Tentarei
escrever esta prosa com o menor número de adjectivos e com a frieza possíveis
em homenagem à moderação a que me sinto obrigado. Contudo, creio que o dr.
António Costa poderá estar, politicamente falando, a meter-se numa numa
camisa-de-onze-varas ou a criar, genialmente, o “auto-xeque-mate”.
Indo por partes, reafirmo que, a meu ver e usando noções sobre métodos
eleitorais que espero não estejam desactualizadas, a coligação PSD-CDS, tendo
mais votos e mais deputados eleitos, ganhou as eleições. Continuo a acreditar
nisso, apesar de as últimas notícias me tenham feito ganhar esperanças de que a
Briosa possa ir à Liga dos Campeões, aliando-se a clubes mais bem pontuados. E
nem venham os puristas dizer que se não pode comparar política e futebol; em
ambos os casos e salvaguardadas as evidentes diferenças regulamentares, é uma
questão de pontos averbados...
Pode, por isso, soar a mau perder que as forças derrotadas queiram o que
os portugueses não quiseram dar-lhe. Acredito que a mensagem eleitoral pode ser
plasmada do seguinte modo: siga o Governo com o bom trabalho, mas com mais
moderação e escutando propostas alternativas.
Pensar nem que seja num acordo de incidência parlamentar com PCP (dou por
irrelevantes Os Verdes) e Bloco de Esquerda é suicídio a prestações: por um
lado, porque estas duas formações radicais têm apenas dois caminhos possíveis:
ou se “aburguesam” e desaparecem em próximas eleições por traição ao seu
eleitorado, ou impõem os seus temas e arrastam o PS para fora da
governabilidade europeia.
Por outro lado, porque esta originalidade aritmética pode custar a Costa
a união do PS, tanto mais necessária quanto mais esotérico o acordo que fizer.
Ademais importa por os conceitos en
su sitio: no caso do PCP, como podemos ver pelo quase estaticismo
eleitoral, falamos de um partido parado no tempo e que espera que a lei da vida
venha a erodir a sua base eleitoral, por muito que disfarce com a operação
plástica que consiste em indigitar alguns deputados jovens. Trata-se do único
partido comunista ocidental que apoiou o golpe contra Gorbatchev e que, mais
recentemente, revelou dúvidas sobre o facto de a Coreia do Norte não ser uma
democracia. Por fim, cumpre dizer que nem Mário Soares deu, alguma vez, tanto
poder aos comunistas…
Já no caso do Bloco de Esquerda e como não sou apreciador de cocktails, não sei qual a sua composição
actual, mas lembro-me de um tempo em que se descortinavam marxistas-leninistas,
trotskistas, maoístas e até anarquistas na sua fórmula. É a propostas destas
maravilhas ideológicas que podemos sujeitar-nos? E se já houve fracturas
internas, como será quando tiverem que incensar a burguesia que, seguramente,
vêem no PS?
Se for este o caminho, que não se iluda Costa: cedo ou tarde, a factura
chegará e com IVA a 100%...
Já se escolher “tolerar” a coligação e derrubá-la um ou dois anos
volvidos, provavelmente, arrisca nova maioria absoluta de PSD e CDS.
Há habilidades que podem sair caras. A ver vemos se sai da caixa de água
em que se meteu.
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