Embora pareça
uma evocação de Enid Blyton (saudades desses tempos…), falo-vos, hoje, sobre os
cinco milhões (número estimado) de portugueses que residem fora de Portugal.
Com algum dever
de reserva imposto pelas funções desempenhadas, começo pelo lado onomástico do
fenómeno: se, antigamente, eram designados por “emigrantes” todos os
portugueses que ganhavam a sua vida “lá fora” (“aqui fora”, digo eu), há
aqueles que, hoje em dia, se abespinham com o estilo clássico, preferindo a
designação pós-modernista de “portugueses residentes no estrangeiro”. Se
pensarmos bem, faz até sentido em casos como os quadros das empresas que passam
fora de portas tempo limitado (os famosos “expatriados”) e para aqueles que,
tendo a nacionalidade, já nasceram fora do País.
Do que conheço,
continuaria por destacar uma imensa virtude dos nossos concidadãos emigrados:
demonstram, todos os dias, que nada se consegue sem imenso trabalho. Enquanto
segue a polémica caseira sobre horas semanais para a função pública, por
exemplo, na África do Sul era comum encontrar empresários portugueses a
trabalhar às cinco da manhã, terminando apenas quando pudessem faze-lo. No caso
dos exemplos de sucesso, que olhamos, por vezes, com uma pontinha de inveja,
raros serão os percursos de vida que não estejam respaldados por momentos de
privação e dúvida, e mesmo por noites ao relento.
Claro está,
diga-se, que as nossas Comunidades estão longe de ser todas elas constituídas
por exemplos de abastança – ideia que temos tendência a nutrir. Há casos de
emergência social a que as autoridades portuguesas tentam acudir, com as
limitações conhecidas de todos.
Em segundo
lugar, creio ser de sublinhar a generosidade como traço forte de um qualquer
retrato dos portugueses emigrados. Se é certo que alguns acumularam fortunas
consideráveis, não é menos verdadeiro dizer-se que o que têm lhes pertence e
assim poderia continuar a ser, legitimamente. Todavia, e apenas a título
ilustrativo, basta dizer que em Joanesburgo e perto de Caracas existem dois
enormes lares de terceira idade – qual deles o mais bem equipado – fundados e
mantidos pela boa vontade das respectivas comunidades. Ademais, à parte das
infra-estruturas, são diversas as ocasiões em que iniciativas destinadas a
compatriotas carenciados ou em situações de emergência se tornam possíveis por
via desse sentimento de partilha e redistribuição que, no fundo, sempre está no
coração dos portugueses.
Se tivesse que
apontar traços de apreensão no curto espaço e com a rédea curta que me tutelam,
apontaria, mormente no exemplo africano, os atritos e envelhecimento daquela
Comunidade que ainda alimenta a tradição associativa. De igual modo, creio que
os números de participação eleitoral não fazem, nem de perto nem de longe, jus
à relevância dos nossos portugueses da diáspora.
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