Anda o nosso
País a festejar o Carnaval (aqui no Brasil nem vos conto…) e tento perceber que
imagem colhe alguém que o mira de fora.
Verdade seja dita, apesar de ser
inquestionável e inegociável o meu patriotismo, fico com a sensação de que a
história se vai repetindo, como se todo o ano estivéssemos condenados a
manter-nos à tona de água, sem sair de um cortejo com mais toques de marcha de
condenados do que de euforia carnavalesca.
Senão vejamos: a novela em torno da
apresentação da declaração de rendimentos de António Domingues prolonga-se
indefinidamente, chegando já ao correio electrónico e às mensagens telefónicas.
Que não se iluda o leitor! Considero essencial o apuramento da verdade sobre o
que disse o Ministro das Finanças e quem mais interessar ouvir, dada a
importância da Caixa Geral de Depósitos e, mais do que isso, do valor ínsito da
verdade. Porém, parece pouco para ser o assunto do dia de uma Nação velha de
mais de oitocentos anos.
Em registo idêntico classifico a não
divulgação da fuga de capitais para paraísos fiscais. É grave? Gravíssimo! Mas
e o que temos para além disso? Offshores
e Paulo Núncio são o novo capítulo dos manuais de História de Portugal, daqui a
trinta anos? Oxalá que não…
Morbidamente divertido acaba por ser
o facto de os partidos (vê-se bem no PSD) ainda não terem associado o nível
rasteiro do quotidiano político à dificuldade de recrutar gente de nomeada para
concorrer às autarquias (isto a mais de alguns dos actuais dirigentes locais e
distritais terem ando divertidíssimos a decepar cabeças pensantes e, logo,
pouco dadas a obediências acríticas).
Quem tenha uma carreira de sucesso e
a liberdade de pensamento como pedra de toque do seu existir dificilmente
quererá trocar a sua realização pessoal por salários que já pouco têm de
principesco e sujeitar-se a gerir escândalos, sem a real sensação de que
podemos dar saltos de qualidade.
Apesar de tudo, guardo boa dose de
expectativa para o embate entre Manuel Machado e Jaime Ramos, sendo que este
último me parece ser umas das excepções às dificuldades de recrutamento laranja
que mencionei. Espero, todavia, que o debate fuja à banalidade e ao ajuste de
contas. Li por estas páginas que o Presidente-recandidato resolveu problemas
graves com o Convento de São Francisco, o que se torna num convite à oposição
para recuperar o tema da Ponte Rainha Isabel… Creio que Coimbra precisa de
ideias e não de contabilidade política.
Vendo ao longe, fica a
ideia de que parecemos condenados a pagar a conta do leiteiro, da luz e da
mercearia e a ver se os trocos do fim do mês chegam para ir à praia. Com
franqueza, parece pouco para quem fez, como dizem, a primeira globalização…