Para um militante do PSD, como eu, confirmaram-se os piores receios; o PSD ficou em 3º lugar nas fulcrais eleições para a Câmara Municipal de Lisboa (um "mini-governo", como dizem muitos).
A propósito de tudo isto, oferecem-se-me alguns apontamentos:
1. Marques Mendes, como já afirmei, errou ao judicializar algumas das suas decisões (arguidos dispensados de concorrer ou com apoio retirado);
* A Lei prevê a inocência até condenação por sentença transitada em julgado. O PSD não o presumiu.
* É penumbroso fazer coincidir momentos judiciais iniciais com juízos políticos.
* Nem todos os autarcas do PSD arguidos foram igualmente estigmatizados.
* Mesmo politicamente a decisão foi errada; para além da condição processual, custa perceber a linha que une Carmona, Valentim e Isaltino.
2. Não creio que possam dar-se graças na oposição interna. O PSD está mesmo mal e continuo a achar que o problema é geracional. As alternativas têm que seduzir e não apenas espremer Mendes.
3. Embora Helena Roseta tenha sido militante dos dois maiores partidos e Carmona governante e autarca pelo PSD, os movimentos independentes (ou até anti-partidários) colheram muita da repulsa que se sente no eleitorado em relação ao sistema partidário. Nasce a política alternativa, se não mesmo a anti-política (vide o BE e, quiçá, o PNR).
Quando políticos consagrados reconhecem nos corredores que o poder não se ganha, antes sendo perdido por quem o detém (a tal lógica "mansa" da rotatividade e dos ciclos máximos de dez anos), estão a dizer-nos que não conquistam as emoções nem convencem as razões. Esperam que o poder apodreça.
Os poucos lisboetas que votaram já viram tudo.
4. A fortíssima abstenção diz que a malta já deu e que é tudo a mesma fruta (até eu já tive mais certezas do contrário...).
5. O centro-direita saem de rastos. O CDS não elege um só vereador, num claro chumbo ao remake (geralmente o primeiro filme tem mais sucesso do que as sequelas...) de Portas. Tanto calculismo e mediatismo acaba por cansar, como, em parte, prova a lição de Santana Lopes. Afinal, se calhar (e por muito que tenha muitos e bons amigos na actual nomenklatura centrista) o problema não era (só) Ribeiro e Castro.
Manuel Monteiro ainda não percebeu a figura rídicula que vem fazendo e o descrédito que traz à política. A ideia de se fazer acompanhar, permanentemente, de um comediante e de organizar números de circo como uma gincana num passeio, entre supostos dejectos de cão, é "apalhaçar" o problema e não fica bem em que se afirma como paladino da política séria. Alguém o "desligue da máquina", por favor.
O PPM, sendo uma organização familiar (que apesar de tudo, mercê da visão estratégica de Santana Lopes, tem 2 deputados à boleia do PSD), também resolveu entrar na tenda e fazer circo. Desde afirmações do candidato a dizer que estivera nos assuntos agrícolas, por não ter tempo para a campanha, à entrega de papel higiénico nos serviços da câmara, tudo serviu para que muitos achassem que votar seria uma perda de tempo (e Deus sabe como aprecio a associação da política ao humor, dentro de certos limites...).
A extrema-direita (PNR), não obstante o gozo de ficar à frente de Manuel Monteiro, bem faria em não embandeirar em arco. Parece-me que menos de 2000 votos não traduzem uma adesão popular às propostas de fim de apoio para gays, imigração e manifestações culturais marxistas. O "mercado" eleitoral existe, mas o score actual mostra que o produto quase não vende.
6. Sendo que o partido que ocupa o Governo, regra geral, é açoitado em autárquicas, e mesmo não esquecendo que o PSD vinha com má folha de serviços na gestão da Câmara e da sua queda, fica clara a vitória do PS. Bem pode Sócrates rir ao ver o PS eleger o dobro dos vereadores do 2º classificado. Não fora Costa a maior ameaça eventual à sua liderança e a risada até podia ter sido mais sincera...
7. De todo o modo, cai muito mal a encenação festivaleira que o PS fez no Altis!... Gente da Covilhã, Famalicão, Mirandela e Alandroal (estas terras contei eu, via tv), confessando não saber que excursões a Fátima e a Mafra haveriam de acabar de bandeira em punho, em Lisboa, dá um ar artificial e ensaiado à política. É algo que ainda causa mais rejeição nos milhares que já nem aos noticiários prestam atenção. A geração que domina a actual classe política afasta os portugueses, assim se perpetuando (são os mesmos há "n" anos). Mais valia terem reservado uma sala pequena e terem feito uma conferência de imprensa mais sóbria e com mais ideias.
8. Fernando Negrão foi um gentleman, como sempre: generoso, sério, inteligente e trabalhador. Já Marques Mendes fez o que devia (pedir eleições internas antecipadas) e com justa proporção; é politicamente legítimo que se recandidate, já que, apesar de eu entender que o PSD perde Lisboa sobretudo por erros daquele, não está em jogo uma derrota em eleições legistalativas que, efectivamente, foram a razão primeira de uma liderança que, apesar de tudo, conta já com algumas vitórias.
9. Temo, porém, que o PSD, mais uma vez, faça uma eleição em que os interesses das "tribos" e o protagonismo pessoal (sempre desejado pelos actores secundários) vençam a ideologia e a visão institucional.
10. Reafirmo a minha ideia de que os partidos não são eternos e o PSD, dadas as suas origens exlusivamente nacionais, menos ainda (disse-o no último congresso).