Na sequência do meu último artigo, recebi uma crítica de
alguém que prezo muito, não só pela objectividade que coloca em todas as suas
análises mas também porque não milita em qualquer partido e assim isenta nas
suas apreciações.
Dizia ela, que grosso modo concordava com o meu artigo, mas
usando uma expressão minha, rematava com, tal como tu dizes é uma mão cheia de
nada.
Vamos então à questão essencial e como me é habitual colocar
uma questão de fundo:
Há alguma saída para
esta crise no curto prazo?
Creio ser consensual, que
qualquer saída passará obrigatoriamente pelo crescimento económico que gera
emprego e consequentemente gera mais receitas fiscais, menos custos nas
prestações sociais e no fim menos défice e menos dívida pública. Estarei a ver
mal a equação?
Usando alguma objectividade, não vou abordar aqui a questão
de mais ou menos saúde, educação, reformas, pobreza, etc..., uma vez que são a
consequência lógica e irrefutável do sucesso ou insucesso do crescimento
económico.
Mas, voltemos então à equação e comecemos por analisar se o
crescimento económico se decreta ou se é por outro lado uma variável que
depende única e exclusivamente de nós, se depende de nós e da UE, ou até se
depende de nós, da UE e no limite da economia global?
Resolvi então fazer alguma pesquisa e tentar perceber porque
é que a ausência de crescimento, aumento do desemprego e os défices públicos
não são um exclusivo Português. Se isto for uma evidência, então podemos
calmamente tirar uma de três conclusões ou se calhar as três:
- o modelo económico dos países ocidentais está esgotado e
carece de uma refundação
- os recursos são finitos e tornamo-nos demasiado egoístas, porque
não queremos dividir benesses e regalias que conquistámos com os países
emergentes
- ou finalmente, porque sucumbimos à tentação de queremos
para nós o filet mignon, dando assim o osso aos países mais pobres, pensando
que eles trabalhariam para nós por meia dúzia de tostões e que deste modo não
precisaríamos de trabalhar vivendo assim dos rendimentos.
Vamos então à análise objectiva com base nas projecções para
2013, bastando para isso 5 países:
|
Crescimento
económico
|
|
|
Previsão
inicial
|
Última
revisão
|
Erro
na previsão
|
Alemanha
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1,7%
|
0,5%
|
70%
|
França
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0,8%
|
0,1%
|
88%
|
Espanha
|
-0,4%
|
-1,4%
|
250%
|
Portugal
|
-1,0%
|
-2,0%
|
100%
|
|
|
|
|
Inglaterra
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1,8%
|
0,9%
|
50%
|
Este quadro ilustra perfeitamente, que a crise é sistémica,
que não depende de um País ter moeda própria, que Vitor Gaspar engana-se tanto
como os seus ilustres pares e que a saída para a crise não depende de
nenhum País em particular.
Salvaguardas as devidas diferenças que vão desde o grau de industrialização,
maturidade, organização e qualidade da democracia, a Inglaterra é o único País,
que não está no euro e por isso, tem toda a liberdade para emitir moeda e
segundo alguns medíocres, ultrapassar facilmente a crise económica, então
porque não o faz?
Há uns meses ouvia um reputadíssimo economista Português
dizer, que a solução para Portugal estaria na saída do Euro, sofreríamos um
choque inicial, ficaríamos mais pobres momentaneamente, mas que a seguir teríamos
o oásis. Será?
Paradoxalmente, podemos também abordar um País e um tipo de
líder que prometeu mudar a França, a Europa e quiçá a economia mundial e os
resultados estão à vista. Refiro-me a François Hollande, que de um momento para
o outro, passou de desconhecido a iluminado, de enérgico a resignado, de salvador a indiferente e
ou corrige a trajectória, ou passará rapidamente, de Herói a Vilão. Segundo as
últimas sondagens, dois terços dos Franceses estão desiludidos. Será por isso,
que nunca mais ouvimos António José Seguro referir o seu nome?
Portanto, como é fácil de entender, não é por um País ser
mais ou menos liberal, por ter mais ou menos estado social, por ter uma
democracia mais ou menos consolidada, por ser mais ou menos industrializado, ou
até por ter a faculdade de imprimir moeda própria, que o crescimento acontece
por geração espontânea.
Sendo assim só pode haver uma explicação, o actual modelo
económico Europeu está esgotado.
E está esgotado porquê? Pelo simples facto, de que nos
demitimos de pensar, aceitámos que nos vendessem o oásis sem questionarmos, e essencialmente,
porque sucumbimos perante as benesses, e o facilitismo.
A Europa industrializada do pós guerra desindustrializou-se,
os políticos com envergadura reformaram-se e deram lugar aos políticos
descartáveis, a criação de riqueza deslocalizou-se da Europa para os Países
emergentes, o desemprego aumentou, o modelo social Europeu ruiu pelo simples
facto de que a pirâmide que o sustentava se inverteu, com isto os encargos
sociais aumentaram, os impostos para suportar esses encargos aumentaram também,
a Europa perdeu competitividade, os políticos descartáveis permitiram que os
especuladores financiassem as dívidas dos Países e agora quem nos governa são
os grandes grupos económicos.
Respondendo à questão inicial, não há saída para esta crise no curto prazo. Contudo o sofrimento
pode ser aliviado, os sacrifícios poderão ser menores mas mais dilatados no
tempo, perderemos alguns direitos adquiridos e o futuro será muito mais
imprevisível. E tudo isto porquê? Porque salvo raras excepções, somos
governados por políticos descartáveis ao serviço dos grandes grupos económicos,
que no fim são os nossos credores. Referi propositadamente salvo raras
excepções, porque ainda há políticos que colocam o País à frente dos interesses pessoais e
partidários.
P.S. Nem há uma semana, a propósito de políticos
descartáveis e a respeito de candidatos às autarquias, um político da nossa
praça dizia-me: se o individuo X me mostrar uma sondagem que prove que tem
hipóteses de ganhar a câmara, será candidato e terá o apoio do partido.
Questão: Então já não importa saber se tem um projecto, se é
honesto e competente?