Esperei, esperei
e esperei… Li, li e li… Escutei, escutei e escutei… E, por pouco, não vomitei,
vomitei e vomitei…
A história que
envolve o divórcio de Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães já motivou
dezenas de reportagens vampirescas, centenas de crónicas presunçosas e milhares
de piadas de hilaridade variável.
Pois bem: não
podendo vencê-los, junto-me a eles, procurando um ângulo pessoal, depois de
deixar a questão marinar e, praticamente, sair da agenda.
Assim e em
primeiro lugar, devo dizer que sou um fanático da privacidade. Ora, sobre o
caso que hoje nos ocupa, a vertente “nacionalizadora” desta íntima propriedade
privada tem três perspectivas que vale a pena explorar: por um lado, o meu
eventual pesar é amplamente diminuído pelo facto de terem sido os próprios
visados a aproveitar o lado cor-de-rosa da mediatização. Enquanto as reportagens
foram elogiosas e peças de um puzzle que compunha a imagem de uma família de
sonho, não se ouviu murmúrio de pranto ou cautela (antecipadas desculpas se me
equivoco).
Por outro lado,
foram os órgãos de comunicação social que criaram o “monstro”. Manuel Maria
Carrilho mais não é que uma personagem cuja voz foi amplificada por media
sequiosos de uma audiência que, cada vez mais, se alimenta de emoção e não de
informação. Eram os enxovalhos a outros políticos (relembro as nojentas
referências a um momento passado que o, então, ministro Morais Sarmento
corajosa e aprioristicamente assumira), as crónicas e intervenções que
denegriam quem lhe dava palco (foi com base numa delas que pude contrariar num
debate o seu correligionário Augusto Santos Silva), os textos a construir uma
imagem de intelectualidade, mesmo que, aposto, quem lhe desse projecção não
entendesse uma vírgula (e logo não conhecesse o mérito académico daquilo que lia)
da sua obra filosófica, e todo um percurso de candidaturas e nomeações
comodamente toleradas em homenagem ao manancial de notícias que sempre se
esperaram de Carrilho…
Por fim, importa
reconhecer, a contrario e embora
mantenha o que vai dito supra, que
tratando-se de duas figuras que desempenham tarefas de alta exposição e possuem
perfis de alto coturno, parte da publicidade do caso não deve espantar ou
motivar crónicas moralistas.
Creio, em suma e
não entrando nas entranhas de um caso que fede por si só, que podemos nele
sublinhar dois erros de tomo: em primeiro lugar, o de Carrilho que, por muito
que pudesse ter algum capital de queixa, já converteu Bárbara em mártir (se
calhar, merecidamente). Em segundo lugar, o da jornalista do Correio da Manhã
(e/ou da sua televisão) que tinha o dever ético de recusar a pergunta sobre as
tentativas de violação alegadamente perpetradas pelo padrasto daquela, ainda
que tal pudesse ter consequências profissionais; há barreiras de humanidade que
não se cruzam.
2 comentários:
Só posso assinar por baixo.
Totalmente de acordo. A CMtv continua a demonstrar a forma ridícula como trata o assunto: http://cmtv.sapo.pt/flash_vidas/detalhe/barbara-levava-whisky-para-uma-ilha-deserta.html .
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