No domingo, para
passar o tempo, decido ir ao cinema; já para matar o tédio, escolho o último
filme com Stallone e todos os seus camaradas que preencheram a minha
adolescência. E que genial é vê-los todos juntos, na fase da artrose, esfanicando
tudo e mais umas botas, com a tecnologia de hoje.
Mas tudo isto
vem a propósito da saída do dito entretenimento; estão as salas alinhadas ao
longo de um corredor do piso superior de um centro comercial (Millenium) de
Caracas, desembocando a saída (ao lado do ecrã) em frente a vedação em vidro. Como é meu
hábito, deixo-me ficar para último, pois não apenas gosto de ver a ficha
técnica, como detesto atropelos e tenho um tremendo medo de espalhar-me nas
modernas e abruptas descidas das semi-obscurecidas salas.
Assim sendo,
decide aqui o vosso amigo, sendo a penúltima pessoa a deixar o quarto escuro
(salvo seja), ficar um pouco a contemplar o centro comercial que, a mais de
estar absolutamente deserto, tem uma arquitectura interessante. Nisto, educadamente,
o jovem funcionário que estava mais próximo da porta saiu para avisar-me de que
era obrigatório continuar a circular (assim tipo Torre de Londres ou Mausoléu
de Lenine…). Ante a minha estupefacção, a última pessoa (uma jovem),
explicou-me que a advertência era para permitir o escoamento dos espectadores e
não haver pressão contra o tal muro envidraçado.
Aqui chegados,
eis o ponto: a regra faz todo o sentido para uma sala cheia e/ou num dia em que
o centro comercial tenha as lojas abertas e pessoas circulando. No caso, não só
o corredor (que teve ter uns bons dois metros de largura) é exclusivo para as
salas de cinema, como – repito – era a penúltima pessoa (e já com alguma
dilação temporal para o “pelotão”) e não havia nenhuma outra sessão terminando.
Não quero
discutir a regra (que, aliás, me parece ajustada), mas a falta de flexibilidade
intelectual posta por ambos os intérpretes, que vejo repetida em largas fatias
das gerações mais jovens. O empregado aplicou uma regra boa de forma abstracta,
sem revelar capacidade para perceber (garanto que o santo moço não suspeitou
sequer do motivo do meu esgar de surpresa) que o enunciado ficava ridículo no
caso sub judice.
Foi aqui que
pensamento me devolveu aos saudosos tempos da minha tese de mestrado: a
configuração mental das gerações que já nasceram com a televisão como
companheira é mesmo diferente! Como avisava Sartori, surge um homo videns que perde a capacidade de
abstrair, sendo dotado de um raciocínio menos ágil, já que as imagens
sucessivas impossibilitam essa pausa reflexiva.
Não se julgue
que entrei na idade do “no meu tempo é que era”! Reconheço que a rapaziada
jovem tem acesso a muito mais conhecimento (mormente, via Internet) do que o
disponível nesses dias de maior vigor por parte do meu esqueleto, e que quem
sabe de algumas áreas pode saber muitíssimo. Porém, perde o enciclopedismo e a
visão ampla do mundo e da humanidade.
São linguagens
diferentes… Não vale a pena insistir…