Seja o termo “subprime”, “recessão” ou “crash bolsista”, o facto é que os governantes continuam a governar – por vezes, até fortalecidos por estarem a salvar-nos, algo que julgava ser a sua obrigação, mesmo antes de a crise eclodir – os gestores (mesmo os que desgraçam empresas) recebem chorudos prémios, no final do ano, e os cidadãos, nas mais diversas partidas do Globo, ficam com alguns problemas para resolver: pôr comida na mesa, enquanto se pagam a casa, os estudos e as contas normais, arranjar um segundo ou um terceiro emprego, não faltar com nada àqueles que deles dependem, enfim, tentar viver, quando cada vez mais apenas parece ser possível sobreviver…
Uma olhadela pelos números do crédito malparado – isto é, pelos índices de incapacidade das pessoas para pagarem os empréstimos que contraem – mostra que muitas pessoas, mantendo o incompreensível vício de se alimentarem, já não conseguem pagar as prestações, no caso mais frequente, das casas. Ora, com um mercado de arrendamento ineficiente, parece-me dramático que o dinheiro não chegue para, ao fim do mês, se paga mais uma quantia por uma casa que, em bom rigor, só será nossa daqui a umas décadas…
E, escrevi-o no passado, se é certo que as pessoas comprar coisas de que não precisam (vários LCD ou plasmas, “n” telemóveis e tantas outras coisas acessórias, mas que a publicidade torna essenciais à nossa felicidade) e que, regra geral, se bastariam com uma casa mais acessível, é bem mais relevante fazer notar que, designadamente em Portugal, os grandes partidos raramente cumprem a sua função pedagógica de alertar para que as pessoas não gastem mais do que o necessário e para que seleccionem a prioridade das despesas, que as autarquias não têm uma política de solos e de licenciamentos que modere a voragem dos construtores e que os bancos quase impingem créditos (além de seguros de todo o tipo, cartões de crédito, serviços de loiça, viagens, etc…) sem curar de aconselhar os clientes em face das suas reais possibilidades, quais abutres de fato e gravata.
Ou seja, temos o Planeta de pantanas pelas alterações climáticas e delapidação de recursos naturais, mas também pelo crescente engrossar da legião dos excluídos e remediados. Os que têm muito são poucos e têm cada vez mais, enquanto aumentam os que menos têm e cada vez mais olham para o lado direito das ementas, nem que seja para ver o preço de uma mísera sopa.
Em suma, sempre defini o mercado como o melhor regulador das trocas e a democracia como o melhor sistema político (ou o menos mau de todos os que se conhecem, como diria Churchill), mas se deixarmos o mercado ir longe demais, a economia controlar a política e se deixarmos as pessoas à beira do desespero, um dia, por muito manietadas que estejam as pessoas darão razão a um populista que troque direitos por estabilidade ou voltarão a ler Marx, Engels e Lenine. Acho, aliás, que só com sintomas destes se explicam as votações expressivas num dos mais reaccionários partidos comunistas da Europa, o PCP…