quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre a Briosa (parte II)

Retomando o tema da semana que passou, abordo agora, singelamente, aquilo que, a meu ver, pode fazer-se para fortalecer a Académica no plano do seu enraizamento social e, logo, do seu sucesso desportivo.

Talvez o melhor seja mesmo começarmos por aqui, procurando explicar o passo lógico que enunciei. Tendo em conta que futebol moderno tem muito de gestão empresarial, sem “consumidores” do “produto futebolístico” da nossa Instituição será difícil explicar a um patrocinador por que razão há-de gastar dinheiro na A.A.C., mesmo que este perceba cabalmente a mais-valia que é o prestígio desta última.

Por seu turno, sem apoios é difícil manter os atletas que venham a destacar-se e, deste modo, nutrir aquela cultura institucional de que as pessoas dizem ter saudade, pese embora se continue a cultivar a diferença (muito por mérito do actual Presidente, que resiste às tentativas de mercantilização por parte de uma ou outra mente pouco brilhante). Por muito que uma Direcção tente incentivar os atletas a completarem-se enquanto homens e cidadãos, designadamente estudando e percebendo a ligação singular entre a Briosa, a Universidade e a Cidade, é de compreender a volatilidade das equipas, mercê da contenção salarial a que a gestão responsável tem obrigado.

No entanto, só mantendo constantes na equipa algumas referências que possam transmitir a quem chega o que é a Académica (lembro, só para falar nos últimos tempos, Miguel Rocha, Pedro Roma e Nuno Piloto) é possível ter uma cultura institucional e uma praxis, que levam muito tempo a adquirir (e, infelizmente, poucos dias a destruir).

Parece, então, que chegámos a um nó górdio: não temos dinheiro e mais competitividade porque as pessoas não aderem e não temos adesões porque não temos dinheiro e mais competitividade…

Como Alexandre, o Grande, temos que cortar o nó e acabar com a angústia; falemos, por isso, do que pode competir a uma Direcção da Associação Académica de Coimbra/Organismo Autónomo de Futebol, deixando aos conimbricenses e aos que passaram pelos bancos das nossas faculdades o julgamento da sua própria consciência, para que possam perceber que, a mais da retórica simpática de dizer-se que se é da Briosa, há uma série de deveres que estão ínsitos nessa condição de academista, sob pena de sermos mais uma meia dúzia, pouco diferente das de Leiria ou de Paços de Ferreira, e de olharmos com preocupação (e vergonha na cara, espero eu) as assistências em Guimarães, Braga ou até Matosinhos. Mais digo que, tratando-se de uma instituição velha de mais de um século, devemos servi-la sempre, independentemente de qualquer elenco directivo que a represente e das críticas que, legitimamente possamos fazer-lhe na sede própria.

Terminaremos estas notas, em breve, com um ou dois pensamentos pessoais sobre o que há a fazer pelo lado da cativação de velhos e novos públicos.

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