segunda-feira, 29 de junho de 2009

Gamba à catalã

Há pouco mais de uma semana, outra Câmara que aposta convincentemente na Cultura (a de Alcobaça), fechou o Cistermúsica de 2009 com chave não de ouro, mas sim de platina: Jordi Savall e a sua viola da gamba (instrumento da Renascença e Barroco, de que Savall, que saiba, é o único executante contemporâneo de nomeada).

Os sons harmoniosos e as partituras de mestres (Bach incluido) encheram a nave central do Mosteiro de Alcobaça (relato mais completo), com apenas uma nota que impediu o brilhantismo da organização: a total ausência de amplificação impediu a audição do preâmbulo de Alexandre Delgado e as, por certo, precisosas explicações do mestre catalão. obrigando a concentração redobrada para escutar a própria música. Por isso deixo um conselho para próximas edições: ou limitam a plateia ou acautelam o som; a escolha é simples, mas fará toda a diferença.

Momentos felizes

Não tinha tido ainda a oportunidade de escutar ao vivo o talentoso compositor, virtuoso teclista e monstro sagrado do jazz contemporâneo Chick Corea.

Mercê da não menos virtuosa política de apoios culturais da Câmara de Cascais e da qualidade habitual do festival Estoril Jazz, ontem foi um dia de regalar os tímpanos e serenar a alma...

Ele, o piano e uma fantástica empatia com o público, que acabou por envolver no seu regresso ao palco!

O resto foram partituras próprias, Bud Powell, Thelonius Monk (um génio!), Duke Ellington (o imenso), entre outros, chegando mesmo a incursões na música clássica, de que destaco Alexander Scriabin.

Momentos felizes, em suma.

domingo, 28 de junho de 2009

Um pastelão de Natal (mas com excelentes interpretações)

Falar, é como quem diz...


Com frequência me cruzo com este cartaz do PSD Oeiras - plantado ali nas redondezas do Shopping da Linha - e, por muito que tente, aindaItálico não percebi o seu intuito. A mensagem cinge-se ao "fale com o seu Vereador", sem se perceber muito bem como - não há uma linha (estilo o cartaz de Manuela Ferreira Leite), não há um endereço de email ou de chat. Há apenas e só o endereço do sítio do PSD local. Quem visita a página e tem bom olho lá descobre num recanto uma ligação para falar com o Sr. Vereador. Falar é como quem diz. O máximo que se permite é que deixe um comentário. Muito interactivo, sem dúvida...

A temática essa, fica à mercê do munícipe. Pode partilhar com mágoa a enterite infecciosa do seu gato, aproveitando o facto do Sr. Vereador ser competente pelo "Projecto de Apoio ao Animal de Oeiras". Pode ainda reclamar sobre o preço da beterraba ou respingar pelo mau gosto das flores de plástico que florescem no Cemitério (sim, também é competente para os Mercados e Cemitérios locais). Bem, e nada ali parece impedi-lo de gentilmente sugerir ao Sr. Vereador que mude de óptica. Talvez seja o que lhe falta para adquirir uma outra mundividência e, de preferência, uma visão mais actual de Marketing político.

É de louvar que os autarcas "saiam do gabinete" e se predisponham ao contacto com os municípes. Contudo, o povo aprecia que tal atenção seja espontânea, ao longo de um mandato e não somente em vésperas de eleições, cingindo-se o "contacto" a uma caixa em branco num site partidário, desconhecendo-se quem é efectivamente o receptor da mensagem, se haverá resposta ou, pelo menos, se leva em conta o que ali se diz.

Depois, é sabido que o Sr. Vereador em causa, Pedro Simões, é o candidato pelo PSD à autarquia do agora independente Isaltino Morais. Talvez fosse mais profícuo aproveitar o cartaz para se assumir candidato, não?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um erro de tomo

O Primeiro-Ministro, à saída do debate da moção de censura apresentada pelo CDS, reconheceu que um dos erros que cometera havia sido a fraca aposta na Cultura.

Fora o gesto consequente e asinha me soergueria para um retumbante aplauso ao nosso Premier (do fracasso da abertura de um pólo português do Museu Hermitage ao lento agonizar dos teatros nacionais). Ainda lhe daria o bónus de acrescentar que do mesmo erro padeceram os governos PSD (algo raro na última década, todavia…).

Não sei se o “nosso” Engenheiro teve o gesto para estrear o “novo Sócrates” (algo que o próprio já garantiu ser uma fantasia), se o fez para cativar os agentes culturais, perdidos que parecem estar os votos da maioria dos professores (dois sectores que os mitos urbanos, regra geral, associam à esquerda) ou se acredita mesmo que é necessário investir mais num sector estratégico.

Respeitando a presunção de boa fé devida a um político democraticamente eleito, sugiro, desde já, o primeiro investimento sério na Cultura: escolher um Ministro que “exista”, que tenha uma visão que se conheça para a dita e que seja capaz de mobilizar mais do que meia dúzia de elegantes e engravatados juristas.

Depois, acalento a esperança de que, efectivamente, a promessa não derive de intenções eleitoralistas. Espero que o Primeiro-Ministro esteja realmente cônscio da importância da aposta prometida, pois trata-se, a par com a Educação, da mais segura (e, quiçá, única) via para defender a identidade de um país pequeno como Portugal.

Não tendo nós uma força económica privada forte e sensibilizada para o investimento na Cultura que nos permita sermos exportadores bem sucedidos de produtos culturais que se identifiquem, de imediato, com a nossa língua e o modo de ser português (tirando alguns casos bem sucedidos, como Paula Rego, Manoel de Oliveira e José Saramago), só uma forte aposta estatal poderá, com critérios que a não desliguem do mérito e da democratização da fruição cultural, impor a nossa presença no mundo da criação cultural (algo que o Brasil já começou a fazer com alguns resultados).

Esta aposta é tanto mais crucial quanto mais se aprofundam a integração europeia e a globalização, com o que isso traz de avanço da cultura anglo-saxónica e de esbatimento das formas tradicionais de defesa da independência e da identidade nacionais (designadamente, as opções militares; já não é sequer em Vilar Formoso que se defende militarmente a identidade portuguesa, que este em jogo em Timor-Leste e no Afeganistão).

Sendo o reconhecimento do socrático lapso como o código postal – “é meio caminho andado” – resta desejar que dele seja tomada boa nota pelo autor da contrição ou pela Presidente do PSD, caso venha a suceder-lhe. Portugal não aguenta muitos mais anos com erros destes…

terça-feira, 23 de junho de 2009

Onde pára a ERC?

Uma tarde destas dei-me ao luxo de consumir lixo televisivo, sem dó nem piedade. Das tertúlias cor de rosa às madrugadoras televendas e dos talk shows deprimentes aos concursos fora de horas, em que umas moças curvílineas instam os noctívagos a telefonar para linhas de valor acrescentado, derretendo a mísera pensão em menos de nada... Porém, se pensam que isto é o pior que passa na televisão portuguesa, desenganem-se. Experimentem sintonizar na SIC às cinco da tarde. Vi um episódio da telenovela "Rebelde Way" e, neste preciso momento, ainda me encontro em estado de choque.

Para quem desconhece, faço o enquadramento: trata-se de uma novela juvenil que passa à hora do lanche, horário ideal (leia-se aqui ironia), já que a esta hora a criançada já chegou a casa e pode deliciar-se com a tv, enquanto os progenitores ainda não estão por perto. A trama desenrola-se num colégio interno que se vangloria de ter um enorme prestígio. No episódio que visionei, o número 181, a coisa começava com um adolescente imberbe a envolver-se sexualmente com a sua professora de Química numa bancada do laboratório, com direito a algemas e outros acessórios equiparados. Até um tipo com um coeficiente inferior a 20 percebeu o que se passou a seguir, mas os argumentistas não acharam suficiente. Mais tarde, o rapaz passeava-se feliz pelo colégio e, quando abordado pelos colegas, não teve papas na língua - "Dei uma queca na professora Irene" (ipsis verbis).

Entretanto, situação idêntica desenrolava-se entre um docente e uma aluna que conduziu aquele até ao seu quarto, onde dois colegas espreitavam e fotografavam o momento, com o expresso consentimento da menina. Se acham que a coisa ficou por aqui, atentem ao que se segue: numa outra cena, um grupo preparava-se para dar uma festa com álcool e tudo o mais a que julgam ter direito, até que chegam as atracções principais: duas strippers contratadas que, afinal, acabam por não actuar (deu-lhes - aos argumentistas - um repentino rasgo de bom senso!).

Mas se aqui não houve strip, o mesmo não pode dizer-se quanto a um outro quarto, onde uma aluna festejava a sua despedida de solteira com um stripper masculino, numa cena que só parou quando a tanga voou direitinha à sua face... Enfim, para terminar estes sessenta minutos de conteúdos pedagógicos, dois jovens do sexo masculino beijam-se e de seguida discutem entre si. Um deles sai do quarto e resolve (não alcançei a ligação...) fazer uma aluna refém, barricando-se numa sala de aula, onde lhe encosta uma navalha ao pescoço, ao mesmo tempo que recita mórbidas passagens biblícas. E pronto, amanhã há mais... Sendo que, entretanto, as criancinhas ainda podem deglutir os resumos dos episódios na página oficial dedicada à novela - aqui, onde podem confirmar o episódio que acima relatei.

Sim, já fui adolescente e sei como são os adolescente de hoje. Tenho noção de que, para muitos deles, alguns dos comportamentos acima descritos são encarados com relativa normalidade. Contudo, numa telenovela, tolero cenas de envolvimento entre jovens, desde que não explícitas e desde que o recurso às mesma tenha uma razão pedagógica - por exemplo, uma cena em que os intervenientes fomentem o uso de preservativo e de alguma forma passem a mensagem de incentivo a uma vida sexual saudável.

Sucede que, além da leviandade com recorrem a cenas de sexo (ou a circunstâncias que a elas se reportam, como o é a contratação de profissionais da área...), é incompreensível que em momento algum haja o mais leve sinal de pedagogia... No caso do envolvimento entre docentes e alunos, sabemos que haverá casos reais, mas o que ali é por demais reprovável é que não se tenha mostrado uma pontinha de sentimento de erro por parte dos personagens, passando-se assim uma mensagem de que este tipo de envolvimento é permissível e até natural.

A isto acresce a linguagem usada, o álcool sempre presente (ao menos punham os míudos a beber umas cervejas sem álcool, ou isso já não é cool?!), a referência a seitas religiosas, o fomento ao voyerismo, a violência como meio para atingir fins, as constantes cenas de índole sexual, enfim, tudo vale para tornar a série mais cativante ao olhar ingénuo das crianças e néscio dos adolescentes.

Pergunto-me onde raio pára a Entidade Reguladora para a Comunicação, a tal que "figura como um dos garantes do respeito e protecção do público, em particular o mais jovem e sensível, dos direitos, liberdades e garantias pessoais", como pomposamente anuncia na sua página de internet. Que se saiba, este mecanismo tem funções de fiscalização que não dependem de queixa apresentada pelo telespectador (embora este sempre o possa fazer e eu muito tentada me sinto a fazê-lo). Pelo menos da leitura aos Estatutos daquela entidade não vislumbrei que a sua actividade esteja circunscrita a esse ponto, i.e., que em face de conteúdos televisivos chocantes - mormente, para o público-alvo em apreço - e na ausência de queixa contra eles, a ERC não possa actuar...

Compreende-se que os trejeitos de Manuela Moura Guedes e o jornalismo a que nos habituou sejam alvo de crítica e levem à reprovação da ERC ao Jornal da Noite das sexta-feiras, mas convenhamos: aí, sempre podemos mudar de canal e "calar" a senhora. No presente caso, não só a maioria dos pais está (física ou mentalmente) ausente quando as crianças visionam estes programas - que os pais julgam vocacionados para aquele target - como muitos deles desconhecem os meios de que dispõem para alertar quem de direito.

Precisamente por isso e, sobretudo, porque não quero nem imaginar que a minha sobrinha algum dia possa vir a absorver conteúdos desta espécie, deixo aqui a minha indignação. A televisão está a passar dos limites e nós... nós continuamos a fingir que isso não é connosco.

O grande Martunis

Há algo mais de quatro anos, Portugal comovia-se com a história do pequeno Martunis que, em Banda Aceh, sobrevivera ao tsunami. Figo, Cristiano, Scolari, empresários de Paços de Ferreira e muita e comovida gente foi solidária com o jovem e creio que se mudou a sua vida para melhor.

Em 2009, encontrei este cidadão embarcando num barco de "carreira", em Banguecoque. Apesar de a fotografia ser má, vê-se a camisola da selecção das quinas... Regozijando-me com o facto de não haver tragédia a relatar, surgem, no entanto, algumas hipóteses de trabalho:
  1. Martunis envelheceu 50 anos em apenas 4 decorridos.
  2. Carlos Queirós, Ronaldo e companhia deviam dar-lhe uma casa.
  3. Deviam dar, mas apenas quando ele cair ao rio.
  4. Este tipo, dado o momento actual da Selecção, nem sabe o que traz vestido.
  5. Uma vez que usa óculos, o senhor pensa que está a usar uma camisola do Kentucky Fried Chicken.

domingo, 21 de junho de 2009

O Bloco


Se por um lado é a CDU que avança, com toda a confiança – assim diz o respectivo slogan eleitoral – por outro, foi o BE quem saiu das eleições a cantar de galo.

A corroborar o sucesso de um discurso populista e, acima de tudo, moralizante (para a usar a definição de Clara Ferreira Alves, há umas semanas, no Eixo do Mal de Nuno Artur Silva) está, desta feita, o sucesso eleitoral do passado dia 7 – três deputados eleitos e a categoria de terceira força política nacional. Com dez anos de história e raízes que são a dos pequenos grupos políticos extremistas do PREC, mergulhados no exemplo de romanescos regimes autoritários e muito longes de obter qualquer expressão eleitoral significativa aquando da fundação da III República Portuguesa, o BE alimenta a curiosidade de muitos. Sobre o seu estilo já têm escrito o João Pedro, a Dulce e o Capitão da casa.

Abanão constante da vida política portuguesa, abdicando muitas vezes de falar de políticas, para falar de pessoas (ainda que Miguel Portas ou Ana Drago façam muitas vezes a alternância), o Bloco, sob a voz inflamada do seu líder, protagoniza acusações violentas, ora directa, ora indirectamente. Ainda ontem, Sábado, na senda das duras críticas que fez ao grupo dos economistas – todos eles de pouca fama, diz Louçã – que promovem o manifesto e o fórum Reavaliar Investimentos PúblicosAntena 1 Louçã não falou nem de investimento público nem de endividamento externo, certamente por motivos ideológicos), não deixou escapar o comentário de que Cavaco Silva não aprendia com o que as bolsas lhe tinham feito – uma espécie de provocação à imagem de que goza o Chefe de Estado. Nesta soma "verdades" de que se acham donos, os responsáveis pelo BE, retomam, no entanto, propostas velhas e pouco criativas. João Marques de Almeida abordava, a 9 de Março no Económico, a crença inabalável na nacionalização da banca [e do sector energético, acrescente-se] como a melhor solução económica para o País (e a avaliar o discurso do BE, as razões estão na classe dirigente). Almeida previa assim o início do caminho que levaria ao fim da economia de mercado e da liberdade económica. E dá o exemplo da indústria alimentar, ensaiando o argumento ‘não se admite que haja capitalistas a ganharem dinheiro à custa da alimentação’, em que o Estado seria, “ao fim de poucos anos [e comprovam-no os exemplos históricos] incapaz de assegurar a existência de bens alimentares”. Ressalvando-se, claro, a elite tradicional de um Estado oligárquico.

Mas voltando ao estilo, é também importante averiguar ampliação que sofreu a mensagem bloquista. Se por um lado a sedução dos mais desfavorecidos é previsível (tenha-se em conta o desemprego crescente), bem como de uma boa parcela de jovens que, assim como eu, não auguram um futuro pleno de oportunidades, o BE comporta agora novos eleitores, provenientes de outras áreas políticas e com diferentes funções sociais. A classe média descrente na política (quase toda), mais abstencionista que votante, e que o Bloco já apaixona, sente-se como que parte de um discurso turbulento e impiedoso, face à elite económica e até política que, neste Estado da Arte, é assumida como um sector terceiro e dividido de todos nós – intolerável numa Democracia (em teoria o governo do povo pelo povo). A classe média descrente, demitida do seu papel cívico e interventivo, fica como que satisfeita, sentindo que o inefável verbo do Xico fez por si só, o papel de fiscalização que ela própria não faz.

Para concluir faça-se a ressalva - muitos políticos dão de barato (possibilitando) este discurso moralista. Isto é, muito boa gente, alimenta a descrença que se converte em votos no BE. E assim sendo, resta-nos constantar que, de cimento ou não, o Bloco vai durar...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Obrigatório!

Repito a recomendação feita aquando da ante-estreia!

Gostei

Mais rio que flores...


Propositadamente, estreei-me na leitura de Miguel Sousa Tavares sem recorrer ao seu maior sucesso, "Equador".

Optei por "Rio das Flores" e confesso que esperava mais...

O livro "dexa-se ler", mas não oferece recorte algum de excelência, nem apresenta algo que nos seduza ao ponto de "devorarmos" as suas páginas.
Parece, aqui e além, pretensioso e cheio dos tradicionais complexos de esquerda que o autor exibe nas suas crónicas.
Não é mau (longe disso), mas não fica na memória.

Não é nada connosco...

Os resultados das recentes eleições para o Parlamento Europeu trazem, a meu ver, uma nota clara e inequívoca: a rejeição da mediocridade da maioria da nossa classe política e, por arrasto, dos partidos do arco da governação (PS, PSD e CDS).

Baseio-me para tal asserção em várias ordens de razão: em primeiro lugar no crescendo do Bloco de Esquerda. É bem verdade que tenho dito que a folia acaba quando forem encurralados pela necessidade de assumir responsabilidades governantes (a queda em desgraça de José Sá Fernandes, na Câmara de Lisboa, atesta-o), mas enquanto o pau vai e volta, folgam as costas dos anarquistas, maoístas e trotskistas que compõem a mais inconsequente força política portuguesa.

Sei ainda que foi por escassas décimas que o BE fez o brilharete de ultrapassar os camaradas marxistas-leninistas do PCP, obtendo o terceiro mandato. Todavia, o facto é que o amealhou, com uma percentagem pouco inferior a 11% dos votos contabilizados. Ora, estando eu seguro de que se interpelarmos 95% das pessoas que votaram no BE elas não saberão detalhar-nos o programa eleitoral dos bloquistas (penso até que mesmo o eleitor mais “viciado” em política teria dificuldade em ver um fio condutor que não seja o de contestar e sabotar o sistema governativo clássico), o que esteve em jogo neste bom resultado foi a falta de respostas satisfatórias no sistema tradicional de partidos e um profundo descontentamento face a condições de vida deterioradas e sem solução à vista pelas mãos dos habituais inquilinos da residência oficial de São Bento.

Com isto fica sumariado o segundo indício de contestação: os dois maiores partidos não “valem” sequer 60% dos votos e o CDS cristalizou entre os 8 e os 10%, não aproveitando a erosão dos partidos entre os quais (vide com Freitas do Amaral) já procurou situar-se como charneira. Aquilo que, há algum tempo, parecia ser o caminho da bipolarização, dá ares, hoje em dia, de fragmentação. Resta saber se risco levará a que se introduza em Portugal o mais conhecido elemento dos sistemas eleitorais maioritários: os círculos uninominais. Mais uma vez teríamos uma reforma eleitoral pelo pior motivo: oportunismo (leia-se, consagrar em esquema a bipolarização que o eleitorado nega na prática).

Em terceiro lugar, entendo que a abstenção é mais um sério aviso a muitos dos nossos políticos; mais de 63% (ou seja, mais de 6 milhões) de eleitores que acharam que não valia a pena ir votar, revelam bem o descontentamento e resignação vigentes. Se há alturas em que a abstenção pode ser um sinal de tranquilidade com o sistema político, os tempos de crise não cabem, seguramente, nesse quadro.

Por fim, creio que tem sido subestimado o número de votos em branco. Trata-se de, aproximadamente, 165.000 pessoas que se deram ao trabalho de ir até à mesa de voto e de “dizer” que não se identificavam com qualquer das forças em confronto. Falamos de quase três lotações do Estádio da Luz ou de seis casas cheias no Cidade de Coimbra. Vendo bem, é muita gente a querer mostrar expressamente a sua rejeição.

O pior de tudo isto é que não sei se os aparelhos partidários – cujos líderes de facção preferem ser reis de coisa nenhuma a príncipes de algo com sentido – sequer perceberam o recado…

domingo, 7 de junho de 2009

Clap, Clap, Clap!

Dou a mão à palmatória. Não votei em Manuela Ferreira Leite nas eleições directas do partido, pese embora sempre a tenha visto como uma dama de ferro com a capacidade e a seriedade que a liderança do meu partido exige. Hoje e nos últimos tempos, tenho vindo a constatar com agrado que a primeira mulher a liderar um partido português sabe o que quer, e não há dúvida que quer o melhor para o PSD. Contra ventos e marés indicou Paulo Rangel para cabeça de lista às Europeias e o resultado está à vista. Ambos estão de parabéns. Agora, só falta mesmo ganhar o país. O Expresso já pergunta aqui se vem aí um Governo de saltos altos. Oxalá...

Tendências

No discurso de apelo ao voto, o Presidente da República optou por uma indiscreta gravata laranja. De qualquer das formas, antes isso que lilás...

sábado, 6 de junho de 2009

Uff!

Perdoai-lhes Senhor...


... que eles não sabem o que dizem.

Num programa sobre juventudes partidárias, um dos jovens representantes do Bloco de Esquerda, com mais piercings que juízo, diz que "a política não deve ser deixada a essa gente" [aos políticos]. A jovem ao lado, colega de militância, brada que "o BE é um partido de Poder!". E pensar que este pseudo-partido pode vir a tornar-se a terceira força partidária...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Uma pipa de massa

Mesmo quem acompanhe com olhar crítico a campanha para as eleições que escolherão os nossos deputados ao Parlamente Europeu arrisca-se a ficar na mesma ou a desaprender…

Senão, vejamos: bem sei que sou suspeito (sou militante), mas entendo que, ainda assim, a campanha mais “europeia” tem sido a de Paulo Rangel. Creio que o ainda líder parlamentar do PSD não só tem elevado nível intelectual e boa preparação académica (se o partido não estiver tão mal como alguns alvitram, há que contar com ele, mesmo noutros cenários directivos), como tem procurado discutir questões verdadeiramente comunitárias, como ilustra o exemplo recente da agricultura e as palavras anteriores sobre o alegado desacerto de determinados usos para os fundos comunitários (designadamente, o TGV). Ajuda a experiência europeia de elementos da lista como Carlos Coelho, ajuda a sensatez do cabeça de lista, mas, ainda assim, tem ido demasiado “a jogo” em mesas de apostas baixas (quando se enreda em polémicas com o PS sobre a presença ou ausência dos líderes e sobre os excessos de linguagem de um candidato socialista – Vital Moreira – que quando mudou do PCP para o PS não actualizou todo o software, como prova a desbragada linguagem “comicieira” da “roubalheira” e catilinárias afins).

Este mesmo Vital Moreira, com toda a sinceridade, deixa pálida imagem da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, de que tanto me orgulho… o Professor anda perdido nos temas mais lamacentos e que usa abusivamente; procurar afectar o resultado do PSD pelo ainda indefinido processo de apuramento de responsabilidades de algumas figuras do Banco Português de Negócios é tão sujo como procurar afectar o resultado do PS com alguns dos casos que procuram ligar ao seu Secretário-Geral, algo com que eu jamais pactuarei. Vital Moreira enrola-se na sua “língua de prata” (“roubalheira”?!), afunda-se no poço da seu desconhecimento sobre o País (troca o nome de minas e não sabe quando a promessa de que se aproveita verá a luz ao fundo do túnel…) e não larga a manga do casaco de José Sócrates, cujo prestígio procura vampirizar, numa tentativa de disfarçar o erro de casting que foi a sua escolha.

Quanto aos demais, Nuno Melo aproveita inteligentemente o papel do CDS no caso BPN (que de Parlamento Europeu tem “zero”, como sói dizer-se), o PCP tenta, ridiculamente, responsabilizar PS e PSD por uma crise que se sabe ser mundial e o Bloco de Esquerda permanece igual a si próprio: acintoso, sem programa coerente e com muita demagogia barata.

O meu receio é que, no fim da campanha, os portugueses apenas continuem a ter do Parlamento Europeu a ideia de que é um lugar onde se arrumam algumas figuras, a ganharem rios de dinheiro… É pouco, convenhamos…

Como combater a abstenção


A julgar pelas listas de candidatos ao Parlamento Europeu, as eleições europeias começam a configurar uma espécie de trapolim para as celebridades 'saltarem' até Bruxelas. Depois das actrizes e modelos que Berlusconi alista, há também um (charmoso, cumpre dizer) princípe italiano (Emmanuel-Philibert de Saboia) e ainda a menina da foto supra, porventura a mais falada de todas as candidatas.

Elena Basescu é a filha mais nova do Presidente da Roménia, tem 28 anos e muito escândalo cor-de-rosa no currículo. É frequentemente apelidada de "Paris Hilton" dos Cárpatos, conhecida pelas suas gaffes e calinadas na gramática e claro, pela presença assídua na noite de Bucareste. Estamos mortinhos por saber o que é que, a ser eleita, levará até Bruxelas.

Nós por cá... contentemo-nos com meia dúzia de tipos maçudos que só sabem falar da Crise e do Tratado Europeu. Não há princípes, nem princesas. Há ex-Ministros da Agricultura (quanto glamour!!), há senhoras que lidam muito bem com a gramática e outras que já sabem o que significa uma cadeira no Parlamento Europeu. Há ainda senhores de farta cabeleira branca que se assemelham aos nossos avôzinhos (e uns outros tantos a sofrer de calvície) e ainda uma escritora da praça.

Graças a deus ainda ninguém se lembrou de nos impingir celebridades. E talvez por isso sejamos o país que regista maiores índices de abstenção nestas eleições... Compreensível. Faltam "motivos" que levem os portugueses às urnas...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sedução à antiga em cenário de engate

Bem podem tentar convencer-me de que há que ver coisas novas, pois nada bate, nas óperas "clássicas", uma cenografia e figurinos clássicos.
Creio não ir muito para fora de pé se afirmar que a opção por "modernices" se faz pela vergonha orçamental que, governo após governo, afecta a Cultura.

De resto, a ópera salva-se, num misto de boas interpretações e de uma ou outra que não apreciei tanto. Todavia, a desconcentração introduzida pela contemporaneidade (e não falo sequer da nudez exibida...:-) leva um bocadinho da magia de Mozart.

Em saldo final, creio que esta temporada lírica do Teatro Nacional de São Carlos superou a anterior (bastava não ter Emmanuel Nunes, mas houve mais do que isso).

Sassetti, Burmester e Laginha

Numa reedição do concerto dado no CCB, Leiria recebeu ontem o concerto de 3 dos mais notáveis pianistas portugueses da actualidade.
Qualquer concerto que os junte é memorável, como não deixou de ser o de ontem!!!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Futebol é isto?


Um estádio mítico, mas votado ao desleixo. Em campo, uma equipa a alinhar com três (!!) portugueses (isto porque Helton ficou na bancada) e uma outra a jogar com pouco mais que isso. Um golo aos seis minutos e mais nada. Nem uma pontinha de emoção. Um jogo entediante, sensaborão, com um vencedor predestinado. Um intervalo sem fim à vista (quase 20 minutos). Até o sol, envergonhado, se escondeu na segunda parte daquilo que era suposto ser uma festa. Depois, uma multidão de gente mal formada, que em vez de festejar a vitória que se adivinhava, preferiu cantar em uníssono palavrões, quando absolutamente nada o justificava. Tudo isto e um Presidente da República (inevitavelmente) acabrunhado e, pior, ignorado pelos jogadores do clube vencido, que na sua maioria o deixaram de mão estendida no final do encontro. Por fim, um clube que, de tanto a provar, já nem sabe a que sabe a vitória.

Quando a Taça de Portugal, a segunda competição mais importante deste país, é aquilo que se viu ontem, então nada de bom se pode augurar ao futebol português...