral europeu. Manda a economia da prosa que apenas se reconheça o
problema espanhol (movimento “Podemos”) e francês (de sinal contrário, com a
Frente Nacional). Vejamos o plano português com outro detalhe: quem poderia
propor-se a uma aventura de semelhante pauta propagandística? Salvo melhor
opinião, Bloco de Esquerda e Marinho Pinto, independentemente da bandeira de
conveniência que use.
No primeiro caso, a bendita liderança de Catarina Martins e João Semedo
tem arruinado um fenómeno que chegou a ter quase tanto de eleitoralmente
relevante como de demagógico. Afortunadamente, o quase nulo carisma de ambos
não permitiu continuar o disfarce da ausência de substância. No segundo, temo
que o nosso apetite como povo por encontrar culpados para os nossos erros
próprios (a mesma tendência que nos leva a olhar para o “paizinho” Estado para
que nos dê tudo; seremos todos “salazaristas convictos”?!) possa dar-lhe alguns
votos. Porém, sendo apenas um “Mário Nogueira de gama alta”, não tardará até
que se esvazie o “balão Marinho”.
Duas certezas ficam: Alexis Tsipras já percebeu como se comunica na
política moderna, ao invés dos políticos do burgo. Depois, continuo a dizer que
o mercado foi longe demais; a vitória daquele é mais uma evidência…
Seja como for o Cavalo de Tróia já está no interior das muralhas de
Bruxelas.
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