Há umas semanas, vejo no noticiário da RTP e, subsequentemente, leio na
imprensa que o Agrupamento de Escolas de Valadares proibiu, através do seu
regulamento interno, o uso de “decotes ‘excessivos’, calças ‘excessivamente
descidas’ ou ‘saias demasiado curtas’" (cito, na circunstância, o “Sol”).
Começando pela abordagem política, relembra o semanário citado que, em
2009 e por ocasião de evento similar em Pinhal Novo , o Bloco de Esquerda terá declarado
tratar-se de "inusitado atentado à liberdade individual, expressando
"o mais profundo repúdio" pelo seu "cujo cariz autoritário"
(idem). Ora bem, o mesmo partido que quer proibir “piropos” rejeitava aqui uma
clara tentativa de defender a dignidade das jovens mulheres, evitando uma
excessiva sexualização e a automática sujeição (não é preciso estudar em
Coimbra para somar dois mais dois) aos ditos e aparentemente gravíssimos
piropos… Mais uma vez se vislumbram as contradições evidentes de um fenómeno
partidário cuja notória decadência só espanta por ser tardia.
Aliás, a propósito do episódio mais recente, o sítio/blogue afecto ao BE
(ESQUERDA.NET) reconhece e relembra as posições de 2009, associando o
raciocínio ao caso de 2013; ou seja, como eu próprio disse nos meus tempos
parlamentares, a conveniência e o lucro eleitoral são o único fio condutor de
uma agremiação que foge da responsabilidade institucional como o diabo da cruz.
Contudo, não contornaremos a questão em apreço, dizendo que, mais uma
vez, se encontram em jogo as questões de saber de distinguimos, sem
maniqueísmos, o certo do errado e o mundo ideal do mundo real. Começando pela
última, diria que num mundo ideal, cada um usaria (ou não) o que muito bem
entendesse, sem que isso pudesse trazer consequências nefastas, fosse no plano
do assédio, fosse no domínio da ofensa à moral pública, fosse ainda na
estruturação de um personalidade que entenda e respeite regras de conduta.
Sucede que entra aqui a mesma variável de que Marx (o Karl e não qualquer dos
irmãos homónimos) se olvidou: o ser humano, a sua imprevisibilidade e o seu
egoísmo inato (parto, claro, de um certo pessimismo antropológico), coisas que
explicam a necessidade de regular a não menos necessária convivência social.
Depois, temos que perceber se ainda acreditamos que há coisas que estão
certas e outras que estão erradas. Tenho escrito que entendo que a civilização
ocidental me parece ter entrado numa deriva relativista em que qualquer opinião
é válida por ser emitida por um sujeito determinado e em que os valores perdem
a essência de marcas de sinalização do comportamento, porquanto valem o que
cada nação, organização ou sujeito entender que elas valem.
Como explicarei na próxima semana, sou dos que entende que ainda há
referências inegociáveis.
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